Amar é crescer junto

Ao meu querido netinho, Lênin

Abenon Menegassi

Ultimamente tenho me deparado com algumas mães que defendem o direito de dar palmadinhas e beliscões em suas crianças. A alegação é de que tais expedientes ajudam na hora de colocar limites. Palmada é passagem ao ato lá onde falhou a simbolização. Assim, sob o pretexto de uma pretensa educação mata-se a mesma e o que poderia ser de mais rico da relação. Sofre a criança que vive seu ente querido se transformar num algoz, sofre este ente querido que, com certeza, colherá em breve os frutos venenosos do que semeou.

Engana-se profundamente quem acredita que uma “palmadinha” é só uma palmadinha. Um tapa, por menos intenso que seja, leva consigo uma rede de significados que causa uma dor e uma devastação tão profunda quanto mil chicotadas. E, pior, não é capaz de produzir o efeito de compreensão, de respeito, de crescimento, de confiança mútua, de amizade e de esperança que a troca simbólica pode promover. Amar é crescer junto. É, sobretudo, reconhecer que o poder precisa ser repensado quando se está diante de alguém em quem você acredita que pode bater. Criar uma criança é uma chance única. Bater é não ter limite sob a pretensão de achar que está dando limite. Outro dia vi, na feira, uma mãe dando palmadas na filinha de uns dois anos. Quanta dor no olhar dessa criança. Quanto ódio no olhar daquela mãe. A garotinha não entendia nada. Acho que o mesmo ódio está contido no coração de qualquer um que se justifica dizendo que dá uma palmadinha para por limite. Tenha certeza, toda ação produz reação e o ódio que se planta é o ódio que se arvora no coração de uma criança açoitada. Sempre é tempo para mudar. Então, ao invés de bater, aproveite a oportunidade da experiência de ser um adulto convivendo com uma criança para reaprender a ser criança, para entender a sua criança interior e a que está diante de você. A experiência que se cria te engrandecerá e você verá que vale a pena correr mais riscos, enfrentar o medo. Acredite, seu pequeno ente querido entende cada palavra que você diz, e ele cresce junto com você em cada palavra que ele também diz a você. Transforme a sua vida e a dele, a cada segundo, cada minuto, cada dia. Sem medo, sem dor. Não leve muito a sério a palavra “educação”.Não torne isso um fardo que você tem que carregar. Brinque com sua criança e trate-a com leveza. Se você deixar a responsabilidade de educar se transformar num monstro dentro da sua cabeça, você vai se apavorar e acabar perdendo toda a confiança em seu filho e em você mesmo (a). Resolva seus grilos interiores e veja na relação com a sua criança a chance de amar a vida e torná-la melhor. Limite não se põe, nem se impõe, limite se constrói.

Abenon Menegassi

18/12/2011