Educação a Distância, a quebra do mito da presencialidade.

Inicialmente, declaro que sou totalmente a favor da modalidade de ensino a distância, porque sempre tive facilidade de compreensão e de estudar sozinho, o que alguns têm chamado de autodidatismo, às vezes no sentido edificador da palavra, que remete a pessoas capazes da suposta proeza de aprender sem professor, o que parece contestável à maioria e, à condição de pessoa de destaque.

Também, em outro sentido e em outra concepção, a palavra autodidata remete a mesma pessoa a uma condição de inferioridade, tendo em vista que se trata de um atrevimento querer aprender sozinho, “reinventando a roda”, querendo aprender de outra forma o que as pessoas mais inteligentes aprendem nos bancos escolares presenciais, sob a batuta dos donos do saber professoral.

Este pensamento, que coaduna com o ensino presencial e age com preconceito contra o estudo a distância é incoerente, mas persiste a muito tempo sem que seja questionado.

O ensino presencial, método reconhecidamente eficaz (contradição, pois há reprovações e pessoas incapazes de se adaptar a esta modalidade ou a “outra em EAD”) parece, em princípio demonstrar total eficiência, pois se trata de um método consagrado e uma prática testada e, portanto, totalmente reconhecida, exceto pela mudança de conteúdos e intensidade ou exigência, vistos aqui ou acolá, que fazem as Havard, USP, Yale etc serem objetos de sonhos. Mas será que os formados nestas instituições são os melhores ou tiveram melhores condições de contato com o conhecimento?

É dificil conseguir sozinho seria uma frase muito ouvida em meu tempo, ou seja, na década de 1980, quando alguém dissesse que iria aprender algo sozinho e, acho que, deve ser assim até hoje.

Minha redação argumentativa, até o momento, representa meu contato e visão da forma de ver e entender o EAD pela maioria das pessoas, que não hesitam em apelidá-lo de MOBRAL, Instituto Universal Brasileiro e outras barbaridades, típicas de quem não compreende o que seja aprender distância e muito menos respeita quem é capaz de fazê-lo e, ainda, por birra, acaba por atacar os cursos realizados em EAD como forma de preservar um status quo de pessoa especial, frequentadora de escolas de ensino superior de renome, o que como sugerimos,parece decorrer muito mais do contato privilegiado com o conhecimento do que de inteligência, tanto que que este tipo de escola ainda exclui os que julga incapazes, ferindo a democaracia do conhecimento. É como se o nome fizesse a inteligência e a capacidade dos alunos melhorar.Um flagrante equívoco.

Penso que, antes sim, os alunos de boa vontade e interessados em aprender, como diria Piaget, é que fazem a boa qualidade dos cursos e não os mais “inteligentes” nem melhor formados, em geral privilegiados pela condição social não extensiva a grupos não simétricos.

Como exemplo da concepção de que autodidatismo ou aprendizado a distância, conforme a História do Mundo retrata, embora se tratasse mais de autodidatismo que de EAD, praticamente todos os grandes feitos da humanidade foram realizados por pessoas autodidatas ou “leigas” ( não aceitas por instituições reconhecidas,mesmo que formadas por elas, o que significa que “avançaram” dentro do conteúdo cognitivo apreendido).

Tais vultos se interessaram em aplicar métodos e processos da ciência ou “ciência”, hoje aceitos e, por acerto e erro ou por sistemáticas próprias, que foram consagradas depois e, alçaram o sucesso que permite ao homem do século XXI viver com tanto conforto e desfrutar de tanta tecnologia e possibilidades, fizeram o que tinha que ser feito.

Estes grandes vultos inventores, descobridores etc, estudaram e aplicaram da sua forma particular os conhecimentos obtidos, como puderam, em busca de uma “verdade”, inclusive considerados loucos, qualidade que ninguém lhes atribuiria nos dias de hoje.

Para resumir Marconi com o rádio, Bell com o telefone, Dumont com o avião, Bens/Chrysler com o automóvel, Ford com a produção em série, o avanço da medicina, que até pouco tempo não curava doenças que hoje são evitadas com uma drágea. Isto foi objeto da dedicação e da ousadia, que foi além do ensinamento do professor, consistindo em um aprendizado a distância, cujos métodos, talvez não fossem aprovados pela Inquisição, pela cátedra de mestres destes ousados ou pela descrença de quem “morreria de fome se a cor da grama mudasse”(desculpe esta impropriedade e colocação politicamente inadequada de chamar quem não concorda comigo de quadrúpede, mas não me contenho às inquisições modernas impedidoras do avanço da qualidade de vida humana e, o EAD representa um destes avanços).

De lá para cá, de 1800 a 2011, tudo evoluiu, apesar de Tesla já ter pensado a internet, sob outro nome, no século 19 e os presencialistas não terem viabilizado sua idéia, sob as ameaças da Inquisição, que talvez visse o Diabo como fomentador da ingênua mente do gênio, o que Bill Gates ajudou a operacionalizar.

Temos, também os Sílvio Santos, os Steve Jobs, os Nieimyier, os Spielberg que aprenderam sozinhos o que fazem e serviram de alavanca para a melhoria do conhecimento e a composição, finalmente, de equipes multidisciplinares, afastando de vez a verdade exclusiva dos vaidosos e dos magister dix versus alumun (seres sem luz) que deu origem à palavra aluno, ou melhor, “você é uma tábula rasa, que não sabe nada e somente é capaz de assimilar o que eu transmitir a você, aluno”.

A questão do estudo por EAD conflita com a descrença do próprio aluno no sistema, pois aprendeu a acreditar em um sistema que lhe transmitisse conhecimentos tetê-a-tetê.

Na ausência deste contexto, passa a agir com insegurança e dúvida, pois acredita piamente que é desprovido de capacidade de aprender e, ainda, não está acostumado a usar toda a tecnologia que lhe permite, 24 h por dia, ir e voltar dentro do conhecimento não fixado ou não bem compreendido ou avançar à frente o quanto possa, sem que ouça que “ainda não aprendeu isso” e, além de interagir com os colegas construindo experiências diversas de “oi, tudo bem?, legal aqui, né?” e, valer-se dos tutores para o saneamento de dúvidas que tiver, qualquer dia e hora, sem falar da extensa bibliografia, com que poderá consultar para sedimentar sua base cognitiva.

O aluno de EAD deve e está sendo considerado por empresas de ponta (quem exerga antes sai na frente), a despeito da entrada de instituições de renome no EAD, como pessoas mais capazes, pois a disciplina, a organização , a capacidade de solucionar problemas, de pesquisar, de interrelacionar-se e de construir novos conhecimentos é conteudo essencial a um bom profissional.

Outrossim as empresas em geral, na dúvida, têm que parar de analisar e avaliar apenas currículos acadêmicos e sim realizar testes práticos com os candidatos para vermos, de fato, quem é melhor, pois, conforme nos mostra a História, por meio dos grandes progressos humanos, nem sempre os tidos e sabidos como os melhores serão os que contribuirão para a melhoria da vida e sua consequente qualidade.

Quanto aos que ainda precisam do método presencial pois não alçaram suas aptidões nem abriram sua mentes a ponto de serem capazes de um aprendizado por meios tecnológicos e, ainda, precisam de um magister, meus respeitos.

Ninguém é igual em capacidade e, de fato, apenas uma minoria consegue se adaptar às inovações , em uma primeira vista, antes de uma aceitação e amadurecimento geral, o que está longe de significar idiotia, senão de quem rechaça e desrespeita as capacidades de quem é capaz de aprender sem o auxílio de um professor.

Mas, com tamanha inteligência e capacidade, dadas pela instituições de renome aos presencialistas, porque ainda não conseguem ver e utilizar os benefícios de uma nova e espetacular ferramenta como o EAD?

Esses e os incapazes de aprender por qualquer método, têm realmente que permanecer no ensino presencial, que representa a aula dia-a-dia, que não pode retroagir ao “ponto que já passou” e que não pode avançar “ao que ainda não se sabe”, num desrespeito afrontivo às diferenças e multiculturalidades humanas, inclusive pelo fato de considerar que EAD é para pessoas carentes ou PNE, quando, parece claro que é para pessoas com a visão e capacidades além da média.

Caberia ao ensino presencial, do alto de sua soberba, criar métodos eficazes de tornar os alunos de qualquer meio social, cultural, étnico etc, capazes de agir com autonomia, reflexividade e criticidade, conduzindo-os a enxergar o mundo de uma forma mais inclusiva, pois o que se faz, exclusivamente, hoje, é discriminar o que presta e o que não presta para o divino ensino presencial, sem o que, os pobres alunos não terão a salvação, o que parece mais doutrinário que libertador, contariando o que veio propor o EAD: liberdade já!!!!

Carlos Munindra

O autor é pós-graduado em Tecnologias e Educação a Distância pela Universidade da Cidade de São Paulo.