Brincadeira: um modo de viver e entender a sexualidade na criança.

Refleções a partir de (Winnicott)

A sexualidade do adulto é determinada na infância e adolescência. Dos adultos Freud chegou a infância e da infância chegou ao adulto. Há uma ligação e reciprocidade entre infância-adulto. Traz o passado, o presente e vice-versa. Um menino que tem amor pela mãe e vê o pai como rival, ou a menina que nutre amor pelo pai e vê a mãe como rival. Essas formas de ser vão definindo o seu comportamento. Por isso, ficam em constantes conflitos. O psicanalista percebeu que não era fantasia, mas fatos reais, pois fisicamente havia ereções, fases de excitação com clímax, impulsos homicidas e um terror específico: o medo da castração. O que Freud chamou de complexo de Édipo. (Winnicott, 168). Porém, nem sempre é assim, pois outros meninos já agem de forma contrária aos primeiros. Têm amor pelo pai do que pela mãe. Por isso, não se deve dar tanta importância ao complexo de Édipo enfatizado por Freud. (Winnicott, pg.168-169). As brincadeiras devem ser observadas e analisadas meticulosamente. É aqui onde constitui o centro e Donald Woods Winnicott se diferencia de Freud. O inconsciente da criança é que demonstrará os seus sentimentos, afeição por pessoas. A menina se depara com o conflito em suas relações físicas mundo físico, provocado por sua rivalidade com a mãe. A menina fica com medo de que a mãe venha atacá-la. Ela também fica com medo da castração como o menino. As crianças identificam-se com os seus progenitores do mesmo sexo ou não. È na infância, na puberdade onde temos os alicerces da sexualidade da pessoa e toda a sua saúde mental. As aberrações, distúrbios, comportamentos psicóticos e anormalidades sexuais da vida adulta são implantadas nos primeiros tempos da infância e da puberdade. No brincar da criança está cheio de idéias e simbolismo sexuais. E se houver uma inibição sexual, haverá uma inibição lúdica. A criança, porém, não brinca com esta intencionalidade. Isto não significa que as brincadeiras sejam sexuais. Elas vão nos sugerindo esses conteúdos, levando-nos à sua sexualidade: bagagens para a vida infanto-juvenil-adulta. A excitação sexual de uma criança se manifesta e tem seu ápice no sono. É no sono onde o corpo encontra habitualmente algum substituto para o completo orgasmo sexual, no urinar na cama, na defecção ou acordar com pesadelos. Por isso, se seu filho (a) urinar na cama, chora ao interrompê-lo de uma brincadeira (...) está ligado a isso. Existem algumas manifestações nas crianças durante o sono. Essa substituição pode ser fornecida pelas refeições, reuniões, excursões, momentos especiais. As brincadeiras são formas de viver a sexualidade de maneira intensa. A criança que não brinca está sendo impedida de viver a sua sexualidade e terá conseqüências sérias na vida adulta. Quando a criança pede para os pais ou responsáveis para brincar mais é que muitas vezes ainda não atingiu o clímax, alto grau de satisfação do orgasmo sexual. Se os pais não atendem aos pedidos da criança e por aborrecimento vai dormir forçadamente, o atraso do clímax vai perturbar a calma da noite. Por isso, é que muitas vezes a criança acorda mal humorada, com pesadelos e terrores noturnos. Foram limitações, tabus, proibições religiosas que, muitas vezes, causaram esses comportamentos (Winnicott,172). As crianças vivem constantemente as fantasias sexuais quando brincam com bonecas, imitando seus pais e mães, até a brincadeira do esconde-esconde tem essa finalidade. Portanto, as crianças têm de brincar para que amanhã não sejam pessoas inibidas, frustradas, deprimidas e fracassadas. Uma criança sexualmente inibida é um adulto inibido. Na medida em que a criança vai se desenvolvendo, o tipo de sexual de excitação vai adquirindo importância em relação a outros tipos de excitação (uretral, anal, cutânea, oral) e na idade de três, quatro anos ou cinco anos (como também na puberdade) torna-se capaz, numa evolução sadia, de dominar as funções, em circunstâncias apropriadas.

D.W.Winnicott, A criança e o seu mundo, Zahar editores,6ª ed., R.J.1982.