Por detrás de uma grande conquista existe uma grande história.

Ao me deparar com uma foto da minha primeira Comunhão eu me perguntei: Que fim levaram meu vestido de organza branca, sapatinhos de “oleado” e meias de nylon?

Aí, o Google Maps, do meu subconsciente, me levou até a década da inocência. E lá estava eu com a costureira Lourdinha, do meu bairro, experimentando o vestidinho cheio de babados como mandava o figurino da revista de moda da época.

Continuei percorrendo o bairro e vi as amigas de minha mãe sentadas nas portas de casa conversando entre si rindo e contando histórias da vida dos outros. Algumas fazendo crochê. Nesse tempo, sem televisão, era comum ficarem folgando após as quatro da tarde, quando os deveres domésticos já estavam terminados.

Os maridos saíam para o trabalho e só chegavam para as refeições feitas por cozinheiras, que moravam em casa das patroas na maioria das vezes. Os afazeres das esposas eram cuidar da prole e do marido.

E as garotinhas? Estão ali brincando de roda, de esconde-esconde, baleado com bolas de borracha e fazendo aniversário de bonecas. Se tinha alguma menina para fazer 15 anos, talvez quisesse aprender a dançar a Valsa com o Sr. Anfilófio, que treinava as mocinhas ao som da música Danúbio Azul, tocada na sua antiga vitrola. Eu iria treinar, porém tive que cancelar a festa dos meus 15 anos porque um tio, irmão de meu pai, faleceu na semana do meu aniversário, e naquele tempo se respeitava o luto. Nunca esqueci a decepção.

Os anos foram se passando e as garotas viraram moças cheias de vaidades, com namoricos no portão de casa vigiadas por pai, irmãos etc. As mais danadinhas davam uma fugidinha quando eram proibidas de namorar. As novenas de mês de Maria na Igrejinha do bairro era o lugar preferido para quem quisesse paquerar os garotos. Nada além de piscada de olho.

Agora vou subir a ladeira e tomar o bonde. Tenho que ir ao centro da cidade com minha mãe que nunca saía sozinha porque meu pai não achava bom. Ela sempre levava um de seus doze filhos com ela. Depois de comprar coisas de casa ou tecidos para a costureira fazer vestido, voltávamos e antes das seis da tarde já estávamos em casa ligando o rádio para ouvir a Ave Maria pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, capital do Brasil nessa época.

Nessa época, década de 50, o tempo demorava muito a passar. Mas o que estava por vir, anos depois, pegou a todos de surpresa. A televisão, computador, internet, celular…

Bem, se antes nem todos tinham telefone fixo imagine o que aconteceu para se adaptarem aos novos tempos.

E as mulheres, de sentadas nas portas passaram a sentar-se em frente à televisão. Quem tinha uma em casa teve que aceitar, como visitas, as que não tinham, nos horários em que os programas estavam no ar. No começo apenas pela noite.

-Hora do Repórter Esso?

-Sim, pode entrar.

Silêncio por favor. Vamos ouvir.

“Tan ran tan tan tan ran”.

Minha avó sentada de frente para tela ajeitava a saia e o joelho pensando que o apresentador a estava vendo também.

O Repórter Esso que antes se ouvia pelo antigo rádio depois migrou do rádio para a primeira emissora de TV chamada TV Tupi. O público ouviria agora não só a voz do locutor, mas também o rosto de Heron Domingues. Anos depois ele foi contratado pela Rede Globo e apresentou o “Jornal Nacional”. Com o tempo e as outras emissoras fazendo seus próprios telejornais, o Repórter Esso perdeu força e audiência. Bem, mas não era só reportagem, vamos assistir a novela agora?

A novela chamava-se O Direito de Nascer. Era o ano de 1964 e durava apenas 30 minutos com um enorme elenco. Meu pai não gostava e se queixava que depois da novela minha mãe não lhe dava mais atenção. Mas ela não deixava escapar um capítulo. As personagens femininas da novela influenciavam muito as mulheres na maneira de vestir, nos penteados, no jeito de se comportar etc., bem diferente dos modos antigos que foram evoluindo como vemos até hoje nos meios de comunicação. Depois vieram outras e outras novelas, e acredito que com o passar do tempo isso contribuiu bastante para que as mulheres passassem a ter voz própria, não se submetendo a domínios machistas.

E a coisa melhorou com a chegada do celular e a internet.

Da década de 60 até a chegada do Celular as mudanças eram a passos lentos.

O primeiro celular do mundo surgiu em 1973 e revolucionou os sistemas de comunicação. Foi desenvolvido pelo engenheiro Martin Cooper. O celular Dynatac 8000X também conhecido como 'The Brick', ou 'O Tijolo'. Foi o próprio engenheiro que fez a sua primeira ligação em 1973, com o protótipo do aparelho.

No Brasil primeiro o celular só foi lançado em 1990, o chamado Motorola PT-550, conhecido como celular tijolão.

Se no começo era apenas para fazermos ligações, o uso da internet foi o que mais ajudou a crescer a comunicação entre os celulares.

Segundo pesquisas a chegada da internet teve início com a Arpanet, já na década de 60.

A internet é atualmente o maior meio de comunicação utilizado no planeta, com mais de 5 bilhões de usuários.

A internet chegou ao Brasil, em 1988, por meio de uma conexão entre um computador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a rede da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, tornando-se pública e comercial entre 1994 e 1995. Atualmente, de acordo com a Pnad, cerca de 90% das residências brasileiras têm acesso à internet através de Celulares (e mais recentemente, smartphones); Redes sociais; E-mail; Aplicativos de mensagens instantâneas; e essa tal de Inteligência Artificial.

Vamos ao que interessa:

Evolução da Mulher do Século XXI.

Se nos tempos remotos nem direito a votar lhe era permitido imagino o que enfrentaram até chegarmos aqui com as redes sociais dominando o mundo.

Nas décadas de 50 e 60 era comum os desfiles de beleza em concurso de Miss, e as mulheres se destacavam pela sua beleza exuberante influenciando modas no meio feminino.

Hoje exerce funções importantes se

dividindo em uma jornada tripla entre trabalho, a família, com muitas tarefas, sem deixar de lado o culto à beleza. Não preciso dizer que isso traz uma carga emocional grande, muitas vezes com ansiedade devido ao receio de perda de cargos ou prejuízos nos relacionamentos.

“Segundo o The Economist, em 1960, apenas 17% das mulheres trabalhavam fora de casa e tinham uma média de seis filhos. Atualmente, 80% das mulheres brasileiras graduadas aspiram trabalhar no cargo mais alto da empresa e, além disso, 27% das mulheres ocupam cargos de chefia. Mas, segundo o IBGE de 2018, elas continuam trabalhando 21h por semana em casa. Essas mudanças definem o perfil da mulher do século 21 e o preço que se paga, para manter-se nessa roda gigante é caro demais porque exige, além da capacidade física, muito esforço cognitivo e intelectual”.

Na prática, hoje em dia, as mulheres ainda encontram problemas estruturais, antigos e novos, que dificultam a busca por igualdade social em todos os aspectos. Apesar da popularização dos debates sobre a igualdade de gêneros, o feminismo e o combate ao machismo, ainda é comum. Temos relatos sobre desigualdades salariais, violência sexual, feminicídio, pouca representatividade política, entre outros.

De todas essas conquistas, a Lei de combate à violência contra a mulher é uma das mais importantes, na minha opinião.

A respeito da Constituição de 1988, onde a Lei reconhece a mulher igual ao homem, às vezes é mal interpretada. É preciso levar em conta uma série de problemas que isto pode gerar, como vemos nos casos de esporte feminino permitindo participação de mulheres trans, porque fisicamente o homem tem músculos mais forte. Os direitos devem ser iguais respeitando a capacidade de cada um, não apenas o sexo.

Leis podem ser criadas, mas não impostas. Cabe à mulher lutar para conseguir seu direito ao que deseja como ser humano. E isso a mulher tem feito através dos séculos e muito bem. Temos vários exemplos no mundo todo, como é o caso de mulheres eleitas Presidentes, líderes políticas, ocupando cargos importantes em empresas etc. E, recentemente, estamos vendo países onde as mulheres eram proibidas de dirigir automóveis, ganhando espaço nas ruas, como o caso da Arábia Saudita, um país ainda com leis muito rígidas em relação aos direitos das mulheres.

Espero que todas essas mudanças conquistadas pelas mulheres tenham vindo para o bem da harmonia entre ambos os sexos, afinal somos todos humanos.

Autora:

Darcy Brito

Biografia:

Professora de Biologia Aposentada e escritora com vários livros publicados dentre eles romances, contos

Este Artigo faz parte de uma Coletânea que participo “MULHERES QUE ATRAVESSARAM O SÉCULO “ editado por Planeta Azul Editora e lançado em Março de 2024