NO PALCO DA ILUSÃO

NO PALCO DA ILUSÃO

ANTONIO OLIVEIRA SANTOS

(TON POESIA)

ITABUNA - BAHIA

PRIMAVERA DE 2023

DEDICATÓRIA

À Rosalina: mãe biológica; a Isabel: mãe criadora; a Dircinha: professora primeira e a Siomara Lucia: esposa primeira por 46 anos! Quatro águias em forma mulheres! As quatro citadas senhoras; fortes como o jequitibá, na defesa de suas justas causas, por elas concebidas!

Enviadas por Deus, cada uma delas em seu tempo e no seu espaço e no modo de ser: atuaram culturalmente como faróis, iluminando meus caminhos e como divisoras de águas foram determinantes para que eu chegasse até essa etapa da vida com segurança e tranquilidade, dedico!

AGRADECIMENTO

Ao Senhor Deus de Abraão! Este que me nutre de saúde conhecimento e determinação, para que eu possa realizar com sucesso meu sonho de plantar uma semente literária pelos campos devezes da humana imaginação...

...E conhecereis a verdade e a verdade vos

libertará...

Jesus Cristo

SOBRE O AUTOR

Antonio Oliveira Santos artisticamente reconhecido como Ton Poesia nasceu na zona rural pertencente ao município de Uruçuca Bahia, aos 16 dias do mês de julho de 1956. Seus pais biológicos se separaram no ano de seu nascimento. Tão logo desmamado a então jovem Rosalina Barreto sua mãe, o deixou sob os cuidados de seu Cândido Oliveira e dona Izabel Mota. Nesse momento circunstancial da vida, Antônio Ferreira seu pai, já havia partido de volta para Santa Luz no sertão da Bahia sua terra natal. Em 1977 Antonio Oliveira conhece Siomara Lucia Dias com quem se casa e tem duas filhas: Emanuelle Dias e Danielle Dias . A primeira gerou a Isis Oliveira e a segunda gerou a Guilherme Novais e Davi Novais. Ton Poesia é ativista social, filosofo, escritor, poeta, ator, gestor cultural, gestor de equipamentos públicos, e mediador de conflitos comunitários! Quanto à Siomara Lúcia Dias única esposa com quem o autor viveu por 46 anos, saiu de cena em abril de 2023; nesse momento ela, Siomara dorme juntamente com seus pais. Enquanto isso, Antônio Oliveira Santos o Ton Poesia, segue a ordem da vida pela esfera da cultura, da arte literária: prosando, recitando, denunciando, aplaudindo, rindo, chorando, ensinando e aprendendo e graças a Deus: ainda sobrevivendo!!!

RESUMO

Caro leitor! Este livro é composto de conteudos que me permitem dividi-los em três temas centrais. No tema primeiro pretendo mostrar a condição humana de decadência desenvolvida a partir do pensamento de Martin Heidegger, explicitado em sua magnifica obra denominada: Ser e Tempo. No segundo tema interessa-nos compreender como se montar performances teatrais de media e curta duração, através dos textos literarios de minha propria produção. Já no tema terceiro encontrarás meus pensamentos mais apreciados no Recanto das Letras, o site da minha escrivinhação. No Palco da Ilusão é formado de um artigo acadêmico a mim solicitado para compor a quarta edição do seminário interno de pesquisa em filosofia - SIPESF, realizado no ano de 2009 pelo departamento de filosofia e ciências humanas da Universidade Estadual de Santa Cruz - Uesc. Há também um monólogo, com 1h de duraçao para o teatro e contém textos diversos tanto em prosa quanto em versos: ideais para apresentação de performances em ambientes compostos de público eclético e feliz! Boa leitura!!

SUMÁRIO

DAS IMAGINAÇÕES............

DAS INTERPRETAÇÕES.............

O HOMEM NA SUA MAIS PROPRIA CONDIÇAO, EM SER E TEMPO: A DECADÊNCIA.................

A DECADENCIA DO DASAEIN...........

SOBRE O FALATORIO.................

SOBRE A CURIOSIDADE............

SOBRE O EQUÍVOCO...........

SOBRE A DECAFÊNCIA............

APRESENTAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS.........

A MALA DA DECADÊNCIA......

APRESENTAÇÃO.........

REENCONTRO..........

PANDORA........

AGLARIUS........

PELAS TERRAS DO SEM FIM.....

LAROSA......

A SOMBRA......

POR QUE CHORAS.......

METAMORFOSE........

RIO CACHOEIRA.........

MULHER BRASILEIRA........

A VIDA. . ......

COLETANEA DE PENSAMENTOS PARA ELABORAÇAO DE PERFORMANCES.....

ALEGORIA DO VEADO........

A PROCLAMACÃO DA TITIA......

O TEMPLO DO PICARETA.......

O PROFESSOR.......

BANQUETE FINAL......

NOS CAMPOS DA POESIA......

DAS CRISÁLIDAS.......

FANTASMAS NOTURNOS.......

OLHOS OCIDENTAIS.......

NO MONTE DOS URUBUS........

FELICIDADE.......

URGENCIAS......

O CIRCO.......

A REALIDADE DO ESPELHO DA ILUSÃO.....

FOI ASSIM.......

RAÇAO DAS SEMENTES........

QUEDA UNIVERSAL.....

ESCADA DA VIDA...

O MARTELO....

BILL E BELL.......

TUDO E NADA........

ILUSÕES.......

SIMPLES.....

SONHOS.....

SER E NÃO SER.. .

SABERES....

ESCRITAS DIFAMATÓRIASí....

O CAPETA....

O SER MULHER...

TEMPO...

BANCO DO PEDRO....

CAIU E LEVANTOU....

HOMENS....

COISA PERDIDA....

ABANDONO....

SUMIR NO OCO DO MUNDO....

FOLHAS TRITURADAS....

A VIRGULA....

LAGRIMAS PONTIAGUDAS....

MURIÇOCA....

FELICIDADE....

COMPULSORIA VIAGEM....

PEDRAS....

AS FLORES.....

A TURBA....

A SOLIDÃO....

O CLICHÊ....

O SEGREDO....

VINHO DOCE....

TRANSMUTAÇÃO....

CRIATURA ABISSAL....

O SILÊNCIO......

VERDADE UNIVERSAL.....

BORBOLETAS....

QUARTA CINZENTA....

A CHUVA.....

BEIJA-FLOR...

A RODA......

BELO EFÊMERO......

O TEMPO QUE PASSA....

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......

DAS IMAGINAÇÕES

CENA ÚNICA - O ator entra dramatizando o texto em prosa:

Na noite passada não sei exatamente o que eu fiz, sei apenas que venci uma maratona com duzentos milhões de concorrentes: cheguei primeiro às trompas uterinas. Naquele tempo embrionário fiquei por lá, me unindo à outra metade, onde nos tornamos “Eu"!

Os outros gametas perderam-se na noite, e foram expulsos do campo de batalha por um tsunami urinário. Quando raiou o dia, tive uma reação de estranheza no meio de toda aquela gente, então, chorei desesperadamente.

Ainda bem cedinho, mas já caminhando sobre duas pernas, perambulei pelas relvas campineiras um tanto encabulado com o rangido das gameleiras. Arrepios horripilantes me torturaram na margem do riacho que engoliu a criança na véspera do seu quinto aniversario.

Por volta das dez horas, acreditei que ao meio dia, encontraria respostas para tantas perguntas que ofuscavam minhas visões. Mas Justamente ao meio dia me embriaguei com novas questões. Quando achei ter encontrado as respostas, a vida elaborou-me novas interrogações. Por outro lado, ao meio dia, o rangido das gameleiras já não fazia mais nenhum sentido: os monstros imaginários eram o que me preocupavam.

Às 13 horas, o calor das comparações heterogêneas me consumia. Naquele tempo, fixei meu olhar no horizonte e vir aqueles que mergulharam na noite nas primeiras horas do dia. E agora, o que fazem agora?

Exatamente às quatorze horas, imaginei que lá pelas quinze encontraria a trilha das certezas: mero engano! Depois das quinze as incertezas aumentam! Aquilo que de manhã parecia belo e acabado agora se mostra sem brilho e desbotado.

É pela tarde que o tempo revela a fragilidade das fortalezas. De tarde a luz do tempo clareia e desvela impiedosamente o amor humano, demasiadamente humano, de braços dados com ódio. Cuidado: conspiram contra nós!

Nós, que nós, todos nós? Não só nós, os que rejeitam os equívocos da hermenêutica. Meu Deus, podia ser diferente, e se fosse diferente, seria melhor ou pior?

São 16 horas, o cansaço me produz uoma leseira ainda caminho sobre duas pernas não sei se vou precisar da terceira. A propósito, nunca mais passei pelo bambuzal mal assombrado, mas os monstros imaginários migraram de lá e hoje habitam nas tempestades que me acompanham.

As tempestades às vezes são de vento, às vezes são de fogo. Mas, são distintas dos monstros. Estes são abstratos e parecem transcendentais, aquelas são concretas e residem nas causas dos efeitos factuais.

Chegamos enfim, a décima sétima hora do dia, já sinto o frio boreal e começo a perceber os sinais do ocaso ocidental! A minha noite se aproxima! Cada indivíduo tem sua própria noite, e todos a encontrarão num tempo determinado ou não.

Mas a noite vira, virá: virá porque o dia é apenas uma suspensão temporária espremida entre duas noites! Querem saber de uma coisa? Esqueçam os monstros, evitem as tempestades e se preparem para noite é pra lá que caminhamos.

DAS INTERPRETAÇÕES

Tudo que existe funda-se na verdade de sua existência, em sua essência. Percebo as coisas existentes, os fenômenos, mas não compreendo satisfatoriamente as suas verdades ocultas, suas essências; por causa do movimento e da transitoriedade que lhe são inerentes.

Por outro lado minhas faculdades promotoras de conhecimentos, (visão, tato, olfato, paladar e audição) são caóticas, me geram dúvidas e conhecimentos medianos Dessa forma a coisa não compreendida plenamente é equivocadamente comunicada através da fala, da escrita, dos gestos...

Tal comunicação que muitas vezes também está carregada de determinações e intencionalidades acabam cada vez mais velando e dissimulando o ente em questão! De acordo com Aristóteles, quanto mais se aumenta a extensão, mais se diminui a possibilidade de compreensão sobre a coisa estendida.

Dessa forma ouvir menos o discurso vão, melhorará muito nossa capacidade de interpretação sobre o fenomeno apreendido pela visão e pela audição. Ora, as línguas desesperadamente falam e os ouvidos tranquilamente ouvem. Estes ensinam, àqueles depravam!

O HOMEM NA SUA MAIS PRÓPRIA

CONDIÇÃO, EM SER E TEMPO: A

DECADÊNCIA

A vida cotidiana fez do homem um ser cansado de si próprio que inserido no contexto histórico social se entrega ao banal e ao anonimato. Vivendo de pensamentos e ideias acabadas - faz-se um ser decadente. Assim sendo interessa-nos, na análise ontológico existencial de Heidegger, compreender quais fenômenos influenciam o homem e quais os caminhos que ele percorre para tornar-se um ser decadente.

Ser e Tempo¹ recolocará a questão do ser abordando-a a partir do fenômeno da linguagem em seus diferentes modos de manifestação inautêntica e autêntica, que o desvela a medida que o faz ver nas relações que o homem estabelece como as coisas, consigo mesmo e com os outros.

O modo da inautenticidade no qual o homem se encontra no mundo revela o próprio modo de ser cotidiano, onde nos encontrarmos numa existência imediata, na qual tendemos a caminhar em direção a um horizonte que dimensiona o nosso fazer de forma superficial. Tal horizonte abre um discurso que

¹HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Marcia S. Cavalcante Schuback. Petropolis: Vozes, 2006. Doravante a referida obra será citada da seguinte forma: ST

previamente lança o homem a uma compreensão sempre mediana acerca do mundo, assim sendo, o homem terá a compreensão de tudo já ter compreendido.

A partir do horizonte que tece o mundo de forma impessoal através da fala do outro é que se percebe a medianidade: permitir a outrem determinar o modo como devemos existir no mundo consiste no que Heidegger chama de medianidade.

Compreende-se assim que esses modos fundamentais de existência: modo autentico e modo inautêntico traduzem a ação do homem no tecer do mundo. O autor chama atenção para o fato de que a decadência da presença não deve ser compreendida como algo negativo como aquilo que decaiu no mundo de um estado superior para um estado inferior.

Decadência representa apenas o modo imediato como existimos no mundo, ou seja, consiste no empenhar-se na convivência mediana. A presença é o movimento constitutivo que permite o ser se realizar no mundo e, quando essa decai ele se vê abrigada nos fenômenos do cotidiano, falatório, curiosidade e ambiguidade (ST, p. 240).

Segundo Heidegger, pode-se pensar na decadência como uma determinação da própria presença (ST, p. 243), pelo fato de esta acontecer e se revelar na própria presença como tentação. No discurso cotidiano pela publicidade, surge a tentação.

Por este discurso nós sentimos sempre tentados pela novidade, ou pela fala do outro; com outras palavras, diremos que a tentação se vê abarcada pelo caráter impessoal do discurso do falatorio, é da ambiguidade. Põe essa via, o tentado se nutrirá da pretensão de que tudo já foi compreendido.

Esse caráter acompanha a segunda característica da decadência a sensação de tranquilidade. Por intermédio da tranquilidade, o homem alimentará sua ilusão de que tudo foi compreendido universalmente.

Dessa forma, tomado por essa sensação, o tentado se lançará na busca pela ultima novidade, isso se deve a pretensão de ter esgotado todas as possibilidades na relação dele com o mundo.

Assim o mundo passa a ser visto como velho, surgindo a necessidade do tentado pelo novo.. por isso, o autor compreende o ser-no-mundo decadente em si mesmo, tanto tentador como tranquilizante e também alienante (ST, p. 243).

Assim, a decadência, em Ser e Tempo, pretende abarcar a temática exposta acima, objetivando-se numa compreensão plena do termo de-cadência, ou melhor, do que seja o homem decadente no pensamento de Martin Heidegger, para alcançar nosso objetivo, dividiremos nossa pesquisa em três capítulos, com seus respectivos tópicos, a fim de melhor desenvolvermos uma reflexão filosófica com nada na compreensão heideggeriana.

No capítulo 1, abordaremos o que o autor coloca como problema filosófico fundamental: a questão do ser, seu sentido e sua verdade. No capítulo 2, trataremos do método fenomenológico, pelo qual, intuitivamente conheceremos os objetivos tais como se apresentam imediatamente à consciência. No capítulo 3, tentaremos elucidar o problema " o que é decadência, e quais fenômenos operam para que ela seja uma realidade na vida do ser humano".

Nesta perspectiva, desenvolveremos uma proposta interpretativa e investigativa sobre o conceito decadência no pensamento de Heidegger, evidenciando uma proposta de leitura crítico reflexiva da realidade do homem enquanto ser-no-mundo.

A DECADÊNCIA DO DASAEIN

Acabamos de analisar os caracteres Exintenciais constitutivos do ser do Dasaein. Ao fazê-lo, nos distanciamos da sua cotidianidade. Ora o Dasaein está lançado no mundo onde se deixa dominar pelo impessoal (o nos).

Neste capítulo, o que analisaremos é: o que acontece aos existenciais do Dasein no modo de ser do impessoal? Aqui Heidegger analisará o homem enquanto lançado no mundo; estar lançado é estar caído. O Dasein caído está fora de si mesmo em um mundo que o esmaga.

Sem abrigo, o Dasaein está expulso pela ex-sistencia. Ele busca habitar em alguma ilha, porém, em vão uma vez que é da natureza do seu ser ex-sistir, cair fora de si mesmo; a queda a que o autor se refere é a da palavra no falatório, do compreender na curiosidade, a do autentico no inautentico, no equivoco e na ambiguidade.

SOBRE O FALATORIO

Propenso para recusar a si mesmo, inclinado à tentação física do impessoal (o nós), o Dasein é conduzido ao falatório. No entanto o termo das Gerede não deve ser concebido pejorativamente; sua interpretação é ontológica.

Diferentemente de uma crítica moralizante, o termo falatório tem um sentido positivo, uma vez que constitui o modo de ser do compreender e do explicitar o Dasein cotidiano. Falar nada mais é que comunicar. A comunicação consiste basicamente em fazer participar aquele que escuta na palavra daquele que fala.

O falatório é meramente falar por falar, sem que haja uma compreensão plena sobre aquilo que se fala. Dessa forma, compreende-se a palavra, mas não se compreende de forma plena o objeto da palavra. A comunicação que valoriza mais o falante do que o falado deixa de comunicar.

O discurso mão se lembra da relação do ser com o ente de que fala e a comunicação restringe-se a repetição do próprio discurso. Este discurso alongando-se a números cada vez maior de ouvintes, toma um caráter autoritário: as coisas são assim porque é assim que delas se dizem.

Ora a comunicaçao não partilha a referência ontológica primordial com o referencial da fala, mas a convivência se move dentro de uma fala comum e numa ocupação com o falado. O seu esforço é apenas para que se fale. A fala perdeu ou jamais tenha alcançado a referência ontológica primária ao referencial da fala. Assim, conforme Heidegger:

O falado na falação arrasta consigo

círculos cada vez mais amplos

assumindo um caráter autoritário. As

coisas são assim como são porque é

assim que delas (impessoalmente)

se fala. Repetindo e passando adiante

a fala, potencia-se a fala de solidez .

Nisso se constitui a falação. A falação

não se restringe apenas à repetição

oral da fala, mas expande- se no que se

escreve enquanto "escrivinhação".

Aqui a repetição da fala não se funda

tanto no ouvir dizer. Ela se alimenta do

que lê. A compreensão mediana do leitor

nunca poderá distinguir o que

foi haurido e conquistado originariamente

do que não passa de mera repetição.

E mais ainda a própria compreensão.

mediana mão tolera tal distinção, pois.

não necessita dela já que tudo

compreende (ST, 2006, p. 232).

Dessa forma, o falatório consiste apenas numa cisão entre as palavras e as coisas, entre o discurso e o objeto. O falatório nada mais é do que uma repetição de palavras, o homem, tomado por esse mode de ser, julga tudo compreender, mas é apenas vacuidade: é a possibilidade de tudo compreender sem a devida apropriação prévia da coisa a ser compreendida.

Uma vez que nada se tem para compreender todo mundo acha que tudo compreende! É assim que se dá o discurso dos faladores perante o público ouvinte. A repetição generalizada aumenta a distâniicia entre o falante e o objeto de que se fala.

Como consequência direta dessa prática, o desvelado torna-se dissimulado. E esta dissimulação inconsciente é natural ao falatório. O Dasein circunscrito ao falatório é enquanto ser-no-mundo tolhido de suas relações ontológica fundamentais, originais e autênticas no mundo, pois o caráter dissimulador do falatório o tem desenraizado.

Na condição de ser desenraizado, ele está fora de sí. Mover-se no sentido de sair do falatório é subtrair-se à ditadura do impessoal (nos); isto consiste na tomada de conhecimento da sua condição de exilado, de estar caído, sem contudo, trazer solução a ex-sistencia do ser. Assim, para Heidegger, esse tipo de interpretação própria do falatório já se consolidou no homem. É dessa forma que aprendemos e conhecemos muitas coisas. É assim também que muitas coisas jamais conseguem ultrapassar uma tal compreensão mediana.

O Dasein jamais consegue subtrair-se ou negar-se a essa interpretação cotidiana em que ela cresce. Não é possível um Dasein que, não sendo tocado nem desviado pela interpretação mediana, pudesse colocar-se diante da paisagem livre de um mundo em si, para somente dá-se a contemplação do que lhe vem ao encontro.

A hegemonia da interpretação pública já determinou até mesmo sobre as possibilidades de sintonização com o humor, isto é, sobre o modo fundamental em que o Dasein é tocado pelo mundo; o impessoal determina o quê é como se vê.

SOBRE A CURIOSIDADE

Assim como o falatório é a degradação do discurso, a curiosidade é a degradação da compreensão cotidiana; compreender é pro-jectar, é ver o que se descobre, o que se abre. A abertura pela qual o ser se lança no mundo é como um raio de luz que clareia e permite ver o ser aí lançado.

No entanto, Heidegger nos adverte que o ver deve ser interpretado como uma tendência ontológica do Dasein; dessa forma o ver não pode ser interpretado onticamente. O ver é um existencial do Dasein:

A constituição fundamental da visão

mostra - se numa tendência ontológica

para "ver", própria da cotidianidade.

Nos a designamos com o termo

curisidade, em suas características a

curiosidade não se limita a ver exprimindo

a tendência para um tipo especiaL de

encontro perceptivo com o mundo.

Interpretamos esse fenômeno como um

propósito fundamentalmente ontologico-

existencial (ST, p.234).

Influenciado pela ação do impessoal na vida cotidiana, o ver transforma-se em curiosidade; o Dasein é um ser preocupado, enquanto alguém que procura utensílios que lhe permitam construir um abrigo. Nesta ininterrupta tarefa, por vezes ele precisa parar e repousar.

Nesse momento de repouso a preocupação não desaparece e o olhar continua a dirigir-se ao redor. No entanto, dirige-se para o nada, para o vazio, no sentido de que já não vê objetos que possam ser utilizados como utensílios.

Apaziguado então, o Dasein não vê mais nada à mão com que se preocupar em aproximar. Em outras palavras o autor está dizendo que, no descanso, a ocupação não desaparece; a circuncisão é que, sem dúvida, se libera por não mais se achar comprometida com o mundo do trabalho.

No reposo a cura se recolhe à

liberdade da circuncisão. A descoberta do

mundo do trabalho, própria da circuncisão,

tem o caráter ontológico do dis-tanciar. A

circunv.isão liberada já não tem mais nada à

mão, de cuja proximidade tivesse de se

ocupar. Sendo essencialmente em dis-

tanciando, cria para si novas possibilidades

de distanciar. isto significa, tende e se

movimenta partindo do que se acha mais

proximamente à mão, rumo ao mundo

distante e estranho (ST, p.236)

Dessa forma, o ser-no-mundo busca o distante apenas para torna-lo, em seu aspecto, próximo de si; o Dasein só se deixa arrastar pelo aspecto do mundo. Ele já não procura compreender o que vê. Essa forma de ver circunscreve-se apenas ao que ver, por ver e é justamente isso que Heidegger compreende por curiosidade.

Interessa a curiosidade apenas o ver, não para compreender o que foi visto, mas simplesmente para ver. Tomado pela curiosidade o homem procura desesperadamente pelo novo em si mesmo. Arrastado pelas aparências sempre transitórias e mutáveis, ele abandona-se ao mundo sempre a caça de novas possibilidades de diversão.

O Dasaein não consegue permanecer de forma estável no mundo da preocupação, mundo este onde os entes constantemente se lhe oferecem como utensílios, objetos à mão. Atordoado pela inquietude da preocupação o Dasaein não se dá a contemplação, mas vive a procura duma renovação constante.

Mergulhado numa existência rodopiante, ele está completamente absorvido pela curiosidade e disperso em novas possibilidades que surgem a cada instante de todo lado e de parte alguma. Esse modo de ser, da curiosidade, revela o que Heidegger chamará de desenraizamento, no qual o ser se encontra fora de si, cuja ex-sistencia constitui numa queda rodopiante.

A curiosidade é regida em seus caminhos pelo falatório, é este que determina o quê eu devo ler ou ver. Está em toda parte e em parte alguma da curiosidade é entregar-se a responsabilidade do falatório. Esses dois modos de ser cotidianos da fala e da visão não estão juntos em suas tendências de desenraizamento mas, um modo de ser arrasta consigo o outro modo de ser.

Ora o falatório que tudo compreende e a curiosidade que nada perde dão ao homem que assim existe, a garantia de uma vida pretenciosamrnte autentica, uma vida cheia de vida. Com essa pretençao surge o terceiro fenômeno característico da abertura do ser- no-mundo, a saber, a ambiguidade ou o equivoco.

SOBRE O EQUÍVOCO

O equivoco oferece a curiosidade o que ela busca e concede ao falatório a aparência de que nele tudo se decide. Todo mundo está ligado no comportamento do outro, no que o outro diz, no que veste. Segundo Heidegger a convivência no impessoal consiste em prestar atenção uns nos outros de forma ambígua e tensa.

Vivem escutando uns aos outros as escondidas: sob a máscara do ser um para o outro, atua o ser um contra o outro. O equivoco constitui também o modo cotidiano da explicitação; é aquilo que, apesar de possuir o mesmo nome, se reveste de dois sentidos diferentes por exemplo, cão, simultaneamente quer dizer animal e constelação.

Utilizar equivocadamente um palavrão consiste em tomar uma coisa por outra. Em Ser e Tempo, o equivoco se refere a confusão entre o compreender autêntico e o compreender inautêntico. Quando o nosso ser-em-comum cotidiano encontra o que é acessível a qualquer um e sobre o qual qualquer um pode dizer tudo e nada, ou seja, se a convivência cotidiana tanto o que é acessível a todo mundo quanto àquilo de que todo mundo pode dizer qualquer coisa vem ao encontro, então, já não mais se poderá distinguir autenticamente, o que se abre do que não se abre.

Este equívoco entende-se ao mundo, ao ser-com-outrem , ao ser do próprio Dasaein em relação à si mesmo. Por isso Heidegger (p. 238) diz: "Tudo parece ter sido compreendidos, captado e discutido autenticamente quando, no fundo, não foi. Ou então parece que não foi, quando no fundo, já foi".

Sabe-se por ouvir dizer, conjetura-se, imagina-se, presente-se, suspeita-se, segue-se a pista da inautenticidade. Abafam-se as possibilidades de forma embrionária no Dasaein. Para o autor, essa atitude de estar na pista verdadeira a partir do ouvir dizer - quem autenticamente está na pista não fala sobre isso - é o modo mais traiçoeiro da ambiguidade sufocar o homem em sua força.

Sufocados na inautenticidade, todos não somente conhecem e discutem as ocorrências como também já sabem falar sobre os acontecimentos futuristas. Todos pressentem e farejam de antemão o que os outros já pressintiram e farejaram:

A ambiguidade da interpretação

pública proporciona às falas

adiantadas e os pressentimentos

curiosas com relação ao que

propriamente acontece, carimbando

assim as realizações e as ações com

o selo de retardatário e insignificante.

Desse modo, no impessoal, o

compreender da presença não vê

a si mesmo em seus projetos,

no tocante as possibilidades

ontológica autênticas. A presença

é e está sempre por ai de modo

ambíguo, ou seja, por aí na abertura

pública da convivência, onde a

falaçao mais intensa e a curiosidade

mais aguda controlam o negócio,

o de cotidianamente tudo é, no

fundo nada acontece (ST,p.239).

Esses três fenômenos, falatório, curiosidade e equivoco ou ambiguidade implicam-se mutuamente. Há entre eles uma conexão de ser; tal conexão constituirá o objeto duma interpretação ontológica, um modo de ser fundamental da existência cotidiana, o qual será concebido por Heidegger como decadência.

SOBRE A DECADÊNCIA

Em Ser e Tempo, decadência refere-se a um caráter existencial do ser-no-mundo, ou seja, representa um estado constitutivo do ser do Dasein. Ao termo decadência não se deve dar qualquer valor negativo; pretende-se apenas indicar que o Dasein, na maior parte das vezes, se encontra no mundo das ocupações.

Por si mesmo, e em seu próprio poder-ser si mesmo mais autêntico, o Dasein já sempre caiu de si mesmo e decaiu no mundo. Decair no mundo, diz Heidegger, é empenhar-se na convivência, na medida em que esta é conduzida pelo falatório, pela curiosidade e pelo equívoco.

O ser é sempre o ser do ente, ele pertence ao ente, assim sendo, está desapontado de si mesmo, por isso, ex-siste. Ex-sistir é constantemente sair-se de si mesmo. Logo, o ser não pertence a si próprio, mas ao ente. A decadência também não pode ser apreendida como uma queda de um estado original superior.

Não se trata portando, do pecado original, este por sua vez, pressupõe uma relação entre o Ser e o ente considerados como criador e criatura. Esta dimensão ontológica da queda do ser no ente, do ente no mundo, no impessoal exclui qualquer dimensão ética, assim afirma Pasquá.

A Decadência determina o ser do Dasein, por esse motivo, é um existencial, um modo fundamental de ser da cotidianidade, ou seja, a decadência é o próprio ser do Dasaein: afinal, ele precipita-se de si mesmo em si mesmo.

O falatório abre para o Dasaein, o ser em compreendendo, para o seu mundo, para os outros e para consigo mesmo, porém, de maneira que esse ser mantenha o modo de uma oscilação sem solidez. A curiosidade abre todas as coisas, de forma que o ser-em esteja em toda parte e em parte alguma.

O equivoco não esconde a compreensão do Dasein no entanto só o faz para rebaixa-lo ao desenraizamento do em toda parte e em parte nenhuma. Se contudo no falatório e na interpretação pública. Dasein confere a sí mesmo a possibilidade de se perder no impessoal e de decair na falta de solidez, é porque ele próprio prepara para si mesmo a tentação de decair, logo o ser-no-mundo é em si mesmo tentador.

Por outro lado, a certeza de si mesmo e a decisão do impessoal espalham a certeza da compreensão própria. A pretensão do impessoal de dirigir toda vida autêntica tranquiliza o Dasein, dando a impressão de que tudo está em ordem, assim o ser-no-mundo da decadência é, em si mesmo, tanto tentador como tranquilizante

Essa tranquilidade move o Dasein para as promoções enlouquecedoras; o decair no mundo já não mais repousa e a tranquilidade tentadora aumenta a decadência. A curiosidade e a inquietação de tudo saber gera a ilusória compreensão universal do Dasaein.

No entanto o que é necessário compreender permanece no fundo inquestionado. Esse modo tranquilo de achar que tudo arrasta o Dasein para uma alienação na qual se lhe encobre o seu pode-ser mais próprio, por isso diz Heidegger: " O ser-no-mundo decadente, tentador e tranquilizante é também alienante" (ST, p.243).

Estes fenômenos aqui desvelados tentação, tranquilidade, alienação e aprisionamento, caracterizam o modo de ser da decadência. A mobilidade do Dasein em seu próprio ser, o autor chamará de precipitaçao; o ser-no-mundo se precipita de si mesmo para si mesmo na falta de solidez e na nulidade de sua vida imprópria.

A Decadência é um conceito ontológico em movimento. O modo de ser cotidiano da abertura caracteriza-se pelo falatório, pela curiosidade e pelo equívoco. Todas as características mostram a mobilidade da decadência em seus caracteres essências de tentação, tranquilidade, alienação e aprisionamento.

A descrição heideggeriana sobre a existência inautêntica, dará conta de que a inautenticidade consiste numa fuga. O homem foge nas diatraçoes lancando-se numa ação trepidante. Mas não compreende ainda que esta fuga, que distrair-se, não é a fuga de sua condição, mas a sua propria condição. Dessa forma, ele só começará viver de modo autêntico quando se der conta de que ser é ex-sistir, é cair em queda livre no nada da morte.

CONSIDERAÇOES FINAIS

Existindo passamos pela existência sem percebê-la, de forma inautêntica, somos faticamente jogados no mundo. Buscamos sempre no outro a nossa própria existência. Vivemos coisificados e diante de nossa impotência de seres finitos não conseguimos apreender nosso próprio significado.

Em nossa mediocridade dissimulada em cognição, não percebemos que nós deixamos ser conduzidos por sentimentos mesquinhos e egoístas. A medinianidade não nos permite abrir as portas das possibilidades autênticas de ser sempre nos mesmos.

Alienado o homem se encontra fora das coisas, nunca sendo totalmente absorvidos por elas. Mas não obstante, não sendo nada sem elas; vive no mundo, no qual ele foi jogado no meio dos objetos intramundanos. Entregando-se a uma rotina de superficialidade públicas, na via cotidiana, o homem encobre os condicionantes existenciais, aquilo que ele de fato é.

Não é então ninguém em particular, e através de uma estrutura que Heidegger chama "das man" (o impessoal), é revelado como uma tendência de alienação de si mesmo que leva o homem a tendência de apenas se conhecer através de comparações que faz de si mesmo com os outros indivíduos seus pares.

Segundo Heidegger, podemos pensar na decadência como uma determinação do próprio homem, pelo fato de esta se revelar como tentação. A tentação surge no discurso cotidiano pela publicidade, no qual, nos sentimos sempre tentados pelo novo, ou pela fala do outro.

Em outras palavras podemos dizer que a tentação se vê abarcada pelo caráter impessoal do discurso do falatorio e da ambiguidade. Tal caráter nutrirá a pretensão do tentado de que tudo ele compreendeu. A esse caráter de compreensão, acompanha outra característica da decadência, a sensação de tranquilidade.

Com tais características o homem aprisiona-se no seu próprio modo de ser cotidiano, ou seja, encontra-se atado na impessoalidade e impropriedade do discurso, no entanto, por encontrar-se tranquilo e alienado, fecha-se em si mesmo, não se possibilitando novas formas de estar no mundo. Assim a tranquilidade, a tentação a alienação e o aprisionamento revelam o modo de o homem viver no mundo, o próprio modo de ser da decadência.

A MALA DA DECADÊNCIA

APRESENTAÇÃO

Partindo do mito grego de Pandora e chegando às Terras do Sem Fim, a Mala da Decadência consiste num poema cordel que conta uma história escrita inicialmente para o teatro, visando basicamente denunciar o estado de decadência percebido na educação no meio ambiente, na política e principalmente nas relações cada vez mais individualIzadas entre os seres humanos. A mala da decadência é também um monólogo adaptado para o teatro, que engloba drama e lirismo. Registrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro desde 07 de julho de 2010. Registro: 500.862 livro 948 folha 53”. A história aqui desenvolvida faz uma ligação entre a Grécia Antiga, mais esteticamente no mito de Pandora e o Cais do Porto de São Jorge dos Ilhéus, uma das portas de entrada para as Terras do Sem Fim, mito extraído do imaginário de Jorge Amado. Os dois mitos me inspiraram para poder falar de esperanças e maldições, temas opostos, mas, muito unidos e presentes na vida humana.

REENCONTRO

CENA PRIMEIRA - Entra recitando até o palco onde tem uma mala repleta de coisas e livros.

Para me reencontrar dentro deste labirinto, preciso me despertar, acordar desse sonho; pesadelo medonho, que não me deixa viver, nem ao menos compreender, o que vida quis dizer, ainda no prelúdio¹ de cada amanhecer.

Viví assim sem jeito, ofuscado pela dor que arde no peito um calor passional dum prazer ilusório deste mundo banal. Passou por meu cérebro no tempo da dor um turbilhão multicor, de cores intensas, que a vida plasmou² no imaginário

E foi assim como se eu descobrisse então, uma fuga iluminada no meio da confusão. Confusão duma noite repleta de atalhos que faz de amanhã utopia distante e torna o presente um simples instante

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¹Preludio - Exercício preliminar: primeiro passo para um certo desfecho. Introduçao para uma coisa futura. O que precede, o que anuncia. Prólogo, prefácio, preâmbulo .

²Plasmou - Moldou, modelou com gesso ou com barro.

Quero retornar a primeira estação pela via iluminada de sol do verão, apreciar pela vida um novo refrão, seguindo e cantando uma nova canção.

Uma canção que me leve para um novo fim; um fim que supere as agruras do fim, mas um fim que não seja o começo do fim.

PANDORA

CENA SEGUNDA - Abre a mala, pega um livro e lê dramaticamente para o público:

Carregar esta mala por todos estes anos tem sido o fim da picada. Como todo efeito pressupõe uma causa, a causadora desse efeito patético viveu na Grécia num tempo passado muito distante. Pandora, a primeira mulher que apareceu na zona do Monte Olimpo.

Criada por uma corja de deuses plebeus, liderados por um grande picareta conhecido como Zeus, Pandora tinha a incumbência de punir o homem por desobediência quando este em sua residência aceitou o fogo que não era devidamente seu, que lhe fora trazido por um tal de Prometeu¹

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¹Prometeu - Na mitologia grega, é um semi-deus e um dos sete filhos do Titã Lapeto que foram combatidos por Zeus para conquistar a supremacia sobre o Olimpo.

Após seduzir com volúpia a Epimeteu, que era do irmão de Prometeu e que guardava em seu poder uma caixa repleta de tribulações, essa senhora: a Pandora, embriagada de emoções, abriu a caixa maldita soltando entre o povo as piores maldições.

AGLARIUS

Um sujeito lendário conhecido no Olimpo pelo nome de Aglarius que assistiu toda a tragédia, com boas intenções, toma para sí a caixa das maldições e transfere da mesma para uma mala, a esperança, a única coisa que lá ficara.

A esperança ficou sozinha presa naquela caixinha, na exata hora da traquineza de Pandora, conforme o relato da história. Uma vez possuindo a esperança agora em sua mala, Aglarius, inicia peregrinações especiais pelos desertos continentais.

Aglárius e sua mala viajaram por Atlântida, Atenas, Alexandria, Constantinopla, atravessaram o Nilo, navegaram pela Baía de Todos os Santos. Enquanto circulavam o mundo, a esperança¹ que estava sozinha presa na mala da agonia desenvolveu a androginia e engravidou-se de sí mesmo, gerando uma nova pestilência com o nome de Decadência.

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¹Esperança - Com abertura da Caixa de Pandora foram liberados os males que haveriam de afligir a humanidade: a velhice, a violencia, a loucura, a mentira....

A Decadência é o pior de todos os alucinógenos, é quase uma insanidade, é quem mantém o homem preso no mundo alienador da impessoalidade. A Decadência consiste não na falta de explicação acerca dos objetos intramundanos² mas no excesso de especulações acerca dos mesmos.

Todo mundo decadente explica tudo: como é que a luz se acende, como o avião pode voar, de que forma se deu a explosão do Big Ben; como o homem evoluiu a partir do macaco; que tipo de sabor atraia o paladar da girafa e a cabeça de Lamarck para os topos das árvores, para que seus pescoços crescessem tanto.

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¹Impessoalidade - Que não se refere ou não se dirige a uma pessoa em particular.

²Intramundano - Refere-se aos entes do mundo.

No entanto, a real explicação sobre quem sou eu, de onde venho e o que estou fazendo aqui permanece como um embroglio escondido num porão da caverna do Platão¹ Os malefícios da decadência são tais que dão a Terra características desumanas; são bilhões de aloprados e decadentes rejeitados morando modestamente em malocas metropolitanas.

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¹Caverna do Platão - Texto clássico da filosofia de Platão, sendo parte constituinte do livro VII de A República.

PELAS TERRAS DO SEM FIM

Após girar o mundo todo esta mala enfim, chega nas Terras do Sem Fim¹, conduzida pelo Aglarius que por um equivoco fatal pensava ser imortal, afinal, por dois mil e setecentos anos vivera uma vida normal; no entanto teve seu final na zona do cacau.

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¹Terras do Sem Fim- Localizada nos confins de Ferradas, próximo a Itabocas, distrito de Ilhéus.

Depois de ter superado todos os grandes perigos da humanidade, após resistir com firmeza todo tipo de surpresa no Triângulo das Bermudas¹, Aglarius não resistiu a uma emboscada organizada pelos coronéis da região e tombou no cais do porto de são jorge dos Ilhéus vitimado pelo poder da falação.

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¹Triangulo das Bermudas - É uma região delimitada por linhas imaginárias no oceano Atlântico.

Imaginem que o Aglarius versou-se em filosofia lá na Grécia onde vivia e aqui nas Terras do Sem Fim tentou passar para os coronéis aquilo que sabia. Dizia que cabe a um docente ensinar a toda gente a ler, escrever, despertá-la para o universo artístico da filosofia, da poesia; e conduzi-la com ternura à brandura da literatura.

Os coronéis de então que governavam a região não podiam compreendê-lo logo, começaram a desmerecê-lo. Dessa forma, persuadiram os jagunços de todo mundo para que o rejeitassem chamando-o de professorzinho moribundo, sem futuro e vagabundo. Ás vezes os representantes da truculência local iam à escola para agredi-lo na sua moral sob ameaça de ação judicial.

Os alunos também se rebelaram ficando indiferentes ao que ensinava o professor e às vezes lhe negligenciavam tratando-o com certa falta de pudor, como se um educador fosse uma coisa qualquer de destituída de valor. Diante dessa situação agravada pelo baixo salário e péssimo ambiente de trabalho ninguém mais queria ser professor.

A canalha¹ inspirada nos cantores do arrocha dizia que esse papo de escola era só perda de tempo, que estudar, se educar não era o seu pensamento.

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¹Canalha - Escória social, a ralé.

Alegava ainda a maldita canalha, que pra fazer sucesso na zona do cacau, só eram necessárias duas coisas imundas: uma letra musical coloquialmente imunda e um rebolado na bunda.

Assim nessa guerra perdida a escola deixava de ser a oficina da vida e a região do cacau entrava num colapso educacional, todos preocupados com a copa do mundo, sucessão presidencial, e se esqueciam que educação era e continua sendo a força vital.

Por conta disso, um deputado sub-letrado aclamado como sabichão pelo povo da região convocou todos os coronéis para decidir o que fazer com a educação. Imediatamente enviarem seus hilariantes representantes para Brasília, a capital federal, onde todos os políticos submeteram o saber ao juízo final.

Um sábio educador da região protestava dizendo: Somente pela educação será possível salvar a nação; sob vaia e bastante alarido produzido pela canalha iniciou-se uma baderna com o nome de plenária.

O governo da Bahia não pode ir, mandou um interlocutor, o qual diante das autoridades assim se expressou:

- Oxente, meu rei, na Bahia não precisa mais de professor, pois temos as emissoras de TV que através de suas intelectualíssimas novelas nos ensinam o saber, todos aplaudiram.

O governo pernambucano na seqüência argumentou:

- Eita gota serena, esse negóco de educação é a bubônica; nãm sabe seu menino? Lá no Pernambuco não existe mais professor, o último que por lá passou, Lampião o estrangulou, foi ovacionado por todos.

O Governo dos paulistas começou a falar:

- Que vexame... É ultra desnecessário contratar professores assalariados, pois já somos plenamente educados! Não “pericebm” como somos plenamente educados?

Assim todos decidiram naquela maldita hora que deviam fechar todo tipo de escola. Algumas viraram motéis, outras se transformaram em bordeis, casa de jogo do bicho, e as universidades viraram centros reformistas de apoio a vigaristas

Diante desse fato só sobrou para o decadente professor que sonhava melhorar o mundo pela educação, evadir-se pelas estradas do ilusório a ter que sucumbir no caldeirão do falatório.

Do falatório decadente que alimenta a vaidade dessa gente que habita e devasta o ocidente. Deixou a mala, algumas obras de Platão e uma filha mimada que trouxera das ilhas afortunadas:

LAROSA

Larosa, uma voluptuosa mulher que destruiu todos os seus anos a espera de um sujeito que vez em quando lhe aparecia sem muita conversa, sem muito explicar; não sei o seu nome, só sei que era moreno, vivia no mar, que tinha cabelos longos e educação excelente; e que Larosa, se entregou a esse homem perdidamente.

Ele assim como chegava voltava não se sabe de onde vinha, nem para onde ia: mas deixava sempre aquela mulher com um olhar cada dia mais distante, completamente desorientada e com o olhos perdidos no horizonte; mas, sempre ali, esperando, parada, pregada na beira do porto com sua única e desbotada blusa lilás que encurtava cada dia mais.

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¹Voluptuosa - É um adjetivo com origem no latim voluptuosa, significando algo ou alguém em que ha prazer ou volúpia.⁸

Quando enfim eu nasci, Larosa, minha mãe, embrulhou-me num saco me vestiu assim como fosse uma espécie de príncipe do trapo e por não se lembrar ou por desconhecer os encantos dos acalantos, a pobre mulher me ninava sempre cantando uma antiga cantiga de cabaré.

Sem usar disfarce, sem dissimular o rosto acerca do que sentia no coração; não pondo a máscara, como aqueles que pretendem representar um papel daquilo que não é e andam desfilando como macacos vestidos de púrpura, Larosa, era sempre igual a sí mesma.

Antes da morte lhe despertar do sonho da vida, através duma tuberculose mal resolvida, o colorido ilusório do mundo tornou-se-lhe ainda mais opaco pelo excessivo e decadente uso que fazia de tabaco.

Ofuscada pelo ocaso da vida que lhe atribulava o coração em todo tempo; no alvorecer nosso de cada dia, e naqueles dias, para cada dia de alegria, havia sempre um dia de melancolia, em cada um deles Larosa se lamentava e dizia:

A SOMBRA

Se minha sombra eu pudesse abandonar numa vala qualquer dessa via contra-mão! E se o meureflexo transitório não tivesse estacionado na outrora do esquecimento, agora contemplação!

Se ao menos da volúpia não brotasse Sofrimentos; e se o homem controlasse seus Insanos pensamentos transformando em vitórias Os perversos sentimentos que mancham a História com tantos desalentos!

E assim, tomada por essa nostalgia danada, no crepúsculo das tardes aquela mulher chorava um bocado sempre que lembrava de seu passado.

E eu recentemente no mundo lançado, nesse mundo ardentemente incoerente, de forma inocente questionava a mulher:

POR QUE CHORAS

Por que choras numa tarde tão bela, de primavera; tuas lágrimas entristecem as flores, desfazem a quimera!.

Porque choras se a alergria depois da tormenta desfaz a dor e, se tens o brilho do sol e a graça da lua sempre a teu dispor!

Por que choras se sabes que a poesia brotará no novo dia quando te soprares todos os ventos da bela harmonia!

Porque choras borrando teu semblante diante dos Foscos brilhantes, e falsos cintilantes das estrelas errantes

Por que choras gritando no espaço vazio, com medo do frio se tens a solidão como companheira de estrada, dessa fria estrada regada de lágrimas que conduz ao nada.!

E porque não chorar nesta vida submetida a tantas despedidas, idas e vindas, subidas e descidas, cercada de nada, que segue pro nada, pela curta estrada da fria caminhada.

Desde então vivo coisificado e diante de minha impotência como produto da decadência não consigo apreender o meu próprio significado. Aprisionado nesse modo de ser cotidiano, me encontro literalmente atado na impessoalidade do discurso alienador.

A vida cotidiana fez de mim um ser cansado; vivo fugindo de mim mesmo. Ao fugir de mim mesmo me torno como uma embarcação presa nos gelos polares aguardando apenas pelo frio da morte que se aproxima. Por isso:

METAMORFOSE

Fujo do indeterminado que me angustia; fujo para o jardim do engano por onde voam de noite e de dia, borboletas de cores vivas, sobre leigos girassóis; e sobre as belas orquídeas, amantes dos girassóis!

Girassóis que não sabiam, que papoulas sucumbiam, transformando suas vidas, em mariposas atrevidas e borboletas coloridas, emergentes das metamórficas noites de fantasias!

Fantasias de moribundos girassóis e lagartas esdrúxulas, que sangram os decadentes assolados pelas bruxas; bruxas da incompetência dos girassóis venais registrados nos anais das histórias das bruxas.

Bruxas que enlouqueceram rosas e violetas distraídas na luxúria, na lascívia da sarjeta; valeta que enclausura girassóis em penúria, num bouquet de fantasias!

Cresci dentro desse bouquet de fantasias no cais do porto de São Jorge dos Ilhéus entre coronéis e jagunços tabaréus. Ainda na adolescência recebi de Larosa a mala da decadência. Ao recebê-la percebi que nesse mundo aloprado, cada um segue uma rota, todos ansiosos dentro de um labirinto de subjetividades em busca da grande saída.

Um para manter seu decadente emprego compila da filosofia um elogio sensato para o chefe imediato; outro compõe um panegírico para um impostor qualquer de corrompido saber desde que o impostor seja detentor de algum tipo de poder. Alguns charlatões se dedicam a predizer o futuro, outros explicam o poder do magnetismo na teoria do heliocentrismo.

E eu, como cobaia das contradições da ciência carrego a mala da decadência. Infelizmente podemos observar com profundo pesar, os efeitos da decadência aqui próximo de nós.

RIO CACHOEIRA

Vamos à beira do rio onde a espuma se refaz urubus em vôos rasantes pairam na beira do cais, e o robalo desgostoso, nessas águas não tá mais.

Peixes de toda espécie nadavam no igarapé, mas o poder destruidor que vive na marcha ré com a fúria predatória exterminou o tucunaré.

O verdejante jasmim que aromatiza o rio Cachoeira é trocado pelo esgoto da turma da sujeira, enquanto dorme o ambientalista na noite escura da leseira.

O nosso amado rio Cachoeira é tratado também, como depósito de lixo, como esgoto e com desdém pela escória inconsciente que só ama o que não tem.

Ó ilustre Cachoeira, meu querido e grande irmão Já te cansastes do desprezo de tanta devastação, a espuma que tu mostras é lágrima, lamentação.

Excrementos industriais envenenaram tuas correntes perante silêncios mórbidos e olhares negligentes deste povo que te admiras só a hora das enchentes.

A saudade nós entristece ao lembrar tua pujança. Os olhos se enchem de água diante da ignorância e ao coração aflito resta apenas a esperança.

A esperança de que um dia, o povo se dê valor e te respeite ó Cachoeira por que és também uma ilustre criatura do Altissimo Criador!

Apesar de assolado pelas influentes concepções decadentes busco aplicar-me na contemplação do que ainda resta de belo nesta vida fugaz e transitória que passa como um concorde que vem vindo do estrangeiro.

E é pelo constrangimento dessa vida que passa absurdamente ligeiro que em sua máxima solidão o poeta admira a grandeza da beleza do cenário da vida, pela janela da visão, mas disso não demonstra qualquer reação de admiração!

A consciência inquieta e um tanto indiscreta do poeta ao perceber na sua turbulência que a vida esta propensa a decadência, entrega-se por um momento, a penúria do desalento que o deprime com sofrimento, enquanto que sua alma assaltada pela confusão estremece em rebelião contra a desilusão da veraz consumação!

O poeta recusa acreditar que toda essa beleza da natureza percebida na primavera e nas outras estações, que todo glamour das nossas sensações torne-se em nada, como uma chama apagada!

Deve haver alguma maneira de fazer com que o Jasmim não pare de exalar seu cheiro fenomenal no meio do cacaual; e que as águas turvas do rio Cachoeira não deixem de seguir por entre as corredeiras, ao destino final!

Assim, o poeta em desalento pelo fato da vida está submetida à validade do tempo, a considera sem valor! No entanto, tal acontecimento deve implicar num aumento!

A vida do ser humano deve ser mais apreciada justamente por conta da infelicidade dessa tal fugacidade!

Nosso ilustre e desprezado, rio Cachoeira, tratado como lixeira, foi criado pelo Deus de Abraão e exige mais respeito do povo desse chão.

Quanto à beleza do jasmim que alegra o rio Cachoeira, na região cacaueira, mas, que tem sido brutalmente destruída na noite escura da leseira, há de retornar, espero, ainda mais bela noutra primavera!

Neste momento, que faz resplandecer o novo engano que caracteriza o Eterno Retorno¹ nietzscheano, me livrarei desta mala e me dedicarei exclusivamente à apreciação da beleza das flores, das marés, da poesia.

Contemplarei a grande arte de Deus com toda sua maestria. E como uma estrela de primeira grandeza iluminando a natureza, tal qual um farol clareando o abismo profundo do deserto do mundo, apreciarei

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¹Eterno Retorno - Nietzsche trabalha o Eterno Retorno como uma arma contra o niilismo.

A MULHER BRASILEIRA

A mulher brasileira elegante e faceira que não é um ente qualquer. Bela e graciosa é árvore frondosa que Deus plantou no jardim do amor!

Que edificou e regou com a mais pura essência da exuberante flor; e com o substrato da Hortência querida que perfuma o jardim da existência nos campos da vida!

Rainha da beleza eleita sob a linha do Equador; plasmada pela mão do Criador para alegrar este mundo ilusório submerso na dor. Dentre todas as dádivas com que o Criador honrou e alegrou este mundo cruel de tantos desencontros.

A mulher brasileira com seu modo fascinante de ser, reanima o viver em cada amanhecer.

Hospitaleira e alvissareira é também uma guerreira que domina com emoções os duros corações. A mulher não é apenas uma flior, ela é o broto do amor, que alimenta a flor!

É a mãe da vida! Ternura florida!! É certamente a luz mais provida, é a mais colorida dentre todas as luzes que brilham na terra, no céu e até mesmo no mar!

Assim me dedicando à contemplação da beleza que há na delicadeza da gentileza e me libertando desta decadente mala, seguirei certo de que haveremos de alcançar todas as possibilidades de uma vida autenticamente propensa no momento em que atravessarmos a última fronteira da decadência! Ao transpor essa fronteira perceberemos que:

A VIDA

A vida é razão, emoção, ação e confusão; viver é Ser abençoado na esfera da ilusão; vivendo Saímos da inércia para animação.

Viver é ser, subir, descer, nascer, perecer. Viver Pressupõe perceber compreender e enaltecer Cada indivíduo que vive.

Mesmo os mais periféricos desse espaço Atmosférico eclodem seus rebentos e em Contínuo movimento avançam por vida adentro.

Viver os acontecimentos é renovar Procedimentos no labor do dia-a-dia; dormir acordar, sorrir chorar, folgar e se indignar.

Pensar e achar o equilíbrio nas entranhas do Ilusório, onde tudo é transitório, precário e sem Futuro, pois nada é duradouro,

Não há nem mesmo um só tesouro, por mais que Seja excelente que se torne supra-presente e viva Eternamente.

COLETÂNEA DE POEMAS PARA

ELABORAÇÃO DE PERFORMANCES COM

TEMAS VARIADOS

ALEGORIA DO VEADO

Atraves do texto a seguir, tentarei me esclarecer sobre a necessidade que temos de considerar menos o discurso falacioso espalhado pela estrada:

Eis que numa determinada área selvagem habitavam harmonicamente galinhas, raposas e veados. Com o passar do tempo, o número de raposas aumentou consideravelmente causando um desequilibrio alimenticio entre a bicharada. Ora as raposas se alimentavam de galinhas e os veados basicamente comiam ovos.

Aumentando o quantitativo de raposas e veados, conseqüentemente, diminuiu a quantidade de galinhas com seus respectivos ovos.

Atordoadas com a escassez de alimentos, numa reunião secreta, as raposas proferem a seguinte sentença: se não existem mais galinhas suficientes para nosso deleite alimenticio, então, de hoje em diante passaremos a comer os veados.

Um veado disfarçado que se infiltrou na reunião das raposas e tomou conhecimento de seus planos, convoca toda bicharada para uma assembléia, na qual, decidem por unanimidade abandonar a floresta.

Ora, as raposas que também sabotaram a reunião dos veados e descobriam seus planos de fuga publicam na floresta uma falácia carregada de intencionalidades:

- Caríssimos veados, esse dia de hoje é para nós um dia de profunda angústia, sabemos que pretendem viajar para uma floresta longínqua por causa da falta de ovos.

O motivo de nossa preocupação é que pela estrada que terão de seguir, passarão obrigatoriamente pelo vale dos crocodilos que não terão misericórdia...

E assim como dizimaram completamente o cardume de piranhas que lá exista, comerão também todos vocês, não sobrará um veado sequer para contar triste história dos veados retirantes.

Essa notícia frustrou completamente o plano de fuga dos veados, com medo dos crocodilos, resolveram permanecer na condição desubserviência, entre as famintas raposas.

As raposas teriam tido sucesso em sua falação, caso não houvesse lá um audacioso veadinho, o qual, ignorando completamente o discurso das raposas, põe sobre as costas uma mochila repleta de penduricalhos, e destemidamente pega a estrada desaparecendo na selva.

foi-se embora tranqüilo e chegou em paz na nova floresta. Intrigada com a audácia do veadinho, uma velha raposa resolve segui-lo para descobrir em que consiste sua coragem; ao reencontrá-lo, descobre que, o veado era surdo!

A PROCLAMACÃO DA TITIA

Em se compreendendo a metáfora do veado, convém caminhar com uma certa prudência, purificando o que se ouve no dia a dia. Idéias que não atendem aos nossos ideais devem ser ouvida compreendida mas não engolida. Por conta de falatórios prafanatorios, muitos grupos se dissolveram, muitas famílias se desprezaram e até muitos cabarés faliram e fecharam como aconteceu neste caso a seguir narrado no poema:

Na velha estação da Luz, no tempo que.

Reluzia. Havia um famoso castelo,

Conhecido pelo seu nome: Confraria da Titia!

Na santa semana de alucinante correria, "as Puritanas", boicotaram o quórum necessário, Para o pleno funcionamento, da flutuante Confraria!

Mas quando morreu o dia, que "as puritanas" Partiram pros quartos, onde se entrava e se saia: Lá estava Zé Ruella, com uma tabuleta que dizia:

Por falta de puritanas para o pleno Funcionamento da cuja confraria: o entra e sai Será suspenso, até a nova ordem da Titia!

O TEMPLO DO PICARETA

Vou lhes contar a historia

Dum picareta danado

Que botou em sua cachola

Ideia de um excomungado

Que quis abrir uma igreja

Com ensinamento medonho

Ajuntando apenas os bodes

Pra formar o seu rebanho.

Disse bem o falso profeta:

Chegou o tempo da dureza.

Só penso numa mutreta:

Vou abrir a minha igreja

O grande templo do picareta!

Com trabalho e com todes,

Com um belo manto éfode,

Atrairei muitos dos bodes...

Protestantes e católicos

Muçulmanos e budistas

Todos têm seus propósitos

Suas doutrinas específicas.

Mas eu estou desgarrado

Me sinto muito humilhado,

Como um político derrotado

Que espera novo impulso

Fazendo papel avulso.

Excomungado por Roma

Amaldiçoado por Lutero,

Fui expulso da redoma

E agora o que mais quero,

É conduzir os meus bodes

Sendo eu o próprio clero.

Rejeitado pelas igrejas

Acusado de heresia

Só me resta virar a mesa

E sair da maresia.

Eu que sou bom escolástico

Me portarei com maestria

Serei o sumo eclesiástico,

Para toda confraria!

Eis a grande apoteose

É o picareta na ribalta!

Terei vinho em dupla dose

Bacalhau pão e batata,

Terei uma tenda aberta

Onde o bode se liberta

Da avareza do somítico

E da promessa proferida

Pelo santo paralítico.

Minha igreja será única!

Não acharei diante de mim,

Maomé, nem Xavier;

Dalai Lama, nem mãe Joana,

O meu credo será exclusivo

Assim não corro perigo

De perder algum pelego

Pro rebanho do inimigo.

Chamarei os bodes céticos

Os políticos de rapina

Não quero homens éticos

Só quero amantes da propina.

Pilantras como Bedeu

Não guardará meu dinheiro,

Pois além de presidente

Serei também o tesoureiro.

Acabou a grande moleza

Para os templos concorrentes

Chegou o tempo da dureza

Com os bodes delinquentes.

Atrairei pro meu rebanho

De charlatão a prostituta,

Com todos irei a luta

E ganharei essa disputa!

O PROFESSOR

Olá professores! Depois daquela curva perceberão gemidos um cemitério cheio de projetos interrompidos. Desculpem-me estou meio zonzo, acordei às seis horas da manhã assim, meio com vontade de vomitar.

Todo dia bem cedinho antes de ir para o centro educacional eu tomo um coquetel à base de cogumelo, rivotril, diazepam e gardenal que me foram prescritos por aquele médico aloprado que trabalha no hospital.

Mas eu queria lhes falar de devaneios! Na noite passada sonhei com o pesadelo da burguesia. Que a burguesia desesperada tropeçava e caia nas garras dos monstros de sua própria autoria.

Ah! Os sonhos voam livres pelos campos da fantasia. Mas eu sou a transmutação de alguma engrenagem do sistema que asfixia: sou a luz que clareia a discrepância, uma pedra no caminho da intolerância.

Nessa terra de ignorantes que troca vidas por diamantes eu sou uma coisa transvalorada, de muita utilidade e de muito pouco valor, eu sou um professor!

BANQUETE FINAL

E agora, Não resistiu a limitação biológica nem suportou a pressão social; até pouco tempo era química e movimento. Nesse exato momento, parou de movimentar e já começa a se desintegrar; parou de sonhar, cessou a lida; acabou de acordar do sonho da vida!

Subitamente desligou-se do mundo venal; a multidão desta cidade saberá do seu final, pelo clamor estridente do sino da catedral. Acabou a confusão, agora jaz na solidão; pelo menos não sofre mais a pior das solidões: àquela que sentia no meio das multidões.

Deixou de ser um estorvo à previdência social, Agora é só um corpo mal assombrado, é mais um excomungado do convívio social. Mas ainda lhe resta um ato: último ato cerimonial. Sera recebido por dez milhões de vermes que os celebrarão com um réquiem num banquete final!

NOS CAMPOS DA POESIA

- Diga-me poeta, antigamente eu tinha muitas inspirações para poesia, mas as agruras da vida roubou-me todas as minhas vibrações de alegria. Nenhuma palavra mais consigo "semear nos campos da fantasia!"

Minha cara professora, eu também sofro com a acidez que afeta o mundo, de noite e de dia. Contudo, quanto mais a observo, mais adquiro inspiração para as palavras semear, nos campos da poesia!

DAS CRISALIDAS

Apesar dos limites impostos pela fragilidade de minhas asas, sinto a sensação da liberdade vivenciada pela borboleta quando abandona a "crisálida", deixando para trás o corpo repugnante duma lagarta que rasteja sobre a folha consumida e deformada...

DOS FANTASMAS NOTURNOS

Apaga-se o sol, acendem-se as estrelas cadentes.

Saudemos a noite com seus fantasmas hilariantes,

Antes que o sol apareça, trazendo fogo do oriente.

OLHOS OCIDENTAIS

Quem poderá deter o tempo que passa;

O vento que embala as nuvens orientais;

Os pensamentos que me ultrapassam e a

Saudade que lacrimeja meus olhos ocidentais?

NO MONTE DOS URUBUS

No Monte dos urubus,

Compreender pude entao

Com uma dose de precisão:

A contenda é uma arma

Horrenda de infrentação

Daquele ser, desarmado

De conteúdos que dão

Às teses, movimentação..

FELICIDADE

A felicidade é um súbito e transitório estado emocional que em momentos meramente circunstanciais ofusca nossa realidade elevando-nos às mais transcendentes harmonias com o viver!

Mas a felicidade tambem pode ser: uma erupção extremamente transitória de prazer!!

URGÊNCIAS

Tocado pela pressão do berrante da urgência, quem poderá produzir qualquer coisa que satisfaça ao gosto e resista ao tempo?

O CIRCO

Oh mundo delirante!

Outrora fostes divino

Hoje és um circo gigante

Vagando sem destino,

Pelo espaco itinerante...

Tua lona de cobertura

Furou, está precária:

Já não cobre a todos

De forma igualitária.

A terrível chuva ácida

Que faria estardalhaços

Já começa a respingar

Sobre a cuca dos palhaços!

A REALIDADE DO ESPELHO DA ILUSÃO

Quando me olho no espelho

Vejo minha imagem real:

Caracteristicamente vivendo,

E fatidicamente morrendo!

Verdadeiramente sou eu,

É minha aquela imagem.

Mas não sou eu que estou,

Nunca estive, jamais estarei

No interior daquele estúpido,

Enganoso e realístico espelho!

FOI ASSIM

Aos quarenta e cinco anos de idade, o poeta que vos fala: que sessenta e oito possui agora, era ainda, um não secundarista, da oitava série do antigo ginasial. Nessas condições, era tido como quase banal, por ser opaco, sub letrado, coisa e tal!

Mas veio o contratempo no tempo e de dentro da Própria temporalidade, sai o tal poeta da gaiola Da clandestinidade! Lancando-se na competição, Dentro do campo vasto das letras proclamadas a Nos revelar pelas mentes das posteridades!

O poeta pensou, repousou, estudou, se arriscou, Dançou, malogrou: se lascou. Mas o infeliz Insistiu, persistiu idéias mirabolantes ou não, Certamente as pariu.

Mas veio de novo e, no tempo um golpe fatal Contra o mau. O poeta agora diplomado Licenciado e três vezes pos graduado, está na Vitrine da formalidade linguística, devidamente Lançado é apoiado.

- Poeta, nessa vitrine quem te lançou?

Quem aqui me projetou foi Agenor: um honrado Doutor, sonhador e pesquisador, além de Maieutico, é também um mecena paridor, mais Conhecido pelo nome de Gasparetto professor!

RAÇÃO DAS SEMENTES

O calendário de Gregório

Informava: Que o ano em

Curso era dois mil e dezesseis.

Foi então que conheci Lair

Um guerreiro valente

No Exército de Israel.

Passei a ouvir Ribeiro

Que me ensinou: é na

Semente das frutas que

Onde se encontra a vida,

Sintetizada por inteiro!

- Como proceder afinal?

Triture: amendim, cacau

Abóbora, melão, abacate

Melancia, girassol aveia

Rapadura e o grosso sal.

Transforme tudo num pó

Saborosismo e bem legal!

Se alimente com essa

Mistura, levantadora

Até de pinto morto:

- Escondido sob paus?

Desses que vagueiam

Atras das galinhas

Que ciscam no milharal!

Essa Ração de Sementes

É desde dois mil e dezesseis

Meu alimento principal...

QUEDA UNIVERSAL

De uns tempos para cá, podes observar, na Relação familiar, so não ver quem não quer, o que Está desenhado por lá: a última palavra é sempre Da mulher!

O que há, de irregular? Bla, bla, bla, bla! Sem Querer, a flor murchar; afinal, sem seu perfume a Vida poderá até expirar...

Mas se era do homem, o poder de comandar,

A sua queda pressuporá a vergonha universal!

ESCADA DA VIDA

Quando eu puder circular

Tranquilamente confortado

Entre os insatisfeitos

Com meu modo de ser;

Estarei com certeza,

Num patamar elevado

Da escada da vida,

Onde quem subiu

Não terá que descer!

O MARTELO

O mundo é constituído das relações que se estabelecem entre as criaturas e as coisas.

O martelo serve para martelar; martelando se constrói uma cama; a cama serve para acasalamentos, através dos quais, surgem novos indivíduos que produzirão novos martelos; pagarão impostos e se tornarão massa de manobra a serviço dos sistemas dominantes. em suas respectivas epocas.

BILL E BELL

Filhos do mesmo casal, Bil abandonando seus pais enveredou-se pelo mundo dos ilícitos, fez sua mãe conhecer a angustia em sua mais alta expressão.

Bel, sempre amável casou-se, pariu duas vezes, mas nunca se afastou de seus genitores, antes, os honravam com palavras e gestos.

Dona Fafá enfartou no natal, duas horas depois de saber que o Bil era acusado de cometer mais um estelionato.

No velorio, família toda presente, todos choravam comedidamente, menos o Bil, que fazia um escândalo circenses.

Por que em se tratando de óbito entre os vivos; geralmente é o algoz que sempre protagoniza o espetáculo: é quem mais grita diante do cadáver Inerte e passivo?

TUDO E NADA

Tudo que existe de forma concreta encontra-se dentro do vazio, onde o firmamento estrelado se movimenta no espaço velado. O abismo sideral é a extensão que abriga em si aquilo que de fato existe, o universo: nascendo e morrendo, sendo e não sendo entre o tudo e o nada!

ILUSÕES

Se não houvesse ilusão

O que seria do poeta

Se morresse a solidão?

Se não houvesse dor

O que seria do amor

Se morresse o trovador?

SIMPLES

Alguém que se perdeu no

Labirinto da complexidade,

Deve procurar a saída

Pelo sigilo da simplicidade!

SONHOS

Transforme velhos sonhos

Em novas realidades,

Avançando na construção

De novas possibilidades!

SER E NÃO SER

Quando o meu ser, já não mais ser, me poupem da cremação. Não desapontem o seres que me aguardam, em decomposição. Serei sim, o banquete, desses outros irmãos!

SABERES

O ensinamento que tu me deste

Juntei a uma coisa que eu sabia.

Com os dois saberes, construir algo

Que nem tú, nem eu já o conhecia!

ESCRITAS DIFAMATÓRIAS

Levianos difamadores

Utilizam a pena

Para depenar,

Quem nunca

Foi apenado!

O CAPETA

Eis que o Capeta

Olhou a terra e sorriu,

Amou o que viu:

Muita gente vil!

Canalhas estridentes,

Autoridades negligentes

Dominando povo demente,

Displicente, vulgar e contente!

O SER MULHER

Ser mulher,

É ser sagrado,

Sensível, fenomenal!

Ser mulher,

É ser abençoado

com saber transcendental!

TEMPO

Pode até me faltar tempo

Para praticar certas ações

De domínio secular.

O que não pode faltar

É tempo, para observar

O tempo passar...

BANCO DO PEDRO

Nos anos setenta, ainda muito jovem, montado em burros, eu circulava pelo vilarejo de Banco do Pedro. Lembro-me das musicas que ouvíamos naquelas casas de mulheres que passavam as noites de sábado a disposição, para deleites, dos sedentos peões com suas unhas cheias de polpa seca de cacau.

Que tempo maravilhoso! Recentemente passei por lá; não encontrei mais aquele cenário magico que hoje existe apenas em algumas memórias: burros, peões, noites chuvosas, mulheres da vida como eram conhecidas...

Tudo passou! Tudo sempre passa! Restam apenas a lembranças memorizadas!

Quando retornei ao Banco do Pedro senti falta principalmente do tempo; do meu tempo. Do tempo que some precipitando-se no passado. Tempo que nos deixa grávidos de nostalgias e cheios de pensamentos vãos!

CAIU E LEVANTOU

Nasceu robusta, lindo rebento,

Chorou assim que arrebentou.

Sorriu, mamou e encantou!

Cresceu, falou, caminhou,

Correu, voou, voou e caiu.

Murchou, sim malogrou!

Malograda chorou, chorou...

Até que parou, pensou,

Repensou, gritou e fugiu...

Sumiu; ninguém sabe,

Ninguém viu. Por lá pariu,

Traiu, mentiu, tornou-se vil...

Reagiu, retornou ao Brasil!

Agora tá crente, não trai,

Nem mente, pra uns descente;

Pra outros, chata e demente.

Mas, afinal, o que quer essa gente?

HOMENS

O homem é bicho besta

Pensa ser o que não é,

Acredita que ela manda

E que obedece a mulher.

Mas ele vive enganado

Totalmente bragueado

Todo homem é um Mané!

COISA PERDIDA

Compreendemos melhor a vida quando mergulhamos na caverna que abriga em si aquilo que se foi. Só percebemos a utilidade de algo quando algo já não nós pertence mais.

Imaginem que ao ler este pensamento, provavelmente, não passa por sua cabeça, qualquer preocupação com a importância da existência deste equipamento que tens a mão; Mas se nesse instante negar-lhe sua eficiência, perceberás o valor da coisa perdida. É assim a vida!

ABANDONO

Elenco de uma peça de teatro ensaia em uma via publica por falta de espaço físico disponível para tal fim. Daí surge a inspiração para singelo

o poema:

Sao como filhos

De pais drogados,

Abandonados ao léu...

Suplicando socorro

Que por ventura

Nao venha do ceu...

SUMIR NO OCO DO MUNDO

Sumir no oco do mundo, é cair no vazio da indigência, é dizer sim a falência de um guerreiro vencido pelas agruras do mundo e tornar-se escravo do tempo que ainda resta para se viver. Sumir ou esquivar-se de levar a cruz, equivale a negar nossa presença àqueles que nós admiram não pelo que temos mas por lutarmos com a armas que deveras, nunca possuimos.

Não podemos fugir de nós mesmos, trair nossas palavras, nossos pensamentos. Quando chegar o tempo da natural partida teremos que deixar um legado para alguém! Que legado deixaremos aos nossos expectadores? De um ser humano fraco que fugiu de si mesmo? Por outro lado, se fugirmos das caretas e dos fantasmas cotidianos que depravam o homem, onde de fato chegaremos e de que forma cohabitaremos daí para frente com nossas próprias consciencias?

FOLHAS TRITURADAS

Vejo lagartas triturando as folhas listradas;

Ouço roucos clamores de crianças abandonadas;

Vou passando pelo tempo e pela vida, como as Folhas trituradas!

A VÍRGULA

A virgula é rica, complexa, poderosa! Diferentemente da exclamação que me afirma apenas como mero admirador das coisas nem sempre admiráveis ou da interrogação que só questiona: Às vezes questiona o obvio?!

A virgula é infinitamente superior ao frio e estupido ponto final que serve apenas para encerrar um dialogo indevidamente concluído.

Isso só, a virgula resolve.

Isso só a virgula resolve.

Não queremos virgula.

Não, queremos virgula.

LÁGRIMAS PONTIAGUDAS

As lágrimas de uma mulher

Em vão, não descem dos olhos.

Caindo na terra, fertilizam o chão

Fazendo brotar, pontiagudos abrolhos!

MURIÇOCA

Aedes Aegypt

Picadura infeliz

Do antigo Egito

Veio a primeira matriz!

Aedes Aegypti

Mosquito do terror

Do antigo Egito

Só nós trouxe dor!

Aedes Aegypti

Múmia voadora e perrengue.

Do Antigo Egito

Vem Zika e Dengue!

FELICIDADE

A felicidade é um súbito e transitório estado emocional que em momentos meramente circunstanciais ofusca nossa realidade elevando-nos às mais transcendentes harmonias com o viver!

COMPULSÓRIA VIAGEM

Tú que vives assombrando as mulas, com tuas caretas de tropeiro cansado. Tu não sabes de nada: a vida é uma compulsória viagem, iniciada de madrugada pelo universo velado!

PEDRAS

Na primeira etapa da viagem o sujeito vai ajuntando todas as pedras espalhadas pela estrada. Dai para frente convém ir separando as preciosas das não preciosas, para que o resto da viagem fique suportável!

AS FLORES

Domingo frio e nebuloso, no velório haviam mortos distribuídos em urnas. Entre eles, lagrimas de sentimentos e de remorsos se misturam ao nefasto perfume das flores. O cheiro das flores é o proprio cheiro da morte. Assim, lágrimas, flores e mortos, juntos, formam o perfeito cenário para um domingo frio e nebuloso!

A TURBA

A turba quer me ensinar: ensinar-me a cantar; ensinar-me a falar; falar sem pensar. A turba quer me guiar, me guiar para o mar, pelas ondas da ilusão, sem qualquer proteção. Enquanto a gente fizer, o que a turba quiser, seremos seu bem. Nunca porém, seremos ninguém!

SOLIDÃO

Ser solitário: não é estar sozinho,

Nem sofrer solidão pelo caminho!

Sofrer de solidão: é perder-se de

Si mesmo; sufocar-se na confusão;

E não se ver, no espelho multidão.

O CLICHÊ

Estou rompendo com o

Modelo clichê de caridade

Dos ministros da discórdia.

Pretendo agora me jogar,

Navegar pelo mar,

Da grande misericórdia!

O SEGREDO

Imagine que um certo picareta, passa cinquenta anos de sua vida, picaretando o povo que lhe rodeia, sem contudo, alcançar qualquer sucesso desejado, simplesmente, porque o tal picareta não compreendeu o segredo ocultado na anatomia do intestino delgado de sua própria picaretagem!

VINHO DOCE

Eu queria apenas que o mundo fosse,

Um concerto clássico, que mundo fosse,

Repleto de gente nobre, vinho seco e doce!

TRANSMUTAÇÃO

Com a disposição imaginativa da alquimia é necessário empenhar-se na transmutação do tédio em poesia!

CRIATURA ABISSAl

Não existiria Júpiter, espaço sideral,

Raiz quadrada nem criatura abissal,

Se não existisse um Deus Universal!

O SILÊNCIO

O silêncio é um fruto colhido nas árvores da sabedoria ou nos galhos do medo, da ignorância e da manipulação!

VERDADE UNIVERSAL

Há muito penando

Venho, pelo mundo

Perambulando...

Sempre procurando

Em terríveis abissais

Mais...!

Foi no fogo que eu vir

Robustos fragmentos

Da Verdade Universal

BORBOLETAS

Com a morte de uma lagarta cansada de rastejar, inicia-se a vida de uma borboleta disposta a voar!

QUARTA CINZENTA

Quarta de cinza, acabou a folia.

Rostos sem graça, sem energia...

Despem as máscaras, da alegria,

A CHUVA

Deus não é religioso. Se o fosse, a chuva que mantem vivas as pessoas, não cairia sobre todos, mas, apenas, sobre os de sua afeição doutrinária.

BEIJA - FLOR

Resolvi ao poeta cazuza imitar e criei um codinome para o ser, que comigo caminhar e proceder.

Como o proprio Cazuza, eu tambem

Lhe chamarei, pelo seu nome de

Codinome Beija - flor!

Somos iguais no tempo da dor, na antropologia do terror, na vaidade, no riso e também no desamor!

O que nos difere, ilustre beija - flor:

É o foco, a causa final, o farol divisor.

Ou é Otsirc ou é Ubag! A quem

Queremos alcançar com louvor?

Enquanto não se chega la,

Vamos caminhar vadiar e farejar...

Sejamos fiéis ao que, nós mesmo:

Eu e tu, jogar na panela do acordo:

E acordar...

A RODA

Imagine-se como uma roda de um trator, ou quem Sabe, de uma Ferrary de corrida, algo forte, que Gira, gira, gira sem parar...

Num certo dia frio: num dia próprio de blasfemar: Estrepes, jogados pela estrada enfia-se nesta Roda que foi feita pra girar...

Perfurada, a roda murcha e para de rodar!

Eis que um especialista aproxima-se da roda, Retira-lhe o estrepe, embucha o buraco, e Devolve-lhe ar...

Agora sem o abrolho, e cheia dum novo ar, a roda Giratória, volta a pista pra girar!

Gira, gira, porque uma roda giratória não pode

Parar: parar de rodar...

BELO EFÊMERO

O que fazer para debilitar a angustia adquirida pela percepção do desmoronamento ou da decomposição do ser, outrora belo?

DO TEMPO QUE PASSA

Pode até me faltar tempo para praticar certas Ações que se praticam nesse tempo da maldade!

O que não pode é me faltar tempo, para assistir a Vida, desfilando na passarela da temporalidade!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário da Filosofia. Trad. Alfredo Bosi, São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOUTOT, Alan. Introdução a Filosofia de Heidegger. Publicações Europa - America: Biblioteca Universitária, 1991.

HEIDEGGER, Martins. Os Pensadores. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Marcia Sá de Cavalcanti Schuback. Petropolis: Vozes, 2006

MICHEL, Inwood. Heidegger. Trad. Adail U. Sobral. São Paulo: Edições Loyola, 200

PASQUÁ Hervé. Introdução a Leitura de Ser e Tempo de Martin Heidegger. Trad. Joana Chaves. Lusboa: Instituto Piaget, 1993.

STEIN, Ernildo. Seis Estudos Sobre Ser e Tempo. Petropolis: Vozes, 2005.

Ton Poesia
Enviado por Ton Poesia em 30/10/2023
Reeditado em 08/11/2023
Código do texto: T7920723
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