Viva a arte

A cidade dos pintores não fica na Itália de Da Vinci e Michelangelo, nem na França de Jacques-Louis David e Eugène Delacroix, tampouco na Espanha de Goya e Miró ou na Holanda de Rembrandt ou Vermeer.

Estamos falando da China que sediou as olimpíadas de 2008, mais especificamente na cidade de DAFEN, a uma hora de carro da cidade industrial Shenzhen, localizada no sul do país.

DAFEN é conhecida em toda a China como a cidade dos pintores. Em nenhum lugar do mundo se concentram tantos artesãos da paleta e do pincel: o último senso registra 2.700 pintores que trabalham dia e noite em 145 “fábricas de arte” espalhadas pela cidade.

Você deve estranhar o termo “fábricas de arte” em vez de “ateliês”. Fábricas porque desde o início do boom de Defen, de lá já partiram para os Estados Unidos, Europa e resto da Ásia milhões de quadros, em sua grande maioria reproduções de obras-primas famosas em todo o mundo.

Os chineses intuíram que também neste campo seria possível dar o grande salto rumo à especialização industrial e à produção em massa. Existe um mercado inimaginável capaz de absorver quantidades ilimitadas de matisses e rembrandts na faixa de 15 a 30 euros ou 60 a 120 reais.

O planeta está tomado por guindastes que erguem grandes edifícios e alguém terá que “vestir” todas essas paredes. Lotes e mais lotes de impressionistas (Renoir, Monet e Manet) são embarcados nos portos de Shenzhen e Hong Kong. Na Rússia predomina Tintoretto; no extremo oriente, “os girassóis” de Van Gogh. Em Dafen se pinta de tudo, sob encomenda.

Os ateliês dos artistas são na verdade linhas de montagem. Dezenas de pintores por sala, sentado ou em pé diante de cavaletes, imerso no cheiro forte de vernizes, trabalham em ritmo frenético, com pincéis e espátulas, a fim de cumprir os prazos de entrega.

Há as oficinas dos impressionistas e as do Renascimento italiano, os retratistas e os pintores de paisagem, o quarteirão das naturezas-mortas e a zona do surrealismo.

Os artesãos chineses estão conectados à internet. Quer um retrato do seu filho ou do seu pai? É só enviar por e-mail uma foto digital e, por 100 euros (R$ 400), mãos hábeis farão um óleo sobre tela na medida exata da sua sala de jantar.

A cidade dos pintores, no entanto, não tenta enganar ninguém. Os milhões de quadro que exporta são cópias evidentes e declaradas. Todos os clientes sabem que a “Monalisa” autêntica e os “Girassóis” de Van Gogh não estão à venda, muito menos por R$ 350,00.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 03/12/2017
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