Primórdios da Medicina em Campo Grande


 
            Nos idos de 1897, passou por Campo Grande, o médico norte-americano James Willard Morris. Procedente de Nioaque, estava de viagem para os sertões de Goiás e foi convidado a ficar certo tempo na freguesia, onde não havia nenhum médico. O fundador do arraial José Antônio Pereira e o farmacêutico Joaquim Vieira de Almeida eram os únicos entendidos para atender em caso de doença, indicando remédios naturais ou os mais simples fármacos disponíveis em antigas boticas da época.

            Ao retornar ao contexto da virada para o século 20, é preciso ressaltar que havia médico quase somente nas cidades mais populosas. Daí a importância social, naquele tempo, das pessoas que conheciam a arte de curar diante da falta de um profissional formado. Ficou na memória da nossa terra o conhecimento do generoso mineiro José Antônio Pereira que sempre socorria os doentes, recomendando remédios colhidos na natureza e sempre acompanhados por uma respeitosa reza e fervorosa fé.

            Joaquim Vieira de Almeida é considerado autor de uma das primeiras crônicas sobre o arraial de Campo Grande, em uma carta escrita para seu irmão, descrevendo os atrativos do lugar. Nesse tempo, usava-se um dos manuais de medicina escritos pelo Dr. Chernoviz, médico polonês formado na França, autor de “livros médicos populares”, que lhes renderam uma pequena fortuna. Na falta de um doutor, esses antigos manuais eram usados por boticários, práticos e religiosos que se empenhavam para amenizar o sofrimento de algum doente.

            O médico visitante trouxe em sua bagagem de viagem uma máquina de escrever na bagagem, objeto até então desconhecido em Campo Grande, que foi usado para redigir um laudo médico sobre a causa mortis de um falecido, vítima de arma de fogo ou “doença da terra”, como se dizia naquele tempo.

            Entre os serviços médicos prestados à comunidade, o ilustre médico visitante fez uma cirurgia em uma senhora moradora do arraial, auxiliado por sua companheira de viagem e também pelo farmacêutico prático da comunidade. Essa história memorial foi escrita pelo professor João Evangelista Vieira de Almeida, e publicada na revista Folha da Serra, em agosto de 1936.Em outros termos memoriais, seus autores colocam em dúvida a formação médica do visitante, tendo em vista a morte da senhora operada que não resistiu ao pós-operatório. Indagado sobre o assunto, o médico visitante disse que a senhora não havia feito o necessário repouso que ele lhe prescrevera.

            A respeito do assunto, visando conhecer um pouco mais esse personagem dos primeiros dias da medicina de Campo Grande, localizei no jornal “Araguari”, da cidade mineira homônima, de 29 de outubro de 1898, disponível na hemeroteca da Biblioteca Nacional, um anúncio dos préstimos profissionais do médico James Willard Morris. A nota publicitária afirmava a sua formação acadêmica como especialista operador e clínico, afirmando sua condição profissional para atender aos doentes “pelos modernos sistemas e técnicas”, visando tratar de qualquer problema de saúde.

            Dizia ainda estar apto a realizar todos os procedimentos de “alta cirurgia”, pois sua clínica estava equipada com um conjunto completo de instrumentos cirúrgicos. Foi divulgado ainda que o referido médico era especialista no tratamento de doenças nas vias urinárias, moléstias de senhoras e clínica geral. As pessoas interessadas poderiam procurá-lo na residência de outro conhecido médico da mesma cidade mineira, para consulta ou atendimento em domicílio.