Uma conversa sobre o funk

Abenon Menegassi

Na esteira do diálogo que propõe Marcia Tiburi. Se a sexualidade faz furo na verdade, nem por isso devemos negligenciar que todo e qualquer ato implica que não esqueçamos; justamente para que Auschwitz não se repita. Ora, o que está em questão, assim me parece, na produção cultural do funk, é que a relação sexual, sempre furando o real, não deve ser reduzida à exploração e à barbárie, sobretudo, contra a mulher...Entendo que a pergunta adorniana sobre se depois de Auschwitz poderia haver poesia ou qualquer outra expressão cultural incide certo no fato de que sendo produção humana, qualquer expressividade cultural precisa considerar que Auschwitz esvaziou a modernidade de sentido e que, portanto, é preciso reconsiderar o sentido que damos às nossas ações à luz do que foi a racionalidade levada ao ápice da destruição em massa naqueles campos de concentração. Como paradigma de avaliação da racionalidade e da modernidade, isso cabe ao funk também. Auschwitz passa a ser então uma referência necessária para avaliarmos nossos valores seja no que for que estivermos fazendo, inclusive na arte. Ora, esta não pode reivindicar uma legitimidade que, por seu pragmatismo venha a se tornar pseudolibertária. Claro que a arte tem esta característica explosiva e transformadora, mas, claro, também está que não é de hoje que a aura da criação e da reprodução artística foi distorcida pelo capital. No meu entender, a referência a Auschwitz como paradigma de avaliação da cultura pode sim encetar a afirmação de que depois do que foi aquela monstruosidade, em que trabalhadores zelosos fizeram o trabalho mais sujo da historia, qualquer atividade, se inadvertida, pode vir a se tornar ...lixo.

Abenon Menegassi

SP 10 01 2016

Abenon Menegassi

Enviado por Abenon Menegassi em 10/01/2016

Reeditado em 10/01/2016

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