Tortura Dissimulada

Ao entrar em cena, meu carrasco me aguarda, somos atração principal em uma lide nefária, onde a bravura humana representa o domínio sobre a força bruta. Segundo a tradição, o combate ocorrerá de forma lúdica, mas meu asco já se alastra contra ele. No entanto, me encontro ferido, açoitado e condenado. Embora inocente, meu corpo fora estigmatizado com caráter desumano. Meu sangue fenece, jorrando na areia da arena em decorrência dos ferimentos causados pelas mortíferas Bandarilhas, “alegremente” coloridas, disfarçando a ferragem que me causam dores pungentes, sofrimento e hemorragia mortal.

Em meio a vil exibição, há pessoas que consideram o valor da vida, que como eu, protestam pelo fim dessa terrível tradição: “arte tauromaquia”, denominam arte e cultura, o que não passa realmente de tortura dissimulada. Representa o comando do Homem, sobre o entusiasmo compelido e impetuoso de um ser irracional. O que não passa de uma obra imoral.

Estou porém, certo do meu trágico fim. Meus grunhidos de dor, angústia e lamento, estão em ver meus últimos momentos nas mãos de um algoz. Os expectadores desse bizarro espetáculo, fomentam meu sofrimento e se divertem com a minha dor. Resta-me então, lamentar a falta de humanidade e comiseração.

Sobre a questão do morticínio de toureadores em arena; que respondam por seus atos! São afinal, seres racionais instigando o instinto doutro ser, totalmente irracional.

Não me qualifico ao gênero humano, vejo-me contudo, passível a experimentar as mesmas dores e sentir os mesmos temores ao deparar-me enfraquecido diante da figura do verdugo. Por fim, em meio ao desespero em manter os sentidos, serei engolido pelo inconsciente através de um único golpe e, agonizante, mergulharei na escuridão profunda, sob aplausos de uma plateia sanguinária.

ArK
Enviado por ArK em 29/09/2014
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