OS KAMAYURÁ E A HISTÓRIA DO MUNDO

O povo Kamayurá constitui uma grande nação que hoje habita uma área no Parque Indígena do Xingu. Falantes da língua Kamayurá, da família tupiguarani, pertencente ao tronco tupi. Os Kamayurá há dois séculos viviam num lugar denominado Uavitsá, à altura da foz do rio Paranajuva ou Suiá-Missu. Daí eles resolveram aos poucos subir o rio Xingu, construindo suas aldeias ao longo do rio. Foram subindo o rio gradativamente e essa caminhada levou dezenas de anos. A maior aldeia construída denominava-se Kurukisá e situava-se a uns 40 quilômetros da confluência dos formadores do Xingu.

Na aldeia Kurukisá eles viveram um longo período de paz até que foram descobertos pelos Tonori, uma nação que vivia nas proximidades do rio Ronuro. Esses Tonori se tornaram seus verdadeiros inimigos e costumavam incursionar nas terras Kamayurá para hostilizá-los e persegui-los. Tentando se livrar desses inimigos os Kamayurá se internavam na mata e mudaram sua aldeia para um local bem mais distante afastado das margens, perto da cabeceira de um córrego distante. Essa nova aldeia foi denominada Pitãhuatap e lá viveram por mais um longo período até que foram redescobertos pelos Tonori.

Depois de permaneceram durante longo período sofrendo contínuos ataques desses inimigos Tonori, os Kamayurá foram convidados por seus amigos Waurá para se deslocarem até as proximidades de suas aldeias, às margens da lagoa Ipavu, bem acima da confluência dos rios Ronuro e Kuluene, o que fizeram e passaram a viver em paz por um longo tempo.

Muito tempo depois, os Waurá se mudaram para as margens do rio Batovi, permanecendo os Kamayurá, até hoje, às margens da lagoa Ipavu, dentro da área do Parque Indígena do Xingu.

Morená é a região da confluência dos rios Ronuro, Tamitatoala e Kuluene formadores do rio Xingu. Um local envolto de espiritualidade. É no Morená que reside Mavutsinim, o criador de todos os seres. Mavutsinim trouxe ensinamentos para todos os homens e animais. Mavutsinim deu nome a todos os animais e estabeleceu os comportamentos de cada um, mandando-os para o mato e os ensinando-os a comer e a caçar. Mavutsinim deu arcos e flechas aos homens para flechar peixes para serem comidos e assados.

Assim começa a história. Mavutsinim vivia só. Certo dia ele resolveu criar e inicialmente fez com que uma concha se transformasse numa mulher e se casando com ela teve um filho homem, levando-o consigo, fazendo com que a mulher voltasse a seu habitat original, voltando a ser concha. Todos nós, índios, somos netos de Mavutsinim, o Grande Pai.

Toda história é contada de geração a geração. Portanto os mais velhos sempre têm o que contar, e o que ensinar; e os mais novos têm o que ouvir, e o que aprender. Assim conservamos a nossa cultura.

Para a primeira festa dos mortos, Mavutsinim foi à floresta e cortou vários troncos e os enfeitou com penas de aves, colares e outros adereços. Esses troncos eram a representação dos mortos. Durante o dia o povo da aldeia dançou e comemorou depois foi se recolher porque não poderiam presenciar o ritual onde os mortos voltariam à vida.

Apenas Mavutsinim poderia ficar para continuar o ritual. Depois de alguns dias os troncos começavam a dar sinais de vida, com o aparecimento dos membros. Nesse tempo, as pessoas morriam de curiosidade em saber o que estava acontecendo do lado de fora. Mavutsinim então chamou o povo para ver com a condição de que aqueles que tinham feito sexo com suas mulheres não podiam sair.

Todos obedeceram, porém, um dos que haviam feito sexo desobedeceu, indo verificar o ritual fazendo com que os troncos deixassem de se mexer e voltassem à sua forma original. Isso irritou Mavutsinim que tomou a decisão de tornar o Kuarup uma festa para homenagear os espíritos dos antepassados e que nunca mais iria trazê-los para o convívio com os vivos.