A CULTURA DO PÃO


O pão surgiu juntamente com o início do cultivo do trigo, na região da antiga Mesopotâmia, hoje chamada Iraque.
O pão fermentado foi descoberto ocasionalmente com a ação natural da levedura pelo povo do Egito, a mais ou menos 4.000 a.c. Tornou-se a base da alimentação de muitos povos, chegando a servir de moeda para pagamento de salários aos camponeses no Egito.
Aos poucos, a cultura do pão disseminou-se mundo afora e passou a ser o alimento principal para diferentes povos do planeta.
Os povos germânicos também passaram a utilizar o pão como componente principal de suas refeições. Quando vieram colonizar regiões no sul do Brasil, trouxeram com eles a cultura do pão caseiro.
No interior do Rio Grande do Sul, onde os alemães formaram comunidades, ainda é possível deliciar pães artesanais, cozidos em fornos à lenha. Até a década de 1990, muitas famílias de colonos ainda tinham o hábito de fabricar o próprio pão caseiro. A maioria das casas possuía um forno à lenha, feito a base de tijolos, onde eram cozidos pães, cucas, doces artesanais, além de assados de porco, rés, ovelha.
Com o advindo da tecnologia e o encolhimento das famílias, os antigos fornos foram substituídos pelas máquinas de pão, além da facilidade de comprá-lo numa padaria próximo de casa.
Em certas cidades turísticas do RS, um dos atrativos oferecidos são as padarias caseiras dos colonos, instaladas em praças públicas, onde é possível degustar receitas milenares de pães.
Desde pequena acompanhei a rotina de minha mãe. Dia sim, dia não, ela amassava uma baciada grande de massa para pão. Como as famílias eram numerosas e o pão era alimento sagrado, ele não podia faltar na mesa das famílias.
Como os colonos do minifúndio plantavam muitos cereais para a sua subsistência, na lavoura dos meus pais também plantava-se trigo, milho, soja, além de cana-de-açúcar, batata inglesa e doce, aipim, abóboras e pastagens para o gado. Na maioria dos sítios havia um pomar com diferentes árvores frutíferas como: pereiras, macieiras, goiabeiras, ameixeiras, figueiras, limoeiros, laranjeiras e bergamoteiras. A uva também era cultivada em pequenos parreirais, mas dependendo do tipo de solo, seu cultivo não era fácil.
Os colonos também possuíam em seus sítios uma horta, onde plantavam algumas hortaliças Para a sua subsistência como: alface, repolho, couve flor, rabanete, beterraba, morangos, cenouras, salsa, cebolinha, alho e cebolas.
Mas voltando ao pão. Para alimentar bem as pessoas que trabalham pesado na lavoura, as receitas de pão na maioria das casas era a base de farinha de trigo e milho ou centeio. Era um costume seguido de segunda à sexta-feira. Para os fins de semana, a massa era mais leve, à base de farinha de trigo, ovos, banha e era mais adocicada.
As crianças da casa, ao sentirem o cheiro do pão assando, ficavam ao redor da mãe. Assim que o pão saia do forno, avançavam sobre ele ainda quente.Minha mãe também fazia uma massa doce chamada cuca nos fins de semana. Às vezes era recheada, outras não. Dependia dos ingredientes que encontrava em casa.
Para mim, um dos melhores aromas existentes, é o cheiro de pão assando no forno. Quando criança, minha mãe fabricava pão em metro, pois as formas eram imensas.
Ela seguia certos rituais quando se propunha a amassar o pão. Dizia que a massa só levedava bem pela manhã, enquanto o sol subia no céu. Para ela, a massa crescia melhor e produzia mais leveza e maciez ao pão.
Após amassar e sovar, ela fazia o sinal da cruz sobre a massa. Uma forma de pedir ao pai do céu uma boa levedura para a massa. Cuidadosamente enrolava a bacia com uma toalha de mesa e guardava a trouxa num lugar longe de muita circulação de ar. No inverno, era preciso colocar a massa para crescer sobre o fundo do fogão à lenha, em cima de um pedaço de madeira, para receber calor indiretamente.
Na minha família, o pão era alimento sagrado. Não era permitido pisar sobre as migalhas com os pés. Assim que acabávamos a refeição, alguém passava a vassoura no assoalho para recolher os pedaços que haviam caído. Talvez fosse uma referência ao pão que Jesus distribuiu aos seus apóstolos antes de ser sacrificado. As hóstias distribuídas até hoje durante a cerimônia da missa nas igrejas católicas, simbolizam o pão.
Seguindo a tradição do pão, aprecio fazer e inventar receitas de pão. Fica uma delícia. E o aroma que exala na hora do cozimento é fenomenal.
Pão é tudo de bom! E viva a tradição!

Escrito por Cristawein.


Cristawein
Enviado por Cristawein em 18/04/2013
Reeditado em 18/04/2013
Código do texto: T4248118
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