PEDRO E INÊS - A MAIS BELA HISTÓRIA DE AMOR EM PORTUGUÊS (CAPÍTULO I)

O amor vivido por D. Pedro (oitavo rei de Portugal) e D. Inês de Castro foi uma mais belas histórias de amor que se viveu na corte portuguesa, quiçá em Portugal. Um misto de História de Portugal, realidade e lenda imortalizada ao longo dos séculos na literatura, na poesia e em todo o tipo de arte: pintura, escultura, música e teatro. O romance encantou o mundo inteiro como símbolo maior de um grande amor que aconteceu há mais de 650 anos.

Uma história que simboliza a mais sincera e verdadeira força do amor que levou um rei a aperceber-se da crueldade de uma decisão estatal injusta e que, ao mesmo tempo, acabou por vencer a própria morte.

A história do amor proibido de Inês e Pedro comoveu e ainda comove todos aqueles acreditam que a força do amor consegue ultrapassar todo tipo de barreiras.

Viajar no tempo é meu condão e, para aqueles que não conhecem, aqui narrarei a história que originou a célebre frase “Agora é tarde, Inês é morta!”.

Será também uma singela forma de homenagear a História de Portugal e o Amor, sentimento que, para mim, é precioso e imprescindível para que o ser humano possa ser feliz.

OS AMORES DE PEDRO E INÊS

O príncipe D. Pedro, filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra em 8 de Abril de 1320 e morreu em Lisboa, em 18 de Janeiro de 1367. Reinou por apenas 10 anos, de 1357 a 1367 (oitavo rei de Portugal), como D. Pedro I.

Como era de praxe na época, os casamentos eram arranjados desde tenra idade em função de estratégias e interesses políticos. D. Pedro I e D. Constança, princesa e filha do Infante de Castela, D. João Manuel, vieram a estabelecer matrimônio. A noiva chegou a Portugal, em 1340, acompanhada por uma dama de companhia galega, chamada Inês de Castro. Filha do fidalgo Pedro Fernandez de Castro, Inês de Castro, segundo os poetas, era uma mulher lindíssima e o príncipe Pedro apaixonou-se perdidamente por ela, negligenciando a mulher legítima, Constança, e pondo em perigo as débeis relações com Castela.

Tentando colocar empecilhos entre D. Pedro e D. Inês, D. Constança dá a Inês seu filho recém-nascido, o Infante D. Luís (1343), em batismo, com a esperança de que os laços de parentesco espiritual impostos pelo compadrio afastasse os enamorados. Mas o Infante D. Luís não chega ao primeiro ano de vida e pouco afeta os sentimentos de Inês e Pedro que, pela amada, deixou de lado as conveniências de Estado e as reprovações de todos, desprezando a corte (que considerava uma afronta aquela ligação indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava) e afrontando tudo e todos.

Inês e Pedro viviam trocando juras de amor eterno. Pedro era visto como o amante sincero, solitário, se longe da sua amada, de quem recebe amor sincero “Sem ti, o mundo deserto me pareceria“; “antes morte, que vida sem ti quero” (assim escreveu A. Ferreira na Tragédia A Castro) e a quem ama profundamente, tendo-se ela tornado na sua razão de viver “estou todo, onde vivo” (idem).

No entanto, as intrigas que chegavam ao rei D. Afonso IV apressavam o monarca a agir. Brando de costumes, mas firme de valores, o rei mandou Inês para o exílio, próximo à fronteira espanhola, em 1344. A distância, no entanto, em nada alterou tão grande paixão.

Dona Constança faleceu pouco depois, ao dar à luz D. Fernando, herdeiro do trono de Portugal. O rei tenta, novamente, casar seu filho com uma dama de sangue real. Mas ninguém poderia suster a força do amor que unia o príncipe à mulher de sua paixão. Era, de fato, tão ardente e tão profundo o sentimento do casal enamorado que Pedro, contra ordem de seu pai, pediu que Dona Inês fosse para Coimbra. Acabava, assim, o desterro em Albuquerque, e começava uma nova fase da vida para os dois, finalmente juntos.

A existência de Pedro e de Inês era imensamente feliz. Viviam, despreocupadamente, o seu idílio nas bucólicas margens do rio Mondego, no Paço de Santa Clara, na bela cidade de Coimbra.

Desta relação nasceram quatro crianças: o primeiro chamou-se Afonso, o nome do avô, mas morreu criança de tenra idade; os outros, dois meninos, João (futuro rei de Portugal, D. João Mestre de Avis), Dinis e uma menina, a Infanta Beatriz, que só vieram a agravar o relacionamento entre o príncipe e o rei.

Estes acontecimentos levaram a grande tumulto na corte e deram um enorme desgosto a D. Afonso, tendo a relação entre os dois, pai e filho, se agravado. O rei continha, apesar de tudo, o seu furor pela assumida desobediência do Infante. O soberano não queria, por sua vontade, entrar em guerra com o filho porque sabia, por experiência própria, como eram terríveis as contendas familiares e o desgosto que causaria a Dona Beatriz, sua mulher, a violência contra o filho herdeiro.

Para incendiar mais ainda a situação, as más línguas quiseram fazer crer a D. Afonso que os Castros (familiares de Inês) queriam ver o Infante Fernando, filho de Pedro e Constança, assassinado, uma vez que era ele o sucessor de Pedro, e não os filhos resultantes da sua união com Inês. O monarca sente-se amargurado e vê-se no meio de uma trama que só ele poderia resolver. Tomou então uma decisão drástica: por influência de seus conselheiros Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, em reunião convocada sem a presença de D. Pedro, foi decidida a execução de Dona Inês.

Os primeiros tempos do ano de 1355 iriam testemunhar uma tragédia de sangue. O príncipe D. Pedro nem presumia o que estava para acontecer quando se despediu da sua querida Inês e seus filhos para iniciar uma caçada de montaria pelos montes e florestas da Beira, a cavalo, com nobres amigos e escudeiros.

No dia 7 de Janeiro, ao cair da noite, Inês de Castro foi surpreendida pela chegada do rei e seus conselheiros. Quando o luar brilhou no firmamento veio encontrar a pobre Inês sem vida, degolada friamente pelo punhal de severo carrasco. Em segundos, seu vestido tingiu-se de vermelho e, na ferida feita no seu pescoço, a vida se lhe escapou.

Apesar de ser mãe de quatro filhos de D. Pedro, apesar de suas súplicas, decapitaram a jovem com apenas 30 anos de idade.

Não houve lágrimas nem gemidos de crianças inocentes que impedissem a execução da vítima.

Nunca, na história de Portugal, houve ou haveria um crime de horror tão inclemente. Dizem os relatos da época que seus filhos assistiram a tamanha crueldade, o que fez exaltar o lado mais obscuro e cruel de D. Pedro.

Ao tomar conhecimento da morte de Inês, D. Pedro arrebatou de cólera e raiva. O seu temperamento intempestivo reagiu com a ferocidade de um tigre ferido. Chamou às armas nobreza e povo de sua confiança, levantou Trás-os-Montes e Douro pela sua causa e desafiou o rei, seu pai, para uma guerra. Felizmente, a intervenção de sua mãe, a rainha D. Beatriz conseguiu evitar o pior e levou os contendores à Paz de Canavezes, nos arredores da cidade do Porto.

Feitas as pazes, El-Rei exige que D. Pedro não persiga os matadores de Inês de Castro e o príncipe garante já os ter perdoado. O rei, desconfiado, aconselhou-os a exilarem-se em Castela. Em 1357, cai no leito de morte.

Dois anos depois da morte de D. Afonso IV e de sua subida ao trono, aos 37 anos, D. Pedro I ordenou a captura dos assassinos de D. Inês. O ódio que tinha aos conselheiros atirou-os para o calabouço da prisão; escapou, por sorte, Diogo Lopes Pacheco, que fugiu a tempo para França.

A vingança foi consumada nos paços de Santarém. D. Pedro mandou amarrar as vítimas, cada uma a seu poste, enquanto os cozinheiros da Corte preparavam um lauto banquete. O rei não poupou requintes de horror no castigo implacável. Mandou o carrasco tirar a um, o coração pelas costas, e a outro, o coração pelo peito. Por fim, como sentisse que não bastava a tortura tremenda, ainda teve coragem para trincar aqueles corações, amaldiçoando-os para sempre.

Devido a esse ato, foram-lhe atribuídos vários cognomes: Justiceiro (aquele que gosta de fazer justiça), Cru e Cruel.

Dizem ainda os relatos e as obras de poetas da época, que D. Pedro se desvairou a ponto de fazer coroar Inês, depois de morta, e obrigar a nobreza, que tanto os tinham desprezado, a beijar-lhe a mão de rainha. Houve alguém que proferiu uma frase que ficou célebre e ainda hoje é bastante usada:

"Agora é tarde, Inês é morta!"

Cumprida sua vingança, D. Pedro I ordenou a trasladação do corpo de Inês, da campa modesta no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde se encontrava, para um túmulo delicadamente lavrado, qual renda de pedra, que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. Mais tarde, mandou esculpir outro túmulo semelhante ao da sua amada, colocando-o em frente ao da sua Inês, para, após a sua morte, permanecer ao lado do seu grande amor.

Diz-se que o soberano tivera o cuidado, ao dispor o seu túmulo e o de sua amada no referido mosteiro, de postar as lápides, não lado a lado, mas pé com pé. Para que quando ambos acordassem, no juízo final, pudessem olhar-se nos olhos.

Símbolos de amor eterno, os dois túmulos vieram a ser os grandes expoentes da arte tumular medieval portuguesa. Os baixos relevos do túmulo de D. Inês representam cenas da vida de Jesus, da Ressurreição e do Juízo Final. Sobre a tampa está esculpida a imagem de Inês, de corpo inteiro, com coroa na cabeça como se fora rainha. As esculturas do túmulo de D. Pedro representam cenas da vida dos dois apaixonados desde a chegada de Inês a Portugal. Por sua ordem, os dois túmulos foram colocados dentro da igreja, à mão direita, cerca da capela-mor do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

Quis ele mostrar que o grande amor que os uniu na vida, continuaria após a morte. Uma verdadeira história de amor, vivenciada na corte portuguesa: uma história com História, sublime e trágica, cheia de emoção e encanto, demonstrando toda a devoção entre um homem e mulher que se amaram para todo o sempre.

FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO

(22/01/2011)

Ana Flor do Lácio

(Leia também: PEDRO E INÊS - A MAIS BELA HISTÓRIA DE AMOR EM PORTUGUÊS CAPÍTULOS II, III e IV)

Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 29/01/2011
Reeditado em 29/08/2018
Código do texto: T2759084
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