Sequência encantadora (publicado originalmente em 17/12/2022)

Há determinados filmes que necessitamos rever após anos se passarem. Eu devia ter uns 18 ou 20 quando assisti, numa dessas sessões da madrugada, ‘O Entardecer de uma Estrela’ (1996 – na íntegra no youtube). Odiei. Considerei arrastado, cafona, fiquei sem entender alguns pontos. Óbvio.

O longa, não sabia, era a continuação de ‘Laços de Ternura’ (1983 – tema da coluna da semana passada), que não tinha visto ainda. Avançaram os anos. Assisti a ‘Laços’ tempos atrás e recentemente revi ‘O Entardecer’. Levei um choque. Antes, para nos situarmos: a história começa em 1988, uns 15 anos após a morte de Emma, filha de Aurora (Shirley MacLaine), e a família está destroçada – dos 3 netos (filhos de Emma), um está preso e rejeita a avó, outro vive com problemas financeiros e a caçula é rebelde, quer ir morar com o namorado em outro Estado (repetindo a mãe).

Aurora segue difícil de agradar e procura ajuda do psicólogo Jerry, com quem se envolve, ao mesmo tempo em que briga com Patsy, melhor amiga de Emma. Nesta ‘parte 2’, o personagem de Jack Nicholson, o astronauta beberrão e mulherengo Garret, surge no terço final, onde dialoga com Aurora por poucos minutos, e ambos se recordam ‘dos velhos tempos’.

Mas o que sequestrou a minha emoção e me fez chorar foi o passar dos anos das nossas próprias vidas. Digamos que me enxerguei ali. E não por causa de semelhanças com as pessoas, mas por situações que a trajetória nos obriga a passar, como as mortes que encaramos de frente e a velhice indelével dos familiares e amigos.

Este é o tema central: o desenrolar dos anos. Tenho a certeza de que, se eu for rever ‘O Entardecer de uma Estrela’ daqui 15 ou 20 anos, derramarei 5 ou 10 vezes mais lágrimas, pois é isso o que a fita quer que percebamos. A interpretação de MacLaine, tal qual em ‘Laços’, é sublime. Alterna em certas cenas comicidade e tristeza, onde seu semblante muda com uma mera troca de olhar ou um gesto com as mãos. Robert Harling assinou a direção, se saiu muito bem. Duração: 129 minutos. Cotação: ótimo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 19/01/2023
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