Aos pedaços (publicado originalmente em 14/3/2020)

É muito bom quando a Academia de Artes, que elege os finalistas do Oscar, aponta alguns trabalhos inteligentes e os misturam com blockbusters.

No caso da categoria Animação, ao mesmo tempo em que colocaram bobagens como 'Como Treinar o seu Dragão 3' e 'Toy Story 4', votaram também em 'Perdi meu Corpo' (2019, Netflix), desenho francês que tem um pouco de tudo: filosofia, psicologia, solidão, amor platônico e comiseração.

Duas tramas se alastram de modo simultâneo: a da mão decepada que escapa de um laboratório de dissecação e perambula pela cidade em busca do seu corpo e a de Naoufel, garoto de uns 18 anos que tenta ganhar a vida na periferia de Paris.

Fundindo cenas de flash backs com as atuais, 'Perdi meu Corpo' mostra que tem algo a dizer e não está ali só de passagem. A angústia do protagonista diminui quando ele conhece Gabrielle e se apaixona.

Faz tudo para ficar perto dela e a sua satisfação é apenas olhá-la a distância, e se tiver sorte trocar 2 ou 3 palavras, jogar conversa fora por alguns segundos.

A vida de Naoufel não foi fácil. Batalhou para ter pouco. O diretor Jérémy Clapin tem a nobre preocupação de escapar do politicamente correto. Exibe a pobreza, mas sem explorá-la propositalmente.

As sequências são cruas sem serem cruéis. Os perrengues do menino se assemelham aos da mão solitária, que enfrenta bueiros, ratos, formigas, lixo, enfim, toda a sorte de constrangimentos.

Naoufel começa a fita trabalhando como entregador de pizza e por causa de Gabrielle arranja outra ocupação, numa marcenaria. O desenho em si é limpo, cheio de cor, vivo, e com traços fortes, portentoso.

Clapin se preocupa com os detalhes e seu esmero é digno de aplausos. O roteiro de Clapin e Guillaume Laurant faz jus à história, que não é para crianças.

Nos últimos anos, há animações de gabarito que concorrem ao Oscar, mas não ganham. 'Com Amor, Van Gogh' (2018), 'Anomalisa' (2016), 'Chico & Rita' (2012) e 'O Mágico' (2011), para ficar nos mais novos, são exemplos sensacionais. Duração: 81 minutos. Cotação: ótimo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 16/03/2020
Código do texto: T6888975
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.