Duelo de titãs (publicado originalmente em 8/2/2020)

A magia do cinema é rápida. Bastam algumas cenas de 'Dois Papas' (2019, Netflix) para que nos convençamos que Jonathan Pryce ('A Esposa', 2017) e Anthony Hopkins ('O Silêncio dos Inocentes', 1991) são os papas Francisco e Bento 16.

Com os bons atores o processo funciona desta forma. O mais recente trabalho do diretor Fernando Meirelles ('Cidade de Deus', 2004) é um duelo de titãs: durante o filme os embates entre a dupla são espetaculares, sem exageros.

Meirelles tem a preocupação em contextualizar a trama e explora em demasia o passado de Jorge Bergoglio (Pryce), desde a infância e adolescência, até o envolvimento com a ditadura argentina.

Os laços com questões sociais nas veias do sulamericano contrastam com a frieza, austeridade, conservadorismo e até um pouco de antipatia do alemão Joseph Ratzinger (Hopkins), pintado em verso e prosa como nazista pelos progressistas.

'Dois Papas' aborda a transição entre a renúncia de Bento 16 e a ascensão de Francisco. Todos os trâmites das eleições do Vaticano estão ali. Quem não ficou surpreendido quando em fevereiro de 2013 foi noticiado que o papa europeu abdicou do cargo em favor de uma 'nova era' ao catolicismo?

Ratzinger estava prestes a completar 86 anos e se sentia fatigado. Ademais, estava às voltas com denúncias de corrupção e pedofilia. Alguns, inclusive, o acusavam de ser conivente com os fatos e acobertar os crimes para que a igreja ficasse ilesa.

O roteiro de Anthony McCarten ('O Destino de uma Nação', 2017) é o ponto forte e mereceu estar entre os finalistas do Oscar. Mas não tem como falar da fita e deixar de lado o tal duelo que citei.

Pryce e Hopkins imprimem traços de simbolismo teatral ao longa. São 2 profissionais experientes. Isto conta demais. Apesar de haver a tendência de Meirelles em abusar do quadro atual, e ele próprio confessar que fez isso devido 'ao mundo atual e seus problemas', 'Dois Papas' se sai bem no fim das contas.

Gosto de produções mais enxugadas, e não me refiro à duração, mas à simplicidade. A película não precisa de muito para estourar a boca do balão.

Bastam 2 ótimos atores, um diretor competente e o resultado é o aplauso sincero, apesar de estarem ali algumas cenas que pode-se perceber serem totalmente arranjadas para deixar Bento XVI de calças curtas e elevar Francisco ao 'céu'. Duração: 125 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/02/2020
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