Vamos falar de Oscar (publicado originalmente em 19/2/2013)

Dos indicados a melhor filme, meu gosto recai sobre ‘Lincoln’ e ‘Amor’. Duas realizações para se tirar o chapéu. Na dupla, tudo se encaixa: elenco, direção, roteiro etc. ‘A Hora Mais Escura’ é tenso e denso. A primeira impressão de ser pesado se confirma ao longo da fita. Sobre ‘As Aventuras de Pi’, ‘Django Livre’ e ‘O Lado Bom da Vida’ já comentei aqui. ‘Indomável Sonhadora’ é um independente cruel, tocante e quente, no sentido de ser bem interessante, mas não tem chance de levar. ‘Argo’ e ‘Os Miseráveis’ correm muito por fora, apesar de ter qualidades. O segundo, por exemplo, é um musical cujas quase três horas não vemos passar. Transforma toda a França numa imensa cantoria política.

Do quinteto de diretores, Steven Spielberg (‘Lincoln’) é melhor pelos cantos, mais experiente. Porém Michael Haneke (‘Amor’) dá uma aula de comando de atores. Torcerei por sua vitória. David O. Russel (‘O Lado Bom da Vida’) pegou um roteiro trivial e fez o feijão com arroz igualmente trivial. Ang Lee (‘As Aventuras de Pi’) se reinventa a cada trabalho, lidou com computadores. Está mediano. Por fim, Benh Zeitlin (‘Indomável Sonhadora’) conseguiu proeza de se sair bem. Ele é um habilidoso.

Entre os atores, ansiar pela vitória de outro que não seja Daniel Day Lewis (‘Lincoln’) é besta teimosia. Joaquin Phoenix (‘O Mestre’) é ótimo como o torto Freddie, seguidor de um líder religioso. Uma de suas melhores atuações. Hugh Jackman (‘Os Miseráveis’) está regular. Canta bem, mas não sabe se impor. Bradley Cooper (‘O Lado...’) surpreendeu, sinceramente. Denzel Washington (‘O Voo’) está brilhante como o piloto drogado e alcoólatra à beira de um faniquito de remorso. Aplausos a ele.

No quadro das atrizes, dizem que Jennifer Lawrence (‘O Lado...’) é a favorita. Discordo. Voto em Emmanuelle Riva (‘Amor’). Não é possível que somente eu veja que seu trabalho fulgura e talvez esteja à altura de Elizabeth Taylor em ‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’ (1966) e Gloria Swanson em ‘Crepúsculo dos Deuses’ (1950). Jessica Chastain (‘A Hora...’) está tal qual o longa: tensa, densa e presa precisamente ao script. É linda, merece a estrela de boa conduta. Naomi Watts (‘O Impossível’) se acaba na tragédia da história da trama. É impecável, mas não supera Emmanuelle. Por fim, temos Quvenzhané Wallis (‘Indomável Sonhadora’), 9 anos. Uma graça. É finalista por puro merecimento.

Dos atores coadjuvantes, o Oscar deve ficar com Christoph Waltz (‘Django Livre’). Levara há três anos por ‘Bastardos Inglórios’, do mesmo Tarantino e deve repetir a façanha. Philip S. Hoffman (‘O Mestre’) convence com o papel-título, entretanto não supera Capote (2005), onde também era o protagonista (o jornalista Truman Capote) e levou o prêmio de ator principal. Robert DeNiro dá seu sangue por ‘O Lado...’. É como bem disse a crítica Isabela Boscov, da revista ‘Veja’: ‘foi a primeira vez em anos que vi DeNiro trabalhar, e não ir simplesmente ao trabalho’. Alan Arkain (‘Argo’) é o diretor do filme fictício que usarão para resgatar os reféns americanos do Irã. O ator está sóbrio na atuação. Tommy Lee Jones (‘Lincoln’) se sai bem como político. É o segundo melhor, logo abaixo de C. Waltz.

Das coadjuvantes, dar a estatueta a Anne Hathaway (‘Os Miseráveis’) por conta dum número musical mostra que a safra 2012 foi fraca do lado das secundárias. Ela emagreceu pra o papel, raspou os cabelos, enfim, se sacrificou. Merecer vencer são outros quinhentos. Em minha visão, Sally Field (‘Lincoln’) é a destacável. Faz a esposa feroz do presidente e se entende bem com o texto, traquejos e truques das câmeras. Adorei rever Helen Hunt (‘As Sessões’). Desde ‘Melhor é Impossível’ (1997) ela não ficava em relevo (e ela trabalhou com Woody Allen em 2001 por ‘O Escorpião de Jade’). Prestes a completar 50 anos, cheia de botox no rosto, ousou com nudez frontal, jogando formalmente o pudor para escanteio. Amy Adams não fez jus à indicação (‘O Mestre’). Está apagada, diz duas ou três frases com os olhos esbugalhados e só. Jacki Weaver (‘O Lado...’) se firma depois de ‘Reino Animal’ (2010).

Dos filmes estrangeiros, ‘Amor’ (da Áustria) é favorito. Kon-Tiki (Noruega) é mais fraquinho e lento. Aborda a aventura de Thor Heyerdahl no Oceano Pacífico da América do Sul à Polinésia, em 1947. ‘O Amante da Rainha’ (Dinamarca) e ‘A Feiticeira de Guerra’ (Canadá) são regulares, mas têm seus méritos. O vice é ‘No’ (Chile) sobre o plebiscito de 88 para escolher se Augusto Pinochet deveria ou não seguir seu governo militar. Tem Gael Garcia Bernal no elenco como o publicitário responsável pela campanha do ‘Não’. É imperdível, com a câmera fazendo enquadramentos antigos e tem a luz de filmagem amadora, feita propositalmente. Agora vamos esperar para ver. O Oscar começa às 22h30.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 19/02/2013
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