Porque deixei de torcer pelo Brasil nas Copas (texto-bônus ao Recanto das Letras)

A data: 7 de julho de 1998. Estava com 16 anos e em três meses começaria a fazer provas de vestibular para seguir a carreira no Jornalismo. Neste dia, o Brasil congelou. Era semifinal de Copa do Mundo e todos os brasileiros compareciam. A Holanda, a adversária, seria ali uma mera reprise do ocorrido quatro anos antes, no Mundial dos Estados Unidos de 1994, quando o país eliminou o antigo ‘carrossel’ por 3 a 2 com a patada vital de Branco. Porém, o jogo na França foi apertado. Ronaldo, então Ronaldinho, abriu o placar com menos de um minuto do segundo tempo. Os holandeses empataram e o Brasil ganhou nos pênaltis. Isso não importa. Fiz este rodeio para relembrar que foi exatamente este gol do atacante tupiniquim o último que comemorei do Brasil.

Vários fatores me levaram a abandonar o barco verde e amarelo. Primeiro: a arrogância dos brasileiros em geral, e me coloco no grupo. As frases ‘somos os melhores’, ‘ganhamos mais que todo mundo’, ‘ninguém pode com a gente’ e ‘a Copa já está garantida’, dentre tantas outras, são ingredientes iniciais. Comecei a notar isto já logo depois do torneio de 1998 quando Vanderlei Luxemburgo assumiu a seleção brasileira e convocou jogadores de estirpes nada nobres. Não citarei nomes. Aí na sequência vieram denúncias contra o treinador. Já tinha deixado de torcer pelo Brasil neste ínterim. Vou mais além: comecei a vibrar quando os canarinhos eram derrotados. Vibro até hoje.

Em segundo lugar, a falta de comprometimento de atletas. E aí a culpa é do capital, pois o dinheiro urra mais alto neste ponto. Foi como escreveu Ruy Castro: ‘Na Europa, os jogadores atuam no calendário organizado, em times entrosados, ganham milhões e são idolatrados pelos torcedores. Quando têm de disputar partidas pelo Brasil, chegam em cima da hora, encontram um time desentrosado, ficam sem tempo para treinar e, se ganham, não fizeram nada além da obrigação. Se empatam ou perdem, são massacrados pelo público e crítica.’ Pois é. Por este motivo que muitos pedem dispensa em campeonatos que valem a pataca de nem um níquel de consagração, como Copa América e Copa das Confederações. É dose lidar com gente assim.

Terceiro ponto: a displicência dos jogadores. Recordo aqui dois fatos, ambos em Olimpíadas, cujo ouro no futebol o Brasil não conquistou até hoje, desde 1896. Em 1996, os brasileiros terminaram com a medalha de bronze e se recusaram a recebê-la na cerimônia oficial do Comitê Olímpico. Claro, sendo o primeiro lugar para a Argentina e o segundo da Nigéria, seria ‘humilhante’ aos atletas como Ronaldinho, Sávio, Roberto Carlos e Bebeto ficarem na parte de baixo do pódio. Alegando falta de tempo, os jogadores, visivelmente constrangidos, receberam o bronze logo após golearem Portugal na disputa pelo terceiro lugar. Uma vergonha.

E vexame tão ou mais que este se deu em 2008. De novo terceiro, a seleção deu de ombros à premiação. Ficou extremamente relapsa. Deu até para ver Ronaldinho Gaúcho falando ao celular enquanto todas as medalhas eram distribuídas.

Quarto: o oba-oba de torcedores e imprensa sobre jogadores que nada jogam. Nesta festa eu nunca estive metido. Exemplo: Ronaldinho Gaúcho e Robinho. Ambos somente fazem firula. São mestres. O do Sul levou dois canecos de melhor do mundo em 2004 e 2005 com malabarismos. Robinho chegou e nada fez de bom no Real Madri e Manchester City. E todos o veneravam. Alguns até os reverenciam ainda. Simplesmente, não dá.

O quinto motivo é o favorecimento que o Brasil contou nas Copas. E isto fui pesquisando e averiguando ao longo do tempo. Os títulos de 1962, 1994 e 2002 deveriam ser anulados. O bi pelos passos de Nilton Santos na semifinal contra a Espanha e a presença de Garrincha na final, pois no confronto com os espanhóis ele foi expulso. Deveria estar suspenso da decisão. No tetra, o gol de Branco foi lance de boxe. Antes de o lateral ser derrubado deu um soco no adversário e o juiz deixou seguir.

No penta foram as mais visíveis. Já na estreia, no pênalti marcado a favor do Brasil contra a Turquia a falta foi fora da área. Depois, Rivaldo fingiu ser atingido no rosto por uma bolada e um turco foi expulso. Nas oitavas, os belgas abriram o placar legitimamente, mas o árbitro anotou infração do atacante. Se a Bélgica saísse na frente, será que o Brasil faria os dois gols? Na final, no primeiro gol de Ronaldo, ele estava impedido. Então, é impressionante que haja pessoas que defendam que o Brasil deve sempre ganhar as Copas. Não! Já ganhou muito. Em três dos cinco títulos teve algo de anormal.

Não torço mais pelo Brasil e isto não me dói nada.

Não peço a vocês que façam o mesmo. Seria demais.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 12/04/2010
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