Entrevista de Juca Kfouri (publicada originalmente em 16/8/2006)

“Até Lula caiu nos braços de Ricardo Teixeira”, diz Kfouri

Juca Kfouri é um jornalista esportivo diferenciado. Nunca fez programas sensacionalistas, onde a notícia “em primeira mão” é o objetivo principal, por exemplo. Além disso, é contra atrações deste tipo nas quais se veiculam comerciais dentro delas. “Os camelôs da TV”, como ele denomina, ou o “camelódromo”, termo que também vale, é combativo por este paulista de 56 anos. Em meio aos seus atribulados trabalhos (atuais) na Internet, rádio e jornal, concedeu a esta coluna uma entrevista.

Assim, Coisas de Cinema deixa hoje a sétima arte de lado para ouvir os pensamentos deste (acreditem!) ex-jogador de basquete chamado José Carlos do Amaral Kfouri, acostumado à notícia bem dada. E apurada. É a quarta entrevista veiculada por Coisas de Cinema. As outras tiveram como protagonistas o cineasta Cacá Diegues, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho e o apresentador de TV Marcelo Tas. A seguir, a entrevista:

Você é um jornalista esportivo que sempre se preocupa mais com o torcedor a propriamente o espetáculo do futebol? Qual a sua análise atual do Estatuto do Torcedor? Em quais aspectos ele tem ajudado os torcedores?

Não diria que me preocupo mais com o torcedor. Discordo da sua afirmação. É por me ater demais ao espetáculo do futebol em si, me preocupo, isso sim, com seu principal ator, o torcedor. Ele tem em seu estatuto o melhor meio possível para defender seus direitos. Tanto que todos eles, ou a maioria deles, têm se baseado neste documento para acionar a justiça quando se sente prejudicado. E têm ganhado suas causas. É necessário divulgar mais e melhor o Estatuto do Torcedor para que ele, como se diz no Brasil, “pegue” de vez.

Porquê, na sua opinião, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, está cada vez mais se perpetuando no comando da confederação? Até que ponto os clubes e cartolas influem nesse tipo de decisão?

É simples: porque o poder de sedução do futebol é tamanho que até o presidente Luís Inácio Lula da Silva caiu nos braços do presidente da CBF, o senhor Ricardo Teixeira (que está presidente desde 1989 e pouco tempo atrás prorrogou seu mandato até 2014). É preciso dizer mais? E eu estou falando do Lula hein...

Como corintiano, de todos os presidentes que o clube já teve, quais você mais admira e quais aqueles que, para você, não deixaram ou não deixarão saudades?

Admirar mesmo apenas um: Waldemar Pires (presidente do Corinthians entre 1981 e 85). Ele teve a sabedoria de abrir espaço para a Democracia Corintiana, de Sócrates, Casagrande, Wladimir e companhia. Claro que, pelo lado folclórico, Vicente Matheus (presidente do clube por oito mandatos, entre 1959 e 1993) despertava em mim muito carinho.

Seu blog no site do UOL (Universo Online) ultrapassou recentemente a marca de 10 milhões de visitas. A que você atribui esse sucesso? Entrar no mundo da Internet foi fácil para você, que saiu de redações de revistas e jornais?

Sinceramente, atribuo tudo isso à força que tem o provedor UOL, à força que tem o futebol como tema em si e a força do jornalismo independente. E, em relação à mídia, é tão fácil, ou tão mais difícil, de como escrever para jornais ou revistas, de onde ainda não saí, já que permaneço na Folha de São Paulo, embora, de fato, minha formação profissional tenha se dado basicamente em redações de revistas mesmo.

Porquê a CPI do futebol acabou “em pizza”? A opinião de seu amigo e também jornalista, Jorge Kajuru, de a Rede Globo ter adquirido os direitos de transmissão das Copas por um preço mais baixo que o esperado, é uma das razões?

Para mim, a CPI do futebol não acabou em pizza. E tenho algumas razões para explicar isso. Em primeiro lugar, porque simplesmente ela não acabou, tanto que o presidente da CBF, já citado aqui, acaba de ser, mais uma vez, denunciado pelo Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro. Além do mais, o mero fato de a opinião pública ter tomado conhecimento de tudo que essa comissão revelou já teve uma enorme valia.

Dos jogos que você assistiu em estádios, qual deles mais te emocionou e marcou?

Foram três: a decisão do Campeonato Paulista de 1977, no Morumbi, entre Corinthians e Ponte Preta. Foi no dia 13 de outubro daquele ano que o Corinthians saiu de uma fila de quase 23 anos, quando ganhou absolutamente nada. O outro jogo foi a derrota da seleção brasileira na Espanha na Copa do Mundo de 1982. Eu estava no Sarriá e vi Paolo Rossi marcar três gols contra a gente. Aquilo doeu muito. Foi uma das maiores tristezas da minha vida. E por último, a decisão do Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, em 2000, no Maracanã, quando o Corinthians levantou a taça de campeão mundial de futebol. Tanto em 1977 como em 2000, vivi as maiores alegrias cobrindo o futebol e como torcedor.

Para você, qual foi o melhor técnico brasileiro de 1950 para cá e o melhor jogador brasileiro, com a exceção de Pelé, que, como diz o ex-jogador do Santos, Pepe, “não é deste mundo”?

O melhor técnico, sem sombra de dúvida, foi o mestre Telê Santana, o Fio da Esperança. O que ele fez na seleção brasileira (comandou as equipes nas Copas de 1982 e 1986), no Atlético mineiro (campeão brasileiro em 1971), no Grêmio e finalmente no São Paulo (duas Taças Libertadores e dois campeonatos do mundo) foi uma coisa extraordinária. E o melhor jogador, depois do Rei, foi, também sem um pingo de dúvida, Mané Garrincha, que ganhou sozinho a Copa do Mundo do Chile em 1962, depois que Pelé não pôde mais jogar por estar machucado.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/10/2009
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