Entrevista de Marcelo Tas (publicada originalmente em 23/11/2005)

“O teatro é a mídia mais interativa, de banda larga que existe”, diz Tas

Marcelo Tristão Athayde de Souza está à beira dos 50. É o típico homem-mídia: passou pela televisão, cinema, rádio, Internet, e atualmente está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “Como chegamos aqui – A história do Brasil segundo Ernesto Varela”. Fazer teatro o deixou maravilhado. Tudo soa como antes: óculos cor de sangue, calvície avantajada, gravata. Só Valdeci, o câmera, não está lá.

Tema desta coluna em agosto de 2004, o caipira Marcelo Tas (nasceu em Ituverava, interior de São Paulo) não cabe em um só. Ele é vários. E demonstra isso na entrevista que concedeu a Coisas de Cinema. Comenta sobre televisão, política, conta boas histórias e revela qual seria (ou será) a pergunta que Ernesto Varela faria (ou fará) a Lula e José Dirceu caso fique cara a cara com eles algum dia. Enfim, estas linhas se tornam escassas quando se trata de Tas (sobrenome que criou juntando as primeiras letras de seus três sobrenomes reais). Daria um livro de mais de 400 páginas.

Esta é a terceira entrevista publicada neste espaço. As outras duas foram com Rubens Ewald Filho, crítico de cinema, em 17 de agosto deste ano, e Carlos Cacá Diegues, diretor de cinema, em 26 de junho de 2004. A seguir, a entrevista:

Vamos começar por sua infância. Você já se interessava por mídia? Via que programas de TV e de rádio? Teve influência de seus pais?

Tive uma infância muito livre e rica em amizades e traquinagens, na minha cidade natal, Ituverava, interior de São Paulo. Passava a maior parte do tempo brincando na rua. Só fui me interessar por TV

velhinho, com cerca de dez anos, quando vi o homem descer na lua, ao vivo, em 1969. Sempre fui fã de rádio. Tinha um rádio alaranjado que ouvia na cama, à noite, estações do Rio de Janeiro. Marcou-me muito o grande DJ da época, o Big Boy, da Rádio Mundial.

Como surgiu a idéia de fazer o repórter Ernesto Varela, tendo Fernando Meirelles como um de seus cinegrafistas, todos de nome “Valdeci”?

No início dos ano 80, eu fazia teatro no grupo do diretor Antunes Filho. Um dia o Fernando apareceu por lá com o pessoal da “Olhar Eletrônico” [equipe de vídeo amadora que tentava entrar para a TV]. Eles estavam a fim de fazer ficção para televisão, mas não tinham experiência com atores. Conheci a primeira câmera e ilha de edição de vídeo. Fiquei louco com aquilo e acabei deixando o Antunes e até mesmo a faculdade. Mergulhei de cabeça e algum tempo depois já começamos a fazer as primeiras experiências que foram dar no Varela. Todos nós éramos tímidos, não gostávamos de aparecer na frente da câmera. Um dia, com o Fernando comecei a brincar de fazer um repórter de mentira. O pessoal acreditou. E até hoje estou aí, fazendo o Varela.

Continuando com Varela, as perguntas que você fazia eram, digamos, “interessantes”. Que perguntas Ernesto Varela faria hoje para o presidente Lula e para o deputado José Dirceu, por exemplo?

Seria: “Por que vocês insistem em não aprender a falar português direito?”

Você já trabalhou na TVs Cultura, SBT, Globo, Record, Manchete, Gazeta, MTV e ESPN. Ou seja, das emissoras abertas, você apenas não esteve na Bandeirantes. Quais as piores e melhores lembranças que você tem dessas estações?

Penso que tive muita sorte em cada lugar que trabalhei. Sempre fui convidado a ser irreverente e propor novidades. Mas a batalha é sempre árdua. E para alcançar algum resultado temos que ralar com muita paixão e determinação.

Em entrevista ao programa “Provocações”, da TV Cultura, você afirmou que teme pelo futuro do SBT: “Se o Silvio Santos der um espirro, aquilo vai a falência em um mês”, você disse. Na sua opinião, o que acontecerá com a emissora quando Silvio Santos não estiver mais por aqui?

Apesar de um grande artista popular e genial comunicador, infelizmente, o Silvio Santos não soube valorizar, manter e aperfeiçoar as conquistas criativas do SBT: Jô Soares, Marilia Gabriela, Lilian Witte Fibe, Boris Casoy, Sergio Groismann... Parece que ele pensa que vale conseguir audiência a qualquer custo. Hoje o seu canal perdeu muito do charme já conquistado.

Ao passear por todas as mídias, você teve a oportunidade de se expressar para todos os tipos de público. Fez cinema também. Existe diferença entre esses públicos?

O maior prazer que já tive é o atual, fazendo teatro, com o Ernesto Varela contando a história do Brasil. O teatro é a mídia mais interativa e de banda larga que existe.

Você estudou em Nova Iorque, num tipo de sistema educacional completamente distante do brasileiro. A educação no Brasil tem solução?

Educação custa caro. Deve ser uma estratégia do estado. Aqui no Brasil não conheci um só governo que realmente desse prioridade para a Educação. É só papo furado. Enquanto isso não mudar, não vamos nunca sair dessa indigência cultural e principalmente da desigualdade social criminosa que nos angustia. Esses projetinhos de dar dinheiro, cesta básica... É tudo paliativo. É como colocar band-aid sobre uma ferida com câncer. O Brasil precisa urgentemente de um governante que acredite que a Educação deve ser a principal prioridade do seu governo.

Qual sua opinião sobre a TV aberta do Brasil? Não há mais espaços para atrações como as que você roteirizou, como “Programa Legal” e “Netos do Amaral”?

A TV brasileira é muito criativa. E o maior responsável por isso é o público, sempre insatisfeito e crítico com a qualidade. Portanto, sempre existe necessidade de inventar mais. O dirigente de TV que não vê isso é cego.

Por que você deixou a apresentação do “Vitrine”? E qual sua avaliação sobre a nova dupla de apresentadores: Sabrina Parlatore e Rodrigo Rodrigues (que trabalhou com você no Vitrine)?

Fiquei seis anos por lá. Penso que dei a minha contribuição para o programa que aprendi a gostar muito. Estava na hora de abrir lugar para gente nova e animada, como a Sabrina Parlatore e o Rodrigo Rodrigues.

Qual filme você recomenda para ver?

Recomendo a todos “Cidade Baixa”, com a sensacional Alice Braga [sobrinha da atriz Sônia Braga].

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 11/10/2009
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