Os ratos da Pixar (publicado originalmente em 12/7/2007)

Férias, sejam elas em janeiro, dezembro, julho – é sinônimo de cinema superlotado de crianças. É muitíssimo justo oferecer aos pequenos seres filmes correspondentes às suas faixas etárias. Com as devidas exceções, à parte das direções da lata de lixo que merecem produções estratosféricas do tipo “Quarteto Fantástico” (2007) ou “Piratas do Caribe 3” (2007), há coisas boas em exibição nos ecrãs. E, sem dúvida, o desenho “Ratatouille”, que estreou sexta-feira passada no Brasil, é o destaque desta safra. Estoura um gigante sucesso dos estúdios da Pixar, em parceria com a Walt Disney. A história é protagonizada por Remy, um ratinho com faro apurado para comida e temperos. Separado da família por um acidente, cai entre os bueiros na bela Paris, berço da melhor culinária do planeta e local onde está o restaurante de Auguste Gusteau, famoso cozinheiro cujo programa de televisão é admirado por diversos fãs. Mas Gusteau morre de depressão após o crítico de culinária Anton Ego o detonar no renomado jornal da Cidade Luz. Remy, nesta feita, ajudará Linguini, filho não-reconhecido do chef Gusteau, a trazer o antibistrô à lista dos melhores pratos. Todo o roteiro de Brad Bird, que também assina a direção (já esteve à frente de “Os Incríveis”, de 2004), é fenomenal do início ao fim da fita.

Claro, há os lugares-comuns, como, por exemplo, quando o rato corre perigo por debaixo dos carros, ou ao despencar das cachoeiras dos esgotos. Nota-se que a produção deseja ‘se exibir’. “Veja o quanto podemos fazer...” Mesmo desta maneira, o filme não se perde em seu conteúdo. Junto com Remy e Linguini estão outros personagens tão ou mais bem elaborados. A cozinheira Colette, o chef mal caráter Skinner, além de Emile (irmão balofo de Remy) e Ego, o jornalista durão. Não por acaso, “Ratatouille” (lê-se ratatúia, comida cujos ingredientes eu desconheço) pega alguns vícios de demais obras (o filho longe de sua família, que acontece no criativo desenho “Happy Feet”, de 2006). Alguns dos formatos dos personagens, principalmente Skinner e Ego, lembram “A Noiva Cadáver” (2005), dirigido por Tim Burton. Na dublagem original, atores do calibre de Peter O’Toole (Ego). Na versão brasileira, que nada dá de importância à dublagem (a maioria dos profissionais a emprestar a voz é da Rede Globo – o finado Bussunda era o Shrek, e por aí vai, para se ver a qualidade...), estão os globais Thiago Fragoso (Linguini) e Sâmara Felippo (Colette). Apesar disso, o desenho é formoso e bastante simpático. “Ratatouille” merece estar no próximo Oscar, em 2008, na categoria ‘melhor animação’.

O longa-metragem vem precedido pelo curta “Quase Abduzido”, tão engraçado quanto “Scrat”, aquele bichinho esquisito e cômico dos filmes “A Era do Gelo” (2002 e 2006), que sempre está atrás de uma noz. O desfecho inusitado e moralmente ‘dentro da lei’ serve para incrementar o longa. Fez-se, de bate-pronto, um mega-sucesso da Pixar. Outro. Desde “Toy Store” (1995), a empresa acumula bilheterias recordes sucessivas–“Carros” (2006), “Procurando Nemo” (2003), “Monstros SA” (2001), “Toy Store 2” (1999), o já citado “Os Incríveis”, “Vida de Inseto” (1998), entre outros. Fixa-se, por empreitada, como a número um em animações. Com Disney ao seu lado, fica praticamente imbatível (em quatro dos seis anos da disputa do Oscar de animação – 2001 a 2006, premiado na festa de 2007, figurou entre os três melhores, saindo vencedor em duas, com “Os Incríveis” e “Procurando Nemo”). Talvez DreamWorks (responsável pelos três “Shrek”, “Madagascar” e “O Espanta Tubarões”) possa concorrer com ela. É difícil. A Warner Bros, sim. Entretanto, é uma firma de tradição. “Ratatouille” é um passo significativo para a Pixar. Seguramente. A Pixar vem, nestes anos, fazendo frente a todos. A empáfia não é desonesta. A turma deles tem o que comemorar. Terão ainda muito mais pela frente.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 22/08/2009
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