Prefiram gibis e desenhos animados (publicado originalmente em 26/5/2004)

Não sou fã ardoroso de filmes infantis. Prefiro desenhos animados ou gibis. O auge desse tipo de atração aconteceu nas décadas de 1950 e 1960, com diversos lançamentos nas emissoras de televisão. Desenhos como Tom & Jerry, Pernalonga e sua turma, Pica-pau, Corrida Maluca, Superamigos, Tartaruga Touché, Tutubarão e Os Flinstones fizeram sucesso incomparável aos outros rabiscos mais recentes. Isso é verdade e pode ser comprovado por inovações pífias dos desenhistas, os quais tentaram dar um ar mais moderno ao Pica-pau e Tom & Jerry e acabaram esmagados por concorrentes. Quando o cinema se apropria dos direitos dessas atrações infantis e realiza superproduções, porém, o resultado se torna absurdo e às vezes constrangedor de tão ruim. E não é apenas um filme ou dois, mas dezenas deles, infestando prateleiras das locadoras e salas de cinema do mundo todo. São exemplos que os diretores e roteiristas não devem seguir.

Atualmente está em cartaz a parte dois de Scoob-Doo. O primeiro filme já tinha péssima reputação, pelo cachorro ser computadorizado e os atores não estarem inspirados no momento da execução das cenas. Deu pena. O desenho, tão atrativo para as crianças e reconhecido mundialmente, acabou transformado num par de películas maculadas e desdouradas. “Dennis, o Pimentinha” (1993), se não contasse com a imagem do ator Walter Matthau (como o senhor Wilson) cairia no mesmo buraco. O enredo, fraco e maltratado pelos profissionais envolvidos, distraiu poucos espectadores. Assim como o cachorro marrom, teve seqüência. Esta não merece nem comentários. Concluiu-se em tiro pela culatra, pois se já o número um desagradou, com o dois ocorreria situação igual. Os produtores responsáveis não se deram conta e, “ipsis verbis”, naufragaram agarrados ao barco furado. Levaram prejuízo estratosférico e se renderam demais.

E quem lembra do He-Man? O herói loiro e musculoso abrangeu os horários das manhãs da Rede Globo no fim dos anos 1980 e início dos 90. Pois é, fizeram, em 1987, o filme. “Mestres do Universo” terminou desastrosamente. Convocaram Douph Lundgren para o papel principal e outros desconhecidos para os demais personagens. O rosto do Esqueleto, inimigo do fortão, foi desenhado com características diferentes em comparação ao do desenho animado: nas telonas tinha a tonalidade branco-gelo; das telinhas, um cafona amarelo-ouro. A troca de cor das vestimentas é outro fator que contribui para essa repulsa aos sets quando o assunto é “filmar rabiscos coloridos”. No “Esqueleto”, a roupa no desenho é azul escura (a pele é azul clara). Nos ecrãs, a capa é preta e a pele, branca. O filme peca por ambientar a história nos dias de hoje e não em Etérnia, local onde as tramas do desenho se desenrolaram constantemente.

“Riquinho” (1994), com Macaulay Culkin, decepcionou de igual forma. Após o sucesso dos dois “Esqueceram de Mim” (1990 e 1992), o ex-astro mim deixou a desejar. Outra vez o problema foi o roteiro, onde bons diálogos e cenas de impacto faltaram. Aliás, este quesito vem se arrastando desesperadamente nessas adaptações para telas grandes. “Os Flinstones” (1994), com Rick Moranis (de “Querida, Encolhi as Crianças”, de 1989) e John Goodman, refletiu a horrível influência da ausência de preparação do elenco. O “iabadabadú” de Fred Flinston não gritou nem agitou o tamanho esperado. Ficou fino e os minutos se deram desgraçados. “Mister Magoo” (1997), desenho tão adorado por mim (se fosse exibido até hoje assistiria com prazer), terminou interpretado, para meu azar, por Leslie Nielsen, profissional que critiquei em uma das colunas de fevereiro. Não preciso escrever neste espaço minha opinião. Basta este ator sotreta.

A saga não pára. “The Flash” (1990), película em conseqüência do super-herói dotado de alta velocidade dos quadrinhos, é catastrófico. Neste caso o conjunto todo hesita. Atores pobres no assunto qualidade, direção preguiçosa, cenas com truques sacados rapidamente etc. Fazendo um chiste sobre isso, o grupo desta realização teve de correr para não pagar o pato e tropeçou no momento principal. Em “Inspetor Bugiganga” (1999), aparecem deficiências citadas nessas frases. Os efeitos tão especiais, ao contrário de melhorar, ajudam na recepção pouco calorosa das crianças, que, em geral, apreciam histórias simples e falas fáceis de se entender. O filme do detetive atrapalhado que possui mil apetrechos dentro do chapéu mágico, tem esse estrago. Os recentes “Homem Aranha” (2002) e “Hulk” (2003), fizeram ir direto ao chão os queixos das pessoas que viram. Escolher Tobey Maguire para encarnar Spiderman ultrapassou o bom senso.

No filme do gigante verde, novamente o computador deu um jeito. Claro, para pior. Ao invés de causar espanto e susto pelo aspecto feroz e destruidor do valentão, arrumou risadas de desleixo. A questão é: porque chamar técnicos em informática para entreter platéias ansiosas por boas atuações? Será que não percebem o valor sentimental advindo dos gibis velhos (nossas relíquias escondidas e não emprestadas a ninguém)? Não. Esses jovens produtores e diretores exercem exatamente o contrário desta paixão esbugalhada.

Este despeito alongado se prolonga e empoeira nossos olhos. Concretizar uma exegese sobre isso é querer contrair os pensamentos mais deslumbrantes de todos nós. Discorro “nós” por se tratar de uma geração que vai dos 19 aos 30 anos, na qual eu, com 22, estou incluído. Não tivemos a felicidade de presenciar os valores na época propícia, as décadas 1950 e 1960. E, pouco a pouco, essa fase gloriosa não só para os quadrinhos, mas também para a música, cultura, política e muitos outros ramos, é apagada. E nós (insisto) não podemos deixar.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 19/05/2009
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