Volúpias voláteis (publicado originalmente em 19/5/2004)

Filmes onde o sexo é tema central causam sempre discussão, polêmica e divergência. E, devido a esses fatores têm na maioria das vezes público para vê-los. Claro: o proibido é mais bem apreciado. Com exceção das fitas essencialmente pornográficas, cuja indústria fechada possui o “Oscar” especializado; as tantas histórias com repercussão mais exaustiva, dirigidas por feras cinematográficas, foram bem aceitas pelas pessoas em geral, entre homens e mulheres. Censura prévia de 18 anos esgota até a última gota de suor a paciência dos adolescentes de 15, 16 e 17 curiosos e ávidos em ver mulheres completamente nuas e cenas ardentes, tórridas e escaldantes.

Agora mesmo, “Em Carne Viva” (2004) com Meg Ryan, expõe a atriz, quarentona, como veio ao mundo. O enredo, fraco, agradou pouco ao público norte-americano. Mas ao recuarmos no calendário, em 1962, nos depararemos com o brasileiro “Noite Vazia”, estrelado por Odete Lara e Norma Bengell, na época com vasta beleza explorada pelas revistas. Elas interpretam duas amigas “encontradas” em um bar japonês por dois amigos. Eles as levam para casa e... A película rola “amigavelmente”. Partes do corpo mais ousadas aparecem raramente e a câmera as mostra delicadamente, com discrição injetada firmemente. Filme sublime, perfeita pluma.

Caminhando em ordem nas datas, temos “Lolita”, também de 1962, com Peter Sallers e James Mason, sob direção do impecável Stanley Kubrick; refeita em 1998, protagonizada por Jeremy Irons e Dominique Swan. Sobre o assunto, quase todos conhecem o livro delirante do escritor russo Vladimir Nabokov, tratado nesta coluna meses atrás: um professor de 37 anos se apaixona por uma garota de 12. Mora com ela, viaja com ela, faz tudo (isso mesmo, tudo) com a pobre menina. Não, Dolores Haze não é a coitadinha, pois provoca o rapaz incessantemente. As pitadas de erotismo e cutucadas de humor refinado dão toques de qualidade nas boas fitas.

Anos depois, em 1967, “A Primeira Noite de um Homem” garantiu o Oscar de melhor direção para Mike Nichols. A obra revelou o ator Dustin Hoffman, que concorreu ao prêmio de ator. É emocionante e marcou época. O roteiro escancara o dilema bem-humorado de Benjamin (Hoffman), universitário que visita os pais na Califórnia. Lá encontra a senhora Robinson, linda mulher do sócio de seu pai. Seduzido, passa a ter um caso com ela até que uma outra rapariga, Elaine, surge na sua vida. Ocorre o esperado e inevitável: ele se apaixona pela garota e fica em dúvida pelas duas. Entrou para o requintado panteão de filmes bons no cinema. Magistral.

Avanço 25 longos anos. Em 1992, recém saída do sucesso de “O Vingador do Futuro” (1990), Sharon Stone, ex-modelo de comerciais de televisão, deparava-se, aos 33 anos, com um projeto desesperador. A face plena, somada àqueles olhos sensualmente verdes, iria aos sets de filmagem trabalhar ao lado do ator Michael Douglas, então com 37 anos e afamado por não conseguir sobreviver sem sexo. Fizeram “Instinto Selvagem”, recheado de drama e suspense, em uma trama de assassinato e apelos sensíveis, como a cruzada de pernas de Stone durante um depoimento à polícia. Resultado: número recorde de espectadores, críticas favoráveis e afagos.

A seguir, vem o filme que, na minha opinião, é o segundo melhor dos últimos 15 anos (o primeiro, para mim, é “Lolita”, de 98): “Lua de Fel” (1993). Roman Polanski, pode acreditar, estava em dias inspirados quando resolveu se debruçar diante desse enredo misterioso e excitante. No elenco está Hugh Grant. São minutos magníficos: um casal se dá de presente de casamento um cruzeiro onde têm tudo do bom e do melhor. Lá conhecem Oscar, escritor com inúmeros insucessos, e Mimi, esposa dele. Preso à cadeira de rodas, o frustrado Oscar envolve, pouco a pouco, Nigel (Grant) com fábulas sexuais que ele diz ter vivido com fervor com Mimi, ex-garçonete e dançarina por afeição. Emmanuelle Seiger, a atriz que faz a amante dançante, esnoba com talento à flor da pele. Sufoca com a presença em cena, além da beleza estonteante.

O terceiro colocado nessa minha pretensiosa lista é “Beleza Roubada” (1996). Bernardo Bertolucci descobriu Liv Tyler, então com 19 anos e filha de Steven Tyler, do Aerosmith, para o papel de uma garota viajante que pára na Itália para investigar a morte, por suicídio, da mãe, uma poetiza, e assim descobrir quem é seu pai. Irons está também nesta fita, como um escritor. Película de extrema suavidade e sutileza brilhante. Naquele país europeu, Lucy (papel de Liv) descortina o sexo, amor e paixão por um garoto, cujas correspondências através de cartas a deixou caidinha por ele. De repente, Lucy passa a ser o centro das atenções na casa de Diana, amiga pessoal de sua mãe, e onde a órfã está hospedada. A moradia vive com amigos entrando e saindo, praticamente sem ilusões. A essas pessoas, Lucy ensina o poder da vasta juventude.

“Malena” (2000), com Monica Belucci, deu uma baforada favorável aos pré-adolescentes instigados por mulheres bonitas. Conta, durante a II Guerra Mundial, a vida esperta da moça que enfeitiçava apenas pelos movimentos, o andar, em uma cidade italiana. Deitou-se com todo mundo para concluir suas aspirações e desejos. Encanta um mero menino de 13 anos. O garoto faz de tudo para apenas chegar perto dela. Sonha com toques libidinosos e lúbricos de Malena. Essa paixão platônica fascina desde o primeiro singelo sinal. Nada como um romance sem ser respondido. Obviamente, ele não tem mínimas chances de conquistá-la. O choro é exasperado.

Concordo que o ponto alto dessas fitas é a mulher. Não era para menos. Onde já se viu os homens despertarem interesse tendo nas mãos corpos lapidados com esmero como são os das mulheres? Parafraseando Chico Anysio em um trecho de seu monólogo “Meu Mundo”, “(...) mocinhas, meras meninas, mariposas (...). Modestas moças maculadas. Mercenárias mulheres marcadas”.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 19/05/2009
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