O mundo fantástico dos musicais opulentos e coreografias bem preparadas (publicado originalmente em 28/1/2004)

Um dos gêneros criadores de polêmicas e controvérsias do cinema é o musical. Há os que odeiam e nem gostam de ouvir falar. Outros são fãs confessos e não suportam viver sem. Cheios de brilho, riqueza, ostentação e purpurinas, os musicais fizeram, desde o primeiro filme falado na história, “O Cantor de Jazz” (1927), parte do cotidiano dos admiradores, os cinéfilos. Em decadência nos anos 80 e 90, retomou fôlego e voltou com tudo no começo desta década com dois verdadeiros brincos: “Moulin Rouge” (2001) e “Chicago” (2003). Com os dois, podemos relembrar os áureos tempos onde as músicas e os balés coreografados eram personagens centrais nas histórias.

“O Cantor de Jazz” foi um espanto. Assim como a platéia viu assombrada, em 28 de dezembro de 1895, imagens de trabalhadores saindo de uma fábrica e de um trem chegando em uma estação, várias pessoas não se conformavam quando o ator Al Jolson (pintado de negro com os lábios brancos) esbravejava em um palco. O filme conta sentimentalmente como um filho de um solista pôde trocar a sinagoga pelo teatro, algo muito parecido com a vida de Jolson.

Em pesquisas, alguns dos filmes mais lembrados onde a pergunta se refere a melhor fita assistida pertencem à categoria musical. “Cantando na Chuva” (1952) traduz em canção um soberbo e simples gesto de amor entre dois aspirantes a atores. Quando Gene Kelly consegue enfim o tão esperado beijo da garota por quem está perdidamente apaixonado e sai pelas ruas dançando na chuva, arrepia até o mais depauperado espectador. Ao declamar “Estou cantando... e dançando... na chuva”, no fim da mais bela cena de todos os tempos, na minha opinião, Kelly nos faz dissuadir sobre a vida às vezes fraca de acontecimentos que levamos.

Outra dupla quase sempre citada é “Mary Poppins” (1964) e “A Noviça Rebelde” (1965). Estes foram os dois primeiros filmes feitos por Julie Andrews (tinha 28 e 29 anos quando rodou ambos). Ao interpretar Mary, Julie agradou e surpreendeu tanto que ganhou o Oscar de melhor atriz. Nos anos 70, as películas musicais invadiram definitivamente as telas dos cinemas espalhados pelo mundo. “Grease” (1978) e “Os Embalos de Sábado à Noite” (1977) são exemplos de boas tramas e coreografias bem executadas. Em “Grease”, John Travolta e Olívia Newton-John (com seu par vibrante e meigo de olhos azuis) não eram tão adolescentes como pareciam (ele estava perto dos 23 e ela contava 29 primaveras). Nos “Embalos...”, Travolta passou de herói da juventude a mito internacional.

Há também retumbantes fracassos, tanto de bilheteria como de qualidade. “Evita” (1995) é, como a trajetória da mulher mais respeitada e endeusada da Argentina, uma tragédia. A pop-star Madonna não emplacou e tampouco convenceu alguém ao cantar a música “Não Chores por mim Argentina” em inglês. Antonio Banderas, par romântico da cantora, teve azar ao abraçar com força demais este projeto fútil e desgastante. Confiou na escuridão e não se deu bem.

Um pouco antes, em 1987, Patrick Swayze, que ficaria conhecido dois anos depois como o morto-vivo Sam em “Ghost – Do Outro lado da Vida”, estrelou, ao lado de Jennifer Grey, “Darty Dancing – Ritmo Quente”. Esse, ao contrário de “Evita”, conquistou fama, notoriedade, um Globo de Ouro e o Oscar de melhor canção. A música “O Tempo de Minha Vida” é recordado com ternura e paixão pelos casais. A aventura de um instrutor de dança que vive um romance com uma turista foi até destaque da revista americana “Time”, com uma resenha nada imparcial: “O final da trama, carregado de entusiasmo, a energia das canções e a coreografia arrebatam o público”.

Os musicais virão sempre à memória com deferência e sobriedade, mas também com certa saudade inquestionável. Esta saudade é na maioria das vezes uma doce lembrança ou vaga recordação de quando o mundo podia ser regido por sons. Sons de música, claro. Versos que traziam à tona amor, beijo e altruísmo. Seria como se uma Ondina nos levasse a cada duas horas, e o carro do casal Danny Zuko e Sandy Olsson de “Grease” não parasse nunca mais de voar.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 02/05/2009
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