Sobre a prevalência da irracionalidade humana

Por sermos uma espécie social, nós, seres humanos, somos mais cognitivamente especializados e, portanto, mais intelectualmente dependentes uns dos outros. Metaforicamente, isso significa que somos como células de um organismo, especializadas em uma gama mais limitada de funções que, idealmente, refletem nossas capacidades ou inclinações mais "naturais' (desprezando a ocorrência frequente de alocação relativa de especialização dentro das organizações sociais humanas). Como resultado, produz-se um organismo social inteligente "às custas" da inteligência dos indivíduos que o compõem, como é comum de se perceber em outras espécies sociais, como as formigas. No entanto, existem dois tipos raros de indivíduos humanos que fogem parcialmente a essa regra: são eles os mais intelectualmente dotados, especialmente os que caem em uma categoria de polímata, e os mais racionais. O primeiro, por ser o mais cognitivamente generalista, capaz de aprender uma gama mais ampla de conhecimentos e, portanto, um tipo mais científico, refletindo o que a ciência também se consiste, em uma generalização da especialização, tal como a defini nesse texto "Ciência, Filosofia e mais uma diferença" (porque tudo o que a ciência "toca" se torna um domínio específico do conhecimento). Já o segundo, por ser ou se tornar um especialista na capacidade de raciocinar e, portanto, de julgar (inclusive sobre a sua própria capacidade) seria um tipo mais filosófico, se uma aptidão em filosofia, diga-se, em sua prática verdadeira ou mais condizente com o seu conceito, se expressa como uma especialização na generalização, também com base no mesmo texto destacado, justamente pela onipresença do julgamento/por estarmos a todo momento julgando nossas ações e pensamentos, bem como dos outros, o certo ou o errado, justo ou injusto, verdadeiro ou falso, ou neutro...

Portanto, uma das prováveis razões para a prevalência da irracionalidade (diga-se, unicamente**) em nossa espécie é por sermos, em média, mais cognitivamente especializados, também incluindo ou influenciando na capacidade de raciocínio (de analisar informações), além da de aprendizado (de apreender informações), enquanto que, uma racionalidade mais desenvolvida requer uma maior capacidade de julgamento (de generalização do raciocínio), isto é, de pensar e julgar corretamente¹ sobre uma ampla gama de tópicos, desde os mais básicos até aos mais complexos, inclusive e especialmente sobre a própria capacidade de julgá-los, em que a percepção da própria inaptidão ou incapacidade pode ser mais adequado do que o oposto, quando se percebe específica e precisamente incapaz, tal como eu comentei em outros textos (por exemplo, nesse: "A maneira equivocada como definimos estupidez e o autoconhecimento": resumo, 'saber que não sabe não é estupidez, mas um autoconhecimento sobre as próprias limitações...')

* Apesar de também sermos a espécie mais cognitivamente generalista, especialmente por causa da cultura, mas "apenas' se nos compararmos com as outras espécies.

¹ "Julgar corretamente", ou racionalmente, com base em evidências e/ou ponderação de raciocínio.

** Com base no meu pensamento escrito em outros textos, de que apenas o ser humano pode ser irracional por também ser o único animal que pode ser racional, oriundo da lógica de que, só é possível estar deficiente em uma determinada capacidade se outros indivíduos da espécie ou população ao qual pertence apresentarem um potencial variável e verdadeiro para desenvolvê-la ou de, ao menos, expressá-la. Também baseado no pensamento de que animais não-humanos não podem ser irracionais, se a irracionalidade é um tipo de estupidez, discordante dos comportamentos adaptativos altamente lógicos e eficientes, mesmo das espécies mais simples.