"Psicologia de um Vencido" é um poema característico do estilo sombrio e pessimista de Augusto dos Anjos, um dos principais representantes do pré-modernismo brasileiro. O poema reflete uma profunda introspecção sobre a condição humana, especialmente sobre a fragilidade e efemeridade da vida.

 

Na primeira estrofe, o eu lírico se apresenta como uma criatura formada por elementos básicos da matéria, como carbono e amoníaco, destacando sua ligação com a escuridão e a luminosidade, sugerindo uma dualidade intrínseca à sua existência. Ele afirma sofrer desde a sua origem, desde a "epigênesis da infância", influenciado negativamente pelos signos do zodíaco, o que pode ser interpretado como uma alusão à ideia de destino ou determinismo.

 

Na segunda estrofe, o eu lírico revela sua hipocondria profunda, sua aversão ao ambiente que o cerca e uma sensação de repulsa intensa. A angústia que sente é comparada à ânsia de um cardíaco, sugerindo uma aflição física e emocional.

 

A terceira estrofe aborda a figura do verme, que é descrito como um "operário das ruínas", alimentando-se do sangue podre das carnificinas e declarando guerra à vida em geral. Essa imagem macabra simboliza a inevitabilidade da morte e da decomposição, além de ressaltar a transitoriedade da existência humana.

 

Por fim, o poema conclui com uma visão de desolação e resignação diante da mortalidade. O eu lírico imagina o verme prestes a devorar seus olhos, deixando apenas seus cabelos para trás, enquanto ele se entrega à "frialdade inorgânica da terra". Essa imagem final ressalta a inevitabilidade da morte e a insignificância da vida diante da vastidão do universo.

 

"Psicologia de um Vencido" é um poema que mergulha nas profundezas da psique humana, explorando temas como a angústia existencial, a mortalidade e a insignificância da vida diante da vastidão do universo, características marcantes da poesia de Augusto dos Anjos.

 

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

 

Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

 

Já o verme — este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!