ANÁLISE CRÍTICA DO POEMA "O PRISIONEIRO", DE H. DOBAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

DISCIPLINA: MÉTODOS E TÉCNICAS DA CRÍTICA LITERÁRIA

PROFESSOR: ANTÔNIO JOSÉ E SILVA RÊGO

 

ANÁLISE CRÍTICA DO POEMA

“O PRISIONEIRO”, DE H. DOBAL

 

Teresina – Piauí

junho/2002

 

“A finalidade da arte não é agradar. O prazer é aqui um meio; não é neste caso um fim. A finalidade da arte é elevar”.

 

Fernando Pessoa

 

SUMÁRIO

 

 

• ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Conceito de literatura

Universo da literatura

A crítica literária do texto

• CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO POÉTICO

2.1. Texto poético

2.2. Bidimensionalidade do texto

• POSSÍVEIS CONCLUSÕES

Conclusões fonéticas diante do poema, ligadas à morfologia

Se o poema é trágico? ou não (que tipo?) é social?

A que tipo literário esse texto pertence (ou escola literária, estilo, com a devida justificativa)

• REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

 

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

 

Antes de se iniciar qualquer trabalho sobre Literatura deve-se ter resposta para a seguinte pergunta: O que é Literatura? Para essa questão pode-se usar respostas de estudiosos de renome que nos dariam argumentos para uma infindável discussão. Vejamos então algumas considerações a respeito do assunto.

 

Cada tipo de arte faz uso de certos materiais. A pintura, por exemplo, trabalha com tinta, cores e formas; a música utiliza os sons; a dança os movimentos; a arquitetura e a escultura fazem uso de formas e volumes. E a literatura, que material utiliza? De uma forma simplificada, pode-se dizer que a literatura é a arte da palavra. Podemos dizer ainda, segundo o poeta norte-americano Ezra Pound, que a literatura é a linguagem carregada de significado: "Grande Literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível".

 

Partindo das experiências pessoais e sociais que vive, o artista transcria ou recria a realidade, dando origem a uma supra-realidade ou a uma realidade ficcional. Por meio dessa supra-realidade, o artista consegue transmitir seus sentimentos e idéias ao mundo real, de onde tudo se origina. Para essa transcrição da realidade, a literatura, no entanto, não precisa, portanto estar presa a ela. Tanto o escritor quanto o leitor fazem uso de sua imaginação constantemente: o artista recria livremente a realidade, assim como o leitor recria livremente o texto literário que lê. No mundo antigo, a arte tinha uma função hedonística, isto é, devia causar prazer, retratando o belo. E, nessa época, o belo na arte ocorria na medida em que a obra era verossímil, ou seja, semelhante à vida ou à natureza. Modernamente esses conceitos desapareceram, mas a arte ainda cumpre o papel de proporcionar prazer. A literatura, jogando com palavras, ritmos, sons e imagens e conduzindo o leitor a mundos imaginários, causa prazer aos sentidos e à sensibilidade do homem.

 

Nas considerações de Afrânio Coutinho, um dos grandes estudiosos da literatura em todos os tempos, para quem literatura e vida estão constantemente intrincadas,com o artista literário criando ou recriando um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades fatuais, "a Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social”. Para o ilustre estudioso, os fatos que o artista manipula não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.

 

Completando suas considerações sobre o que é literatura, Afrânio Coutinho diz que “a Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana."

 

Apresentamos, a seguir, alguns conceitos diversos acerca do que vem a ser a literatura:

 

"Arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles, filósofo grego, séc. IV a.C)

 

"A literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem." (Louis de Bonald, pensador e crítico do Romantismo francês, início do séc. XIX)

 

"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate."  (Jean-Paul Sartre, filósofo francês, séc. XX)

 

"É com bons sentimentos que se faz literatura ruim."  (André Gide, escritor francês, séc. XX)

 

"A poesia existe nos fatos"   (Oswald de Andrade, poeta brasileiro, séc. XX)

 

 

E, em seguida, o que é literatura, segundo o dicionário:

 

literatura (Do lat. litteratura.] S.f. 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época. 3. Os homens de letras: A literatura brasileira fez-se representar no colóquio

de Lisboa. 4. A vida literária. S. A carreira das letras. 6. Conjunto de conhecimentos relativos às obras ou aos autores literários: estudante de literatura brasileira; manual de literatura portuguesa. 7. Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral [p.v.] 8. Fam. Irrealidade, ficção: Sonhador, tudo quanto diz é literatura. 9. Bibliografia: Já é bem extensa a literatura da física nuclear. 10. Conjunto de escritores de propaganda de um produto industrial.

(Dicionário Aurélio)

 

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO POÉTICO

 

 

A interpretação transita constantemente entre texto e contexto: o texto deve ser lido como uma resposta ao contexto da criação da obra, a nossa leitura como um diálogo com nosso contexto. O trabalho da filologia estaria tradicionalmente mais voltado para aquele primeiro aspecto (da criação da obra) enquanto o da crítica hermenêutica acentuaria mais o aspecto de atualização da leitura (sem que isso implique de modo algum em uma divisão de trabalho tão rígida entre essas duas disciplinas). O interessante nesse processo, é que é apenas nesse ir e vir entre texto e contexto que os contornos dessas duas instâncias se traçam, apagam para serem novamente traçados. Não existe a possibilidade de se estabelecer de modo completo e fechado nem o texto nem o contexto: um germina e determina o outro.

 

O texto literário é o resultado de um processo de elaboração formal que compreende diversas propriedades e se reveste, de fato, como que de uma nova dimensão (do ponto de vista estético, mas também em termos sociais e histórico-culturais, quando projetado à dimensão de obra literária. Para Walter Mignolo, texto é “toda a forma discursiva verbo-simbólica, que se inscreve no sistema secundário e que, além disso, é conservada numa cultura”. O mesmo Mignolo especifica que “o literário [...] é só um caso particular do texto: o literário define-se por um conjunto de motivações (normas) que tornam possível a produção e recuperação de textos enquanto estruturas verbo-simbólicas em função cultural”.

 

No caso do texto literário, o seu contexto compreende elementos como as coordenadas ideológicas, as visões do mundo, os eventos históricos, os estilos de época, as dominantes de gênero etc. Faz sentido, por isso, considerar, como fator decisivo para a confirmação do estatuto de obra literária assumido por um texto, a sua articulação com o contexto, entendendo-se nessa articulação uma certa forma de dialogar com determinado cenário histórico e cultural.

 

Podemos considerar que o texto literário, enquanto resultado articulado e coerentemente estruturado da enunciação da linguagem literária, é detentor de certas características, que sinteticamente podem ser descritas deste modo: o texto literário configura um universo de natureza ficcional, com dimensão e índice de particularização muito variáveis; ao mesmo tempo, ele evidencia uma considerável coerência, tanto do ponto de vista semântico como do ponto de vista técnico-compositivo; o texto literário deve ser entendido também como entidade pluristratificada, ou seja, constituída por diversos níveis de expressão; por último, considerar-se-á ainda que o texto literário compreende uma dimensão virtualmente intertextual, na medida em que é possível relacioná-lo com outros textos que com ele dialogam e nele se projetam.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

 

ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.

 

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 1999.

 

CHALUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 1993

 

CUNHA, Helena Parente. Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1996.

 

FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo: EDUSP, 1999.

 

LOBO, Luíza. Teorias do romantismo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987

 

PINO, Dino del. Introdução ao estudo da literatura. Porto Alegre: Movimento, 1972.

 

REIS, Carlos. O conhecimento da literatura – Introdução aos estudos literários. Coimbra (Portugal): Livraria Almedina, 1999.

 

SAMUEL, Rogel. Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1984.