Análise do conto "Giz Branco"

O conto "Giz Branco" é sobre três meninas, duas negras e uma branca de Nova Orleans. Por um lado, esse conto pode ser analisado pela perspectiva estruturalista, isto é, o conto é narrado em primeira pessoa pelo narrador protagonista, no caso a irmã de Charlaine. Quanto ao tempo, visto que o narrador expõe o conto de forma sequencial, trata-se do tempo cronológico, ou seja, objetivo. O narrador inicia a introdução descrevendo uma das personagens principais a Edna, "era muito inquieta e diferente das demais crianças da rua", a qual é um personagem redondo. Em seguida apresenta o lugar em que se passou a ação, " Certa vez, fomos todos a uma pequena venda, próxima da Paróquia de Saint Tammany, aqui mesmo em Nova Orleans" e apresenta Charlaine " irmã mais nova" que é uma personagem plano. Verifica-se o fato inicial ou inicio do conflito no trecho " Edna não gostava de ficar perto de nós, talvez por seus pais serem brancos". No desenvolvimento do conto, nota-se que é exposto a complicação ou conflito entre as personagens "os pais de Edna costumavam acreditar que a cor da nossa pele podia manchar a pele clarinha dela. Mas, eu não acredito nisso não". Verifica-se pela descrição feita pelo narrador, que Francine é uma personagem secundária, plano e caricato "suas enormes bochechas, uma grande boca que vivia a mostrar os dentes", "panos que ela usava na cabeça, alaranjado com folhas e flores verdes", "Gorda e baforando um cigarro de palha, saudou-nos com uma ruidosa boa-tarde em cajun". A ambientação é explicitada pelo narrador e caracterizada através das sequências" A loja era colorida, tinha cheiros gostosos e muitas e muitas bonecas de pano penduradas, com olhinhos feitos de botões. "potes de vidros coloridos, pendurados por barbantes", " saleta atrás do balcão", "uma cortina feita de bolinhas de madeira", o que permite classificá-la como ambientação franca. O clímax ocorre quando Edna pega um pedaço de giz branco e faz um círculo, "no qual seu corpo abrigava-se dentro". Por fim, verifica-se o desfecho do conto quando o autor apresenta o mundo de Edna "Tão sozinha. Tão presa. Tão quieta. Tão apertada dentro desse seu mundinho riscado de branco". Por outro lado, a partir de uma análise pós-estruturalista, o conto "Giz Branco" foi escrito pelo professor Silvio Ruiz Paradiso e pertence à sua obra "RUA DAS MERCÊS e outros contos" lançada em 29/04/2016 pela Ceos Berg Editora. Trata-se de uma coletânea de vinte contos que transitam de histórias simples ao realismo fantástico e crítica social. Os quais trazem algumas marcas das pesquisas que o professor vem desenvolvendo a partir da literatura pós-colonial e afro-brasileira. Na introdução já se percebe que o conto narra o preconceito racial entre brancos e negros " Edna não gostava de ficar perto de nós, talvez por seus pais serem brancos". Essa frase do conto evidencia, de certa forma, o contexto da região de Nova Orleans, provavelmente do final do século XIX, cidade esta que ainda nos dias de hoje é considerada como uma das cidades mais racistas dos Estados Unidos da América (EUA), talvez por ter sido uma das últimas regiões a abolir a escravatura. O fato das personagens morarem de lados diferentes do rio é um exemplo da divisão e das desigualdades sociais existentes entre negros e brancos na região. Além disso Edna sabia letras e os números enquanto as outras meninas, as quais eram negras, mal sabiam rabiscar o nome. As marcas das divisões entre negros e brancos eram tão fortes que Edna pega um giz branco e não de cor e faz um círculo entorno de si delimitando seu espaço sem perceber o “mundinho” reduzido em que vivia. Mas o autor apesar de mostrar as artimanhas do preconceito racial também nos traz a possibilidade de troca entre dois mundos supostamente tão díspares: brancos e negros quando, por exemplo, menciona que as duas irmãs negras tinham “tempo para brincar de 'marelle', de casinha e boneca com a Edna”.

Por fim, percebe-se que a análise simultânea de um conto realizada pelas duas perspectivas permite a compreensão dos elementos do conto em si, bem como do contexto em que foi escrito, desta forma, as duas perspectivas de análise se complementam.

Referência: PARADISO, Silvio Ruiz. RUA DAS MERCÊS e outros contos. Londrina: CEOS Ed., 2016.p.p.11-13.

Juliano Rodrigues
Enviado por Juliano Rodrigues em 20/06/2016
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