Paulo Coelho . Meu Patrono visto por mim

Paulo Coelho

Meu Patrono visto por mim

Há no texto de Paulo Coelho algo que move o leitor, página a página, indo para além do olhar racional. Nas suas palavras em entrevista concedida à ZH Entretenimento, o autor diz: “Eu mantenho uma coisa importante na minha vida que é ser direto sem ser superficial.” E é assim, sendo direto e claro, sem fazer concessões à mediocridade, que o escritor trata de assuntos tão complexos e herméticos que muitos não se aventuram. Tais como: simbologia, numerologia, o local, o global, bruxas, sonhos, sabedoria árabe, alquimia, irracionalismo, existencialismo, o Bem e o Mal, religiosidade, dentre outros.

A simplicidade do autor é, na verdade, uma pedra preciosa, muito bem lapidada, conforme vemos ainda na entrevista à mesma ZH Entretenimento: “A primeira versão de um livro meu tem muito mais páginas, mas, quando é publicado, eu já cortei tudo que era excesso, sem perder a essência.”

Sua obra é, há um só tempo, uma radiografia e uma reportagem literárias do nosso tempo. Em livros recentes, como em Adultério, aborda o tema da infidelidade amorosa sem dar contornos morais ou de julgamento dos personagens, preferindo construir um relato literário do que ocorre com os relacionamentos. Em O vencedor está só, Paulo adentra o mundo da elite da elite, o show bussiness, as atrizes e atores, os produtores, os grandes empresários da moda, para elaborar uma crítica ácida da superficialidade e da fragmentação das pessoas nesse meio que, com sua influência, permeia toda à nossa sociedade hoje em dia.

Mas foram os temas esotéricos que marcaram sua carreira. O Alquimista, Diário de um mago, Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei, Veronika decide morrer, O demônio e a Sra. Prym são livros que demonstram a sua maestria, não só em relação à literatura como também nos assuntos da espiritualidade. O fascínio pela busca espiritual, aliás, data da época em que como hippie, viajava pelo mundo. Fez parte de uma série de sociedades secretas e religiões orientais, além de compor músicas com Raul Seixas que tinham como mote o esoterismo.

De acordo com Maria Ivonete Busnardo Ramandam em seu livro Narração e Panacéia: o poder do mito: uma análise da obra de Paulo Coelho, os livros do autor sedimentam-se num imaginário simbólico transcultural. E seriam uma literatura do senso comum, mais do que uma literatura de massa. Ainda segunda ela, os escritos de Paulo Coelho cumprem uma finalidade catártica e atuam sobre o comportamento do leitor.

Eu, particularmente, gosto muito do livro O Monte Cinco, um dos poucos do autor, que não teve repercussão estrondosa. O que me atrai é a reconstrução da realidade de Elias pelos dias e noites de Akbar.

Para finalizar gostaria de trazer um trecho desse livro, O Monte Cinco:

“(...)’Porque tenho que escolher entre salvar esta cidade, ou redimir o meu povo?’

‘Porque um homem tem que escolher’ respondeu o anjo. ‘Nisto reside sua força: o poder de suas decisões.’

‘É uma escolha difícil: exige aceitar a morte de um povo, para salvar outro.’

‘Mais difícil ainda é definir um caminho para si mesmo. Quem não faz uma escolha morre aos olhos do Senhor, embora ainda continue respirando e caminhando pelas ruas.’

‘Além do mais’, continuou o anjo, ‘ninguém morre. A Eternidade está de braços abertos a todas as almas, e cada uma continuará sua tarefa. Há uma razão para tudo que se encontra debaixo do sol.’

‘Meu povo afastou-se do Senhor por causa da beleza de uma mulher. A Fenícia pode ser destruída, porque um sacerdote pensa que a escrita é uma ameaça aos deuses. Por que Aquele que criou o mundo prefere usar a tragédia para escrever o livro do destino?’ “

(Trecho do livro O Monte Cinco de Paulo Coelho, editora Rocco, 2003, Rio de Janeiro . página 98)

Referências eletrônicas:

Narração e panacéia: o poder do mito : uma análise da obra de Paulo Coelho de Maria Ivoneti Busnardo Ramadan: https://books.google.com.br/books/about/Narra%C3%A7%C3%A3o_e_panac%C3%A9ia.html?hl=pt-BR&id=hmLEYgEACAAJ

Entrevista concedida por Paulo Coelho à ZH Entretenimento por Léo Gershman: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/05/eu-errei-erro-e-errarei-diz-paulo-coelho-ao-passar-a-limpo-sua-vida-e-obra-4496340.html

Esse texto foi publicado na Academia de Letras Virtual do Grupo Intenção e Gestos como parte do projeto Meu patrono visto por mim.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi), Maria Ivonete Busnardo Ramandan, Léo Gershman e Paulo Coelho
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 05/07/2015
Código do texto: T5300387
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.