Um crime passional

Prof. Holanda

Toda noite ela entrava e sentava-se na rede onde estava eu deitado. Noutro dia sentava na cadeira- de- balanço. Essa insistência me impacientava tanto que eu jogava nela o lençol. A calma retornava. De quando em vez, trocávamos olhares. Ela arregalava os olhos em minha direção. Daqui a pouco, estava ela novamente na rede a me importunar. Sibilava aos meus ouvidos qual uma soprano. Outra vez, o lençol a afugentava. E assim passávamos eu e ela nessa teimosia horas e horas, até ela cansar e desaparecer.

Uma noite ,porém, ela extrapolou o habitual. Foi comigo para a cama. Nessa noite quase não dormi. O mais competente barítono era incapaz de com ela competir. Eu usava a já conhecida arma e ela calava-se, mas por alguns instantes. Quando eu estava adormecendo, aquele zunzum nos meus ouvidos. Olhei o relógio da parede, marcava duas horas. Já era madrugada. Não suportei mais ser incomodado. O corpo exigia repouso. Minha impaciência chegara ao limite. Peguei do lençol, já perdendo o controle, açoitei-a com tanta força que ela calou-se. Dormi até o raiar do sol. Quando me virei para o outro lado, estava ela morta. O remorso abateu-se sobre mim. Pobre muriçoca! Tomei-a na palma da mão, conduzi-a até a janela, dei-lhe um piparote que ela caiu longe.

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 25/03/2007
Código do texto: T425077