O fim de uma paquera

Raimundo de Assis Holanda

Diariamente ela saía de casa, cedinho, para a labuta, em busca de alimento para a família. Retornava à tardinha, feliz, trazendo nas costas o fruto do trabalho que serviria de comida àquela numerosa prole.

Um dia, como de costume, saíra para cumprir a missão de rotina, quando ouviu: fio...fio... fio. Ela continuou sem dar bolas àquele assovio de adolescente quando quer conquistar alguém.

Ela, justiça seja feita, tinha um corpo de violão. Mas a bunda era o que mais sobressaía. Ah! como se envaidecia dessa qualidade! Por isso, todos a apelidavam de tanajura.

Um dia, ela queixou-se aos familiares sobre aqueles fios-fios. Não suportava mais tal chateação. Resolveram todos, em reunião, que ela passaria trabalhar à noite. Saía às seis horas da tarde e retornava carregada de alimentos às seis da manhã.

Pois não é que o paquerador descobriu a mudança! Aí os fios-fios foram mais ainda insistentes, diria, estridentes. O paquerador era cri-cri mesmo.

Descoberta a identidade do perturbador, do sujeito chato, a família, novamente reunida, traçou o destino do cri-cri. Todos, de bunda arrebitada, marcharam em direção ao alvo.

O grilo dormia a sono solto. Atacaram-no, picando todo o corpo. Arrastaram-no para o formigueiro, onde serviu de banquete a todas as formigas tanajuras. A partir de então, a gostosa, a desbundada tanajura pôde voltar ao trabalho, sem ouvir aquele estridente cri-cri, que feria o mais distraído ouvido.

Raimundo de Assis Holanda Holanda
Enviado por Raimundo de Assis Holanda Holanda em 24/03/2007
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