A SILHUETA DO REAL

A farsa e a fantasia – fatores psicoliterários instigantes à formatação do texto poético – a partir da proposta do poeta-autor, geralmente tocam profundamente o poeta-leitor, o receptor genérico a quem se destina como peça de reflexão. A fantasia e a farsa são a construção verbal do que a transfiguração dos fatos exige dele como agente modificador da realidade. O elo-de-ligação entre o real e a criação ficcional. Através do recurso verbal o homo sapiens traveste-se para continuar participando do festim do viver com alguma alegria e, por vezes, atingir o “estado de felicidade”. E se aos olhos do receptor a farsa se apresenta com os cabelos ao vento, é bem possível que seja esta a silhueta da realidade tal como o criador a vê. Ao ocorrer identificação com a sugestão que está contida no poema, a cuca do poeta-receptor também se torna criativa, livre, leve, solta, descolada. Identifica-se com a proposta da peça, que é apenas um simulacro de vida. Quase sempre se torna registro e expressão da verdade momentânea, com alto grau de veracidade. Porque o poema alimenta em ambos agentes a noção de que se pode vencer o antagonismo, a hostilidade quotidiana. A felicidade está escondida em algum lugar. O desafio é acha-la. O poema nunca é simplória seta lançada a esmo. Nalgum momento terá o alvo certo...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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