Quinze trovas
Primeira
Um pai zela de dez filhos,
Mas dez não zelam de um pai...
Feito trem fora dos trilhos,
Ninguém sabe aonde vai.
Segunda
De dois dedos de prosa
A garrafas de poesia!...
A conversa é mais gostosa
Quando a cachaça a inicia.
Terceira
Cai a máscara do falso;
Embarga a voz do falaz.
A verdade é cadafalso
Do ardiloso contumaz.
Quarta
Quem tem dois pássaros voando,
Mas nenhum na sua mão,
Sonha ter de quando em quando
Posse da própria ilusão.
Quinta
O ninho do joão-de-barro
No alto do jacarandá.
Parece um tanto bizarro
Quando morador não há.
Sexta
Pega o boi com chifre e tudo
Quem cuida da própria vida.
Demanda trabalho e estudo
O fazê-la bem vivida!...
Sétima
Se muito grande é o mundo,
Ainda maior o Universo...
O olhar mais largo e profundo
Cabe todo num só verso.
Oitava
As paredes têm ouvidos;
As janelas, muitos olhos.
A portas fechadas, ruídos
Escapam pelos ferrolhos...
Nona
Não me engano nem me iludo
Em descrer dos olhos meus:
O crédulo crê em tudo;
O crente só crê em Deus.
Décima
Isso de escrever poesia
Para uns é café pequeno.
Esses não têm alegria
Nem o semblante sereno.
Décima Primeira
Vez em quando vou à forra
Contra as mazelas da vida:
Mesmo que de viver morra,
Vou fazê-la bem vivida!
Décima Segunda
Eu -- mais dia, menos dia --
Parto desta pra melhor...
Mas fiz tudo o que podia
Com fé, esperança e amor.
Décima Terceira
À custa d'algum versinho,
Perdi a hora vez em quando...
A manhã em que escrevinho,
Cheira a café fumegando.
Décima Quarta
Temo que a estrada da vida
Após muito caminhar
Dê num beco sem saída
Ou mesmo em nenhum lugar..
Décima Quinta
Às letras eu me dedico
Por mais e melhor saber.
Não que me façam mais rico,
Sim me ensinem a viver.