Ruas de Meu Curvelo-Homenagem à Antônia Cleusa
Ó Ruas do meu Curvelo,
Traçadas com simetria,
Cuidadas com tanto zelo:
- sois versos e sois Poesia.
Ó Largo da minha infância,
Que inspira nostalgia,
Olhando assim a distância:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde brincam crianças,
Esparramando alegria,
E semeando esperanças:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde ferve o negocio,
Agitada noite e dia,
Dá uns momentos ao ócio:
-acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde canta a seresta,
Dando à noite melodia
E pondo as almas em fresta:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde existe armazém,
mercado, mercadoria:
verso alimenta também:
– acolhe o dom da Poesia.
Rua, talvez mais letrada,
por ter livraria:
a obrigação é dobrada
– acolhe o dom da Poesia.
Ó Rua dos namorados:
o amor que tanto extasia
se exprime em versos ousados
– acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde sofre o poeta
sentindo a vida vazia
e tendo a alma inquieta
– acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde existe um cinema:
se os filmes são fantasia
e a própria vida um poema
– acolhe o dom da poesia.
Rua, que és só movimento,
Agitação, correria,
Descansa por um momento:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde voam os autos,
Põe um freio à correia
Dos motoristas incautos:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua de bairro ou de centro,
Onde a loja ou padaria:
Nem tudo é prosa lá dentro,
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde existe uma escola
É grande a sabedoria
Que os poetas dão de esmola:
- acolhe o dom da Poesia.
Ó Rua do cemitério,
Há nos versos a magia
Que desvenda teu mistério:
- acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde às vezes há brigas,
discussão, pancadaria,
faze as pessoas amigas
– acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde moram os lares:
para em fontes de harmonia,
a todos eles mudares
– acolhe o dom da Poesia
Rua, onde existe oficina,
operário, energia,
também o verso ilumina:
– acolhe o dom da Poesia.
Rua, onde existe uma igreja
esta paz que ela irradia
bendita e louvada seja:
– acolhe o dom da Poesia.
Por obra de Antônia Cleusa
ganhou a mitologia
novos templos, nova deusa:
As Ruas e a Poesia.