Arreado

Sigo o caminho

Longa é a estrada.

Dobro a curva

E não vejo nada

Subo a ladeira

Desço o rampado

Atravesso a ponte

sobre o rio enleado

O pássaro foge

Do galope dos cascos

E a pedra resvala

Partindo-se em cacos

O cavalo refuga

Pula de lado:

A peçonha de um bicho

Rastejando no prado

Sigo o caminho

Tão longe é a estrada

E de nada adianta

Se não a chegada

Corto campinas

Sob o céu carregado

Se um raio cair

Não espanta meu fado

Se a poeira abaixar

visarei chaminé

Na cidade adiante

A cruz malta da sé

Mas o vento é forte

Dobrando o chapéu

Chicoteia meu lenço

E as folhas no céu

Talvez seja tarde

E a chuva já vem

Se eu tenho pressa

Meu cavalo, também...

Meu cavalo e eu

O peão e o cavalo

O cachorro amigo

No rastro, no calo

Eu e o cavalo

O cavalo, o peão

E o amigo cachorro

Farejando o chão

Na busca do elo

Talvez esquecido

Na fonte, ou na casca

Do pau ressequido

Na sombra da sorte

E do falso sentido

No galope de bote

No ranger do arreio

E da espora no estribo

O arreio é de couro

com arrebites de lata

Na guaiaca, um punhal

Na algibeira, uma prata

Na cabeça, a novena

No coração, uma marca

Da saudade que mata

De um amor de morena...

dfh SP/set-out/98

Tim Holanda
Enviado por Tim Holanda em 14/08/2013
Código do texto: T4434487
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