Arreado
Sigo o caminho
Longa é a estrada.
Dobro a curva
E não vejo nada
Subo a ladeira
Desço o rampado
Atravesso a ponte
sobre o rio enleado
O pássaro foge
Do galope dos cascos
E a pedra resvala
Partindo-se em cacos
O cavalo refuga
Pula de lado:
A peçonha de um bicho
Rastejando no prado
Sigo o caminho
Tão longe é a estrada
E de nada adianta
Se não a chegada
Corto campinas
Sob o céu carregado
Se um raio cair
Não espanta meu fado
Se a poeira abaixar
visarei chaminé
Na cidade adiante
A cruz malta da sé
Mas o vento é forte
Dobrando o chapéu
Chicoteia meu lenço
E as folhas no céu
Talvez seja tarde
E a chuva já vem
Se eu tenho pressa
Meu cavalo, também...
Meu cavalo e eu
O peão e o cavalo
O cachorro amigo
No rastro, no calo
Eu e o cavalo
O cavalo, o peão
E o amigo cachorro
Farejando o chão
Na busca do elo
Talvez esquecido
Na fonte, ou na casca
Do pau ressequido
Na sombra da sorte
E do falso sentido
No galope de bote
No ranger do arreio
E da espora no estribo
O arreio é de couro
com arrebites de lata
Na guaiaca, um punhal
Na algibeira, uma prata
Na cabeça, a novena
No coração, uma marca
Da saudade que mata
De um amor de morena...
dfh SP/set-out/98