Trovas Filosóficas XII

111

Com essa frase me encanta

Tagore, um coração puro:

"Fé é um pássaro que canta,

enquanto inda está escuro".

112

A felicidade existe.

Nós poetas, concordamos.

A pena é que a gente insiste

em pô-la onde não estamos.

113

Se ninguém fez, não foi feito.

Não sei de quem foi a culpa,

pois quem quer arruma um jeito,

quem não quer, uma desculpa.

114

Quem pergunta ao Universo

com toda a sinceridade.

entenderá frente e verso

cada parte da Verdade.

115

Se uma sombra eu posso ver

é porque existe a luz.

Se o olho não perceber,

a intuição vem e conduz.

116

Registre o que for bonito,

que venha de onde vier.

Porque o Amor é Infinito

e o vento sopra onde quer.

117

É meio-dia e o sol brilha.

Sai Diógenes à rua.

Levando lanterna e pilha

procura a verdade nua.

118

Um copo d'água faz bem

pra quem sede está sentindo.

Conselho nenhum faz convém

pra quem não o está pedindo.

119

Verdade desconhecida

é coisa vaga e inútil;

Não liberta a nossa vida

e nos mantém no que é fútil.

120

Acolhe a humildade e ouve:

a arrogância é vã e oca.

Seja o outro que te louve,

jamais tua própria boca.

*

Grata pelas interações:

Cyro Mascarenhas

///. Na vida quem tudo pode,/

nada pode contra a morte//

Que a todos nivela, em ode,//

Ao primado da igual sorte.

*

Oklima

Amigo tem a constância/

do ar. É sempre presente./

Até mesmo na distância/

vive na vida da gente./

Não me pertence a estrada,/

fazê-la não pretendia./

O tempo a deixa estragada,/

depois a deixa vazia.../

A mão que derruba e queima/

o verde vindo do eterno,/

é a mesma, com certeza,/

que levou fogo ao inferno./

A benquerença do amor,/

quando vem, quando acontece,/

provoca risos e dor,/

traz sorrisos e entristece.../

Da descrença sendo o fogo,/

ciúme é réstia ranzinza./

Entrando do amor no jogo,/

só sai nas sobras da cinza!/

Quando o homem se arrepende,/

chorando lágrima lenta,/

joga o laço, pega e prende/

a consciência cinzenta!/