Zé Maia - O Praça popular

ZÉ MAIA O PRAÇA POPULAR

Moço preste bem atenção

Na história que vou contar

Das valentias de Zé Maia

Uma praça bem popular

É este soldado reformado

Já não vive a trabalhar

É pau pra toda obra

Cabra macho de lascar

Faz pena um homem destes

O governo reformar

Por ser este tão vistoso

É destaque popular

Zé Maia é audácia,

Valentia e decisão

Eita praça “brabo”

Pra gostar de confusão

Foi em Cajazeiras

A primeira do sertão

Que esse praça disse:

- Hoje apago o Lampião

Espero há mais de um ano

Esse tal de bandidão

Acabo com seu bando

E recebo a promoção.

Porém se o cabra não chegar

Vou descer pro cabaré

Pra muitas coisas acertar

Acabarei com a valentia

Do bravo que eu encontrar

E a espera só termina

Quando eu me defrontar

Com os negros mais valentes

Que aqui possam morar

Botarei moral em tudo

Até a paz chegar

Como o nome de Zé Maia

O primeiro do lugar

Mais a fama do soldado

Se expandiu pelo sertão

Desembocou em outros Estados

Atingindo o Maranhão

Não foi com muito tempo

Que chegou a Lampião

As alviças do soldado

Mais ousado do sertão

Que morava em Cajazeiras

Esperando solução

De se encontrar com o cangaço

Debaixo ou em cima

De sete palmos de chão

Lampião amedrontado

Por sua vez exclamou:

- Lá sou louco de brigar

Com esse macho tampão

Acaba ele com meu bando

E decepa a minha mão

E depois só por pirraça

A cozinha num caldeirão

Pra servir de tira gosto

Com farinha num pirão.

- Lá com esse cabra

Eu não quero me encontrar

Pois prefiro como estar

Cada qual em sua zona

Com o reinado a governar

Zé Maia que procure outro

Pra suas duvidas tirar

Eu tenho mais do que fazer

Que buscar sarnas pra me coçar.

E desta forma se espalhou

A notícia pelo agreste

Ficando o Soldado Zé Maia

Como valente Cabra da peste

Sua palavra era a lei

Sua ordem era uma prece

Dar até pena de lembrar

Das surras que levaram

Chiquinho, Expedito e Vavá

Um trio de desordeiros

Que não ouso nem contar

Das trapaças que faziam

Antes de Zé Maia chegar

Mas, como a fama acomoda

Zé Maia se agüentou

E ficou a esperar

Que um cabra ali surgisse

E o viesse desafiar

Porém não aparecia

Quem ousasse lhe enfrentar

Cada macho que o via

Sussurrava a se esquivar

Só se ouvia bem baixinho

“lá sou doido pra apanhar!”

O tempo foi passando

Sem ninguém o incomodar

Mas a sorte é mesquinha

E põe o caldo a derramar

Pois um tal de Zé Pequeno

Numa banca a bebericar

Acabou bebendo muito

E findou por se embriagar

Alterou com a velhinha

Sem a conta lhe pagar

Mais a velha disse:

- Zé Maia vem lhe cobrar.

E a mesma terminando

Foi ao soldado procurar

E achando lhe contou

O que se acabara de passar

Pois o tal de Zé Pequeno

Veio disposto a brigar

Logo o encontro se deu

Por volta do meio dia

O Padre rezando missa

Exclamou – Virgem Maria!

Agora a coisa esquenta

Vou logo a paróquia fechar

Pois logo essa briga

Tinha de ser no meu altar.

Contudo o soldado era ordeiro

Esperou a missa terminar

Para acertar com Zé Pequeno

No que é que ia ficar

E de quando no terreiro

Depois de se ausentar

Longe da casa de Deus

Lugar santo é pra rezar

Quando o soldado avistou

O pequeno Zé ligeiro

Foi pra ele se chegando

Parecia gato mateiro

Quando um preá tá caçando

Deu lhe logo voz de prisão

Que o outro recebeu

Com medo de resistir à lei

Pra cadeia ele desceu

O soldado então falou

- Meu compromisso terminou

Hoje você se acerta

Tá pegado é por Zé Maia

O que sempre tá alerta

O defensor da pobreza

Que leva a vida correta.

Zé Pequeno disse – Virche!

E você é quem é Zé Maia

O terror deste sertão

Cabra macho bom de briga

Que zombou de Lampião?

Pois agora num vou mais

Quero ver como é fica

Já que só “vorto” se for pra trás

Se for macho venha a mim

Quero ver se não furo suas tripas

E as frito com “toiçim”

Zé Maia saltando gritou

- Tá besta! Pensa que vai me furar?

Se quiser que vá andando

Ou volte pra bebericar

Pois me lembrei de um compromisso

De que não posso adiar

Tenho mais obrigações

Do que com “bebo” me ocupar

Eu é quem não lhe prendo mais

Mais não ouse espalhar

Se não minha fama se acaba

E me transferem deste lugar

Eu de valente não tenho nada

Vou até lhe confessar

Sou mais mole que gelatina

E não adianta nem tentar

A fama que eu criei

Não era pra me gabar

Mais pra manter a ordem expressa

Sem ter que me aventurar

De ser desmoralizado

E findando por terminar

Apanhar vestido na farda

É coisa triste de lembrar

Pro senhor não mais ousar

Pagarei aquela velhinha

A aguardente que bebeu

Tome por afilhado meu filho

Que eu apadrinho o seu.

E desta forma a história aconteceu

É um registro da história

Do qual o povo nunca esqueceu

Zé Maia é uma lenda

Ainda hoje comentado

Principalmente na caserna

Sua história é do passado

E lá no 6º BPM da Paraíba

Em Cajazeiras sediado

Foi que ouvi esse causo

Que em prosa está narrado.