Persigo o vento - para Mario Macedo
Persigo o vento
Velho vento memorável,
ponderado e compassivo,
com sua lava inesgotável
condor veloz efusivo.
Alma de ânsias e fadigas,
consolador companheiro
de dilatadas cantigas
sinistro deus forasteiro.
Um cego por nascimento
apalpando a terra imensa
a lépido movimento
deforma a nuvem mais densa.
Sopro inédito na viagem
no campo ou na praia ingressa
quando alguém clame selvagem
perturbado em rima inversa.
Depois do trágico adeus
do tédio das árduas horas
no frescor dos braços seus
brinda todos com auroras.
Evocará seus clamores
quem no vento se inspirou
plantando no abismo flores?
Talvez... antes suspirou!
Ventando nas rudes hordas
do hirsuto além trouxe nardos
e vibrando pelas bordas
com suas harpas calou dardos.
Oh viento, lánguido e vago,
ilusas níveas brumas,
em teu compasso divago,
sopro náutico de espumas.
Já sou farta de esas ânsias,
de la inercia me liberte,
não me esqueça nas distâncias
sem tuas mãos em minha sorte.
Por um fio de pensamento
me transforma em errabundo
com teus segredos de vento
de rumo incerto e profundo.