Persigo o vento - para Mario Macedo

Persigo o vento

Velho vento memorável,

ponderado e compassivo,

com sua lava inesgotável

condor veloz efusivo.

Alma de ânsias e fadigas,

consolador companheiro

de dilatadas cantigas

sinistro deus forasteiro.

Um cego por nascimento

apalpando a terra imensa

a lépido movimento

deforma a nuvem mais densa.

Sopro inédito na viagem

no campo ou na praia ingressa

quando alguém clame selvagem

perturbado em rima inversa.

Depois do trágico adeus

do tédio das árduas horas

no frescor dos braços seus

brinda todos com auroras.

Evocará seus clamores

quem no vento se inspirou

plantando no abismo flores?

Talvez... antes suspirou!

Ventando nas rudes hordas

do hirsuto além trouxe nardos

e vibrando pelas bordas

com suas harpas calou dardos.

Oh viento, lánguido e vago,

ilusas níveas brumas,

em teu compasso divago,

sopro náutico de espumas.

Já sou farta de esas ânsias,

de la inercia me liberte,

não me esqueça nas distâncias

sem tuas mãos em minha sorte.

Por um fio de pensamento

me transforma em errabundo

com teus segredos de vento

de rumo incerto e profundo.

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 28/11/2011
Código do texto: T3361846