Ser
Na esplendorosa razão do ser
Nasce o templante do fim das canções
Sou, e relutante, sou sem ao menos saber!
Destas pródigas e vazias menções
Que estes eloquentes líricos revivem
Sobra póstuma a memória dos que vivem.
Sou o assassino, sem entender o por quê,
Como uma lâmina que desliza sobre a floresta,
Escarro na beleza da bel modéstia.
O amor que não vem com o sabor do beijo teu,
Que em parcimônia sutileza canta tua quimera,
Canta a mentira desta quimera que sou eu.
Oh, maldita face do homem — esta fera —
Que escarra as pétalas que são o amor,
Restaurando a fome do hediondo fragor.
Esta que morra, pois há outra face
Face desolada pelo encanto que és canção
É contraste do Ser que resgata o coração
E assim mais uma canção nasce
Do pensante afugentado no esquecido Eu
Que cantarás que Ser, és nosso merecido apogeu.
E quando este canta, o outro definha,
Ainda quero que esta beleza sejas minha!
Pois ambas sabem o bem que és ser teu.
Quem é, e bem sabido da sua condição de sou
Sabe que ser é ser poeta e ser escória
Mas se sei quem sou, decerto serei inevitável memória!