A CRÔNICA

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Estudos Literários

"A crônica é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão de cozinha." (Antônio Candido)

O vocábulo "Crônica" - do Grego, Krónos - mudou de significado ao longo dos séculos. A princípio, designava um relato cronológico dos fatos, isto é, uma lista, relação ou narração de acontecimentos (episódios) históricos organizados conforme a sequencia linear do tempo. Em termos práticos, a crônica se limitava a registrar os eventos, sem aprofundar-lhes as causas ou dar-lhes qualquer interpretação. Dentro dessa característica a crônica atingiu seu ápice após o século XII. Porém, nessa altura a crônica já começava a apresentar uma distinção: as que narravam acontecimentos com a intenção de esclarecer ou interpretar, individualmente, os acontecimentos, mantinham o tradicional nome de crônica. Em contrapartida, as "crônicas breves", isto é, as simples e impessoais notações dos acontecimentos históricos, passaram a denominar-se "cronicões". A partir do século XIX, com o avanço da imprensa e do jornal, a crônica passa a ostentar  personalidade literária. Assim entendida, a crônica teria sido inaugurada pelo francês Jean Lous Geoffroym, em 1800, no jornal Des Débats na forma de folhetim que, entre nós, apareceu depois de 1836. Não tinha, ainda, as características que tem hoje:

“Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana fosse eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino." (FARIA, João Roberto no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar)

De lá para cá, o prestígio da crônica não tem deixado de crescer, a ponto de haver os que a identificam com a própria Literatura Brasileira ou a consideram nossa exclusividade.

A crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. De maneira, que ela é feita com uma finalidade pré-estabelecida: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem. Pelo seu caráter jornalístico a crônica é efêmera e, segundo Sá, (1987, p.10)¹, a crônica, assim como o jornal, nasce, cresce, envelhece e morre em vinte e quatro horas. Por isso, que elas são, posteriormente, reunidas em livros. Assim, os autores dão-lhe um status mais perpétuo.

De assunto livre, regra geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano. Seu motivo, na maioria dos casos, é o pequeno acontecimento, isto é, a notícia que ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira, trivialidades. Mas nem só de uma conversa despretensiosa a respeito do dia-a-dia vive a crônica. Com relativa frequência, ela se aproxima do conto, devido a um tratamento mais apurado aos temas, principalmente no que tange a linguagem (literária). Tanto é que, muitas vezes, é difícil estabelecer as diferenças entre o conto e a crônica, pois, nesse caso, dela também participam personagens; o tempo e o espaço estão claramente definidos e um pequeno enredo é desenvolvido. Essa proximidade é que tem levado vários cronistas à prática mais ou menos disfarçada do conto. No entanto, esta diferenciação só é perceptível àquele com leitura contínua de contos e de crônicas. De qualquer maneira, há certa dificuldade de se estabelecer uma fronteira teórica entre ambos. Contudo, podemos enumerar algumas características da crônica que podem ser confrontadas com as do conto. São elas:

Está ligada à vida cotidiana. Contém um depoimento pessoal, com estilo e pontos de vista individuais. Narrativa informal, familiar, com sentimentos íntimos mais profundos.

Procura reproduzir na escrita a linguagem do cotidiano, ou seja, coloquial, às vezes, carregada de sentimentos, ou de emoção, ou ainda, de ironia, de crítica.

Tem sensibilidade em relação a realidade. Procura a síntese, a brevidade, a leveza de sentido e uma dose de lirismo.

Faz uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade.

Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada.

A crônica teve um desenvolvimento específico no Brasil, não faltando historiadores literários que lhe atribuem um caráter exclusivamente nacional. Realmente, a crônica, como a entendemos, não é comum na imprensa de outros países. Por isso, entre nós, o prestígio da crônica não tem deixado de crescer. Machado de Assis, Olavo Bilac, Humberto Campos, Raquel de Queirós ou Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Rubens Braga, Paulo Mendes, Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Érico Veríssimo e tantos outros, cultivaram-na ou cultivam-na com peculiar engenhosidade, criatividade e assiduidade. ®Sérgio.

Veja Também: (clique no link)

A Crônica e o Conto.

Tipos de Crônica.

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Ajudaram na construção deste texto: Massaud Moisés, A Criação Literária. São Paulo: Melhoramentos, 1966. / Brasil, Assis. Vocabulário técnico de literatura. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d.

Agradeço a você que me honrou com a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.

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