LIT. BRAS. NA ERA COLONIAL
ASPECTOS DE UMA VISÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NA ERA COLONIAL.
Plano dissertativo:
1. Introdução.
1.1. A Literatura no Brasil.
2. Uma visão da realidade brasileira.
2.1. A afirmação de uma possibilidade.
2.2. A negação dessa possibilidade dentro de uma independência.
3. Comparação com a literatura européia.
3.1 Os termos da comparação.
4. Conclusão.
Trataremos de textos que foram publicados em Paris no ano de 1826. O de Ferdinand Denis pertence ao seu “Resumo da História Literária do Brasil”;
o outro, de Almeida Garrett, está no ensaio de apresentação do “Parnaso Lusitano” (“A Quem Ler” e "Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa”). Não se duvida que a publicação e divulgação desses textos fosse fator decisivo -no Brasil e na Europa- para a conscientização da existência de uma “Literatura Brasileira”. Ambos datam de uma época em que já havia certa autonomia do Brasil em relação à “Literatura Portuguesa”. Nessa época havia, em todas as literaturas o desejo de impor-se pela originalidade.
F. Denis enfoca a questão da autenticidade pelo ângulo da necessidade. Coloca ainda o problema de duas culturas diferentes –a brasileira e a portuguesa- sem possibilidade daquela enquadrar-se nesta. Assim cada uma deve seguir “seu caminho”. Isso não impede, porém, uma colocação sua da dependência “Literatura Brasileira”/”Literatura Portuguesa”. E estabelecida em termos de “emprestar glória a Portugal”. ( Amora, A.S. p.59).
A. Garrett faz sua análise em outros termos: “as produções de alguns brasileiros estão enriquecendo a “Literatura Portuguesa”.” (Amora, p.68). Embora a idéia de vinculação esteja da mesma forma presente, parece-nos significativa a oposição: ”emprestar a glória a Portugal" / “enriquecer a Literatura Portuguesa”. Cremos a segunda afirmação bem mais positiva em relação à nossa literatura. É claro que se poderia levantar a oposição de que A. Garrett perde pela subjetividade diante do “compromisso” existente entre as duas Nações. No entanto, como não salientar a objetividade de sua crítica quando aponta, justamente, pontos positivos e negativos de nossa produção literária daquela época?
O inegável em ambos é o relevo dado à possibilidade de termos, já nessa época, uma “Literatura Nacional”. Sua atitude, porém, é confessadamente “paternalista”: um, mostrando a pujança da Natureza, a sensibilidade sempre presente nos elementos formadores da “raça americana”, sua necessidade de satisfazer a imaginação, sua tradição histórica que já se confirma; outro, mostrando a impropriedade do desenvolvimento dos temas, ou mesmo a inadequação entre “majestade da Natureza” e as manifestações efetivamente realizadas. (Amora, p 59 a 68).
Observamo-los, pois, a oferecer com uma das mãos e a tirar com a outra. Ao mesmo tempo atestam a possibilidade da existência de uma “Literatura
Nacional” e não cessam de compará-la a seus próprios moldes. Ficamos sem saber se comparam nossa literatura à deles ou a deles à nossa...
Diz F. Denis (...)”o papel que nos resta representar nesse país é ainda importante; (...) devemos estar satisfeitos de ver uma nação, exuberante de juventude e de gênio, apegar-se às nossas produções literárias, modificar, graças a elas, suas próprias produções...” ( Amora, p. 63). Diante dessa asserção, está sendo afirmada a possibilidade ou a impossibilidade da existência efetiva, nessa época, de uma “Literatura Nacional”? Mesmo A. Garrett, quando afirma que “a educação européia apagou-lhes o espírito nacional” (Amora, p. 68), não estará salientando a supremacia dessa educação sobre a fraqueza do “sentimento de nacionalidade”?
Percebemos da parte dos dois escritores, a existência de uma “constante” comparação em termos de cultura, de educação, e, portanto, de literatura.
Destacamos aqui, pelo menos um problema: o dos termos em que se estabelece essa comparação. O paralelo surge sempre entre a nossa literatura numa dada fase, num determinado estágio de desenvolvimento de nossa civilização e uma literatura européia em outra fase e outro estágio de desenvolvimento de civilização. Parecer-nos-ia mais válida, mais objetiva, uma aproximação que considerasse o período inicial de tal ou qual literatura nacional.
Nesse caso, e somente nesse caso, essa posição poderia ser valiosa e compensadora. A “Literatura Portuguesa” e não acreditamos que seja somente o seu caso, atravessou também um período de influências desde as primeiras manifestações literárias até o surgimento do primeiro romance original português, “Amadis de Gaula”, sendo que sua originalidade é discutida... (Saraiva, A. J. p.19). Como influência recebida nesse espaço de tempo (séc. XII ao XIV), podemos citar a dos provençais, nas “cantigas de amor” e a dos bretões, nos “romances da cavalaria”. Somente aos poucos foi se estabelecendo uma tradição histórica e lingüística, que finalmente permitiu a existência de uma “Literatura Nacional”. Não poderia ocorrer o mesmo com a “Literatura Brasileira”?
No plano brasileiro, G. Magalhães aproxima-se dos dois autores analisados; Machado de Assis, por outro lado, distancia-se deles conquanto seja lúcido e procure deixar patente o “sentimento de nacionalidade” dentro da nossa literatura. Torna-se importante notar que o texto de M. de Assis é mais recente. Além disso, M. de Assis conta com sua experiência como escritor e com uma tradição histórica e cultural melhor estabelecida.
Esta nossa análise é breve e não cogita diminuir o valor ou a importância dos textos de F. Dinis e de A. Garrett. Se assim fosse estes comentários não teriam razão de ser.
Nilza Aparecida Hoehne Rigo
Bibliografia:
AMORA, Antonio Soares: A Literatura Brasileira. 4ª ed. São
Paulo, Cultrix, 1973.
ASSIS, J.M.Machado de: Notícia da Atual Literatura Brasileira:
Instinto de nacionalidade.Em seu: Obras Completas. Rio
Janeiro, Aguilar, 1962.
CANDIDO, Antonio: Literatura e Sociedade: estudos de teoria e
história da literatura. 3ª ed. revista. São Paulo,Ed. Nacio-
nal.1973
MAGALHÂES, D. J. Gonçalves de: Discurso sobre a história da
literatura no Brasil. Em seu: Opúsculos Históricos e Lite
rários.
SARAIVA, Antonio José. História da Literatura Portuguesa. 8ª
ed. revista. Lisboa, Publicações Europa-América, 1965.