Curso Diálogos Contemporâneos - Julián Fuks - O romance e seus paradoxos - minhas notas de aula

Tese: como as ideias propostas pelos romancistas foram se transformando ao longo do tempo.

* (In)definições de romance. *

Pendor/tendência ao realismo, para além da imitação/cópia, sendo superior ao real.

Tem que dar conta do que acontece no seu tempo.

Representação da experiência humana, múltipla, complexa, paradoxal, conflituosa.

* Zona de tensão: entre o real e o Realismo! *

Surge o Romance quando cai a noção de Deus, de fatalismo religioso, quando as vidas se tornam mais livres, fazem suas escolhas, fazem seu Destino.

"Um ser que parte pelo mundo em busca de si mesmo."

A ideia é que se pode concluir algo sobre todos, sobre a sociedade, sobre a Humanidade, a partir da vivência de um indivíduo, representativo, gerador de identificação humana.

Nomes comuns (não nomes míticos ou reveladores de personalidade) para personagens indicam que são pessoas comuns. Tipo uma "falsa biografia" de gente comum.

Descrição de espaços comuns reconhecíveis pelos leitores.

Menção de pessoas, obras, fatos reais dão realismo.

Simplificação da linguagem, sem uso de figuras de linguagem, tipo linguagem de jornal, que também estava nascendo.

Isso tudo é realismo formal.

Outra fase: negação do romance - paródias, linguagem lírica, fantasia, irrealidade.

* Zona de tensão: interioridade heroica versus infâmia prosaica. *

O primeiro romance na definição acima seria "Robinson Crusoé" (século 18 inglês, ainda não moderno), e não "Don Quijote" (século 17 espanhol, nem um pouco moderno). Indivíduo self-made man burguês, e não fildalgo aristocrático que já tem "boa fortuna" de berço. Proposta dos autores (tanto Cervantes como Defoe) não de escrever ficção, mas sim de organizar uma biografia (com manuscritos encontrados, ou cartas ou diários).

Só no século 19 francês, depois da revolução, efetivamente na Modernidade, com Stendhal e seu Julien Sorel de "O Vermelho e o Negro", que surgiu o romance - o indivíduo em conflito com o mundo, tentando desenvolver sua ambição de fortuna, e se dando mal. Momento do romance do pessimismo, com a desilusão da revolução, de que a liberdade existiria, que o mundo iria melhorar.

* Zona de tensão entre continuidade e ruptura. *

"Romance"=romanesco, "Novel"(novo)=romance

"Romancear"=contar/explicar as coisas na nossa própria língua românica (e não em (ou traduzindo o) latim da igreja ou da Bíblia)

Evolução por ruptura. Stendhal, Balzac, Flaubert, Proust, Joyce/Virgínia, Beckett,...

* Zona de tensão: moralidade, política, engajamento, ideologia, "mensagem". *

Referências ao "efeito nocivo da leitura" nas pessoas. Pedagogia dos atos, dos afetos... retrato das pessoas "como são" versus "como devem ser". Machismo, mocinhas em apuros, abismo de diferença entre os gêneros.

Quando o romance dá punição para os maus, já deixa de ser realista.

Sartre, em "O que é literatura", defende a responsabilidade de quem escreve, no uso dos significados das palavras. Pq sempre se toma partido, sempre se passa mensagem, sempre se é pedagógico/moralista.