O POEMA PROSAICO II

F.M., poetamigo! O assunto ou temática do texto ora apresentado, no meu entender, é válido, oportuno e conveniente, a ser muito bem recebido pelos que são afeitos à temática da pena de morte, com a qual eu não concordo, por formação humanística. Uma abordagem que interessa socio-politicamente à humanidade; no caso, uma sanção draconiana do campo do Direito, relativa à aplicação da lei penal.

Vejamos, agora, a questão de fundo e forma. Afinal, estamos frente a uma peça verbal lavrada, a rigor, em que gênero? Poesia ou Prosa, apesar de estar apresentada em versos? Este formato, por si só, não significa que estamos frente a um poema com poesia, correto? E em que momento textual encontra-se a necessária codificação – a linguagem CONOTATIVA que caracteriza a presença do gênero Poesia no ventre da peça?

Os versos da presente são todos lavrados em linguagem DENOTATIVA, a qual é característica da Prosa, e não da Poesia, como especificidade literária. No presente caso, há um discurso derramado, fácil de ser entendido, típico do prosaico, e sem a utilização de figuras de linguagem. O problema é que, sem a presença delas, no texto, especialmente as METÁFORAS, não há como se falar em poema com Poesia, entendes?

O gênero literário Poesia sempre contém um discurso com certo hermetismo, o que faz com que o leitor tenha vários entendimentos pontuais ou não. Afinal, o que importa é aquilo que o poeta-leitor acata como veraz para si próprio e, consequentemente, o toma para si como se fora de seu domínio e autoria, afastando psiquicamente o poeta-autor. Nesta formulação, existem as metáforas (palavras autonômicas com a subversão do sentido do vocábulo original) e outras, por mim denominadas “metáforas de imagem”.

Ora, na peça verbal que me enviaste nenhuma delas comparece, pois a linguagem utilizada é linear, explicativa, induvidosamente prosaica. Porém, como existem espécimes (o ser humano é livre na concepção artística) que não obedecem às comuns e usuais teorizações estético-literárias, podemos considerar que aqui temos um exemplar híbrido entre prosa e poesia, vale dizer, uma prosa formatada em versos, a que alguns autores chamam POEMA EM PROSA, por estar apresentada em versos.

Caso preponderasse o fraseado prosaico, denominaríamos o mesmo de PROSA POÉTICA. Como alguns versos estão excepcionalmente longos, sugiro versos mais curtos. Recomendo que suprimas as letras maiúsculas no início de cada verso, e optes pela linguagem contemporânea, só utilizando letras maiúsculas quando inicia uma nova sentença verbal, a exemplo das frases componentes de qualquer texto prosaico.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO, vol. 02. Obra inédita em livro, 2016.

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