ESCOLA SIMBOLISTA - ORIGEM

Oficialmente o Simbolismo começa em 1857 com o lançamento do livro Fleurs du Mal, “Flores do Mal” do poeta francês Charles Baudelaire. Mas encontramos reminiscências do Simbolismo em poetas ingleses como Wordsworth e sua musicalidade, e no voos imaginativos de Coleridge e Shelley. Dos poetas românticos quem mais influência exerceu nos simbolistas foi Edgard Allan Poe. Sua forte inclinação para o domínio tecnicista da poesia, sua ênfase à música e desapego do didático, mais que outros fatores já encontrados nos românticos, fascinaram os primeiros simbolistas. Baudelaire foi tradutor para o francês dos trabalhos de Poe, e o primeiro francês a chamar atenção para o trabalho do poeta estadunidense.

Além de Poe, o cientista e místico sueco Emmanuel Swendenborg, que já havia influenciado gerações de poetas românticos, também seduziu os simbolistas. Dizia que das menores às maiores coisas da natureza estariam correspondentes, e esta correspondência se deve ao fato de que no mundo natural, com tudo nele contido, existe e se mantém graças ao mundo espiritual, e os dois, graças à Divindade. Com uma diferença. Enquanto os românticos almejavam as belezas do paraíso no além, o simbolista, também espiritualista, queria a Terra por sua meta e paraíso. Baudelaire levou a ideia de correspondência ao extremo com o soneto-síntese da teoria: Correspondances, “Correspondências”.

A origem do caldo cultural que propiciou o surgimento desse movimento se deve, primeiramente, ao modelo de sociedade que a Revolução Industrial estava moldando desde sua intensificação no início do século XIX. A revolução iniciada no século XVIII estava colhendo seu apogeu com o grande aumento da produção de mercadorias e vertiginosa automatização da indústria. Como o desenvolvimento industrial estava entrelaçado com o aperfeiçoamento científico e sua rápida aplicação tecnológica, a visão de mundo da sociedade começou a ser modificada. Começava o nascimento da razão científica materialista, que buscava explicar os fenômenos da natureza através do Positivismo de August Comte, da evolução através de Charles Darwin entre outros pensadores.

Outro ponto que influenciou a gênese do Simbolismo foi a interpretação de Arthur Schopenhauer do mito hindu Maya, em que na concepção do filósofo de "O Mundo como Vontade e Representação", o mundo é uma “representação” dos sentidos e a “vontade” é a força cega que impulsiona o ser para adiante. Assim, quando impulsionado pela vontade, o ser acaba descobrindo o mundo apenas como ilusão. Desta forma, o conhecimento científico genuíno é aquém de seu objetivo final, sempre imerso num véu. No sistema de Schopenhauer vemos se desmitificar o esforço e a ideia de competição, não há algo lá para valer o esforço da chegada, nunca iremos ter o verdadeiro conhecimento. A par disso, Schopenhauer introduz o pessimismo e a dor como fundamento da existência, o que seriam o corpo dos temas simbolistas. O sofrimento, segundo o filósofo, ocorre quando através do querer, o homem pretende ir além da representação.

Também estava em voga à época as ideias de Eduard von Hartmann no que concerne sua filosofia do inconsciente, que postula ser impossível chegar à realidade última dos sentidos. Conseguindo desta forma mostrar ser inviável o conhecimento do Universo, sua origem e motivo de ser. O que é aparente é fruto de ilusão, a causa primeira é inabordável e obscura. Colocando assim de lado toda tentativa científica de descoberta. Esse nível de desprezo aos métodos científicos de investigação chega ao ápice com Henri Bergson. Para o filósofo francês a inteligência é caracterizada por uma incompreensão natural da vida. Já a intuição apreende o objeto num todo, dentro do fenômeno dinâmico da existência. Portanto, superior.

Pelo que vimos, o novo modelo de sociedade propiciado pela Revolução Industrial e seus malefícios avolumados à crescente dúvida quanto à satisfação plena do método científico em sanar as questões sobre o real, construíram a instauração de uma sociedade em crise. O homem que se sentia pleno de uma razão que tudo podia dizer sobre a natureza, produto de sua revolução tecnológica, não mais podia afirmar com veemência sobre isso, e se sentia abandonado por forças que desconhecia, levando-o ao desalento.

Assim, dada a insuficiência de seu querer, este o despreza. E o artista da época colhe passivamente sua indiferença diante da vida. Daí é fácil concluir do hermetismo das construções simbolistas e os rótulos de que os poetas dessa Escola moravam em “torres de marfim”. Recusando-se a participar das atividades sociais do momento, indo à busca do exotismo oriental e por arcaísmos de toda espécie. E também dos artistas de fim-de-século, chamados capciosamente de decadentistas, se voltarem profundamente em busca do artificial na vida.

Este movimento insólito dos decadentistas acaba produzindo duas vertentes relacionadas entre si; uma mais voltada aos problemas existenciais: o Decadentismo, que não obteve uma filosofia mais clara e uma militância teórica profunda. E outra, o Simbolismo, de muitos teóricos, que chega a absorver o Decadentismo sob a atitude passiva e de entrega do poeta ao culto exotérico, da linguagem divinizada em fuga do mundo então visto como deserto de sentido.

Referência

WILSON, Edmund. O castelo de Axel: estudo acerca da literatura imaginativa de 1870-1930. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1971.

MORETTO, Fulvia M. L. Caminhos do decadentismo francês. São

Paulo: Perspectiva; Edusp, 1989.