DE VOLTA AO LAR
“Julho, quando chega esse mês e as árvores de desnudam e nós nos vestimos mais. Em julho, reinos se constróem e reinos desmoronam. Como o meu!
Foi quando à conheci. A cidade estava incandescente como amantes, e eu fitei aqueles olhos azuis. E a cidade brilhou, mais brilhante aquela noite que qualquer dia.
Conversamos e decidimos que no dia seguinte iríamos nos encontrar... Sadie, esse era seu nome.
Sadie me encontrou e passamos a tarde e a noite juntos, mas só no outro dia fui descobrir que estava apaixonado. Ela confessou que não entendia o que estava acontecendo e decidimos deixar rolar.
O tempo passou e tive que viajar e quando finalmente voltei Sadie rolava nas ruas e só ela sabe as pessoas e as histórias com quem se encontrava desde a morte do pai.
O pai dela havia falecido enquanto eu estive fora e ela não teve forças para seguir sozinha... Uma garota entre os lobos.
Ela tentou ser boa filha e garota. Só que não conseguiu e agora ela se encontra no quadragésimo oitavo andar e está tentando descobrir porque ainda está vivendo.
Quando cheguei ela chorou e disse o que tinha feito e se eu poderia perdoa-la. Não respondi, apenas abri meus braços e descemos juntos. aquilo não foi só uma vitória dela, mas minha também.
Novamente naquela noite a cidade ardeu em chamas. Uma chama apaixonada que conhecia meu nome e desejava me queimar mais e mais. Está nas ruas, no ar e em todos os lugares e quem quisesse viver aquilo que viesse comigo.
Estava tubo bem, só que eu sentia que minha pequena cidade já não me interessava mais. Eu buscava conhecimento, então decidi que iria sair de casa. Minha mãe chorou, meu pai espantado sentou-se no sofá e ficou mudo. Depois de alguns minutos ele me disse que sempre estaria ali se eu precisasse voltar.
Então segui meu rumo, e de longe as montanhas da minha terra desmoronaram ou desapareceram. Nem uma lágrima sequer caiu dos meus olhos. Não, eu não poderia me entregar. Não agora que eu estava tão longe de casa. E se eu poupar meu amor que o poupe todo... As lágrimas jamais cairão. Que essa noite empurre todo meu desespero para bem longe, seu eu pudesse jogar ao vento, todo o modo de vida sem vida, eu jogaria e também levaria com ela a solidão e a saudade...
Saudade dos meus pais, de Sadie. Se eu pudesse, através de mim mesmo, libertar meu espírito, eu o guiaria para bem longe desse sentimento que preenche meu coração.
Quando chego a durar dois anos longe dos meus, mando um telex avisando onde estou e que estou bem. Mas o retorno não é nada bom. Minha mãe está morta... Eu decido voltar.
Uma volta ao lar, só que triste. Sinto um vazio percorrendo todo meu corpo. Quero correr, quero me esconder, quero chorar e grita, mas só consigo ficar parado vendo uma nuvem de poeira formando-se onde as ruas não tem nome.
Vejo um obstáculo à minha frente, um obstáculo fincado como espinhos em meu coração. Minhas mãos estão atadas e minha alma está cheia de cicatrizes. Nada a conquistar e nada a perder. O telex ainda está em minhas mãos e pela nona vez eu lei que minha mãe morreu para defender seu lar. Ela foi encontrada numa poça de sangue, estendida sobre hematomas... Ouvir as árvores chacoalhar é como ouvir meu pai chorar... Só lá pela meia noite e que descido de verdade voltar para casa. Ver o que sobrou do meu único e verdadeiro lar.
Voltei para minha terra natal, quase anda mudou, só eu.
Cheguei em casa e meu pai estava lá, sentado sozinho na varanda de casa. Quando me viu a alegria de seus olhos fizeram a luz daquele dia cinzento. Conversamos e choramos juntos. Que saudades!
Fui ver o túmulo de minha mãe e não pude parar de sentir falta dela. Meu Deus nunca me senti tão triste. Meu pai atrás de mim também chorava, mas o que vi em seguida me trouxe alegria...
Sadie. Ela caminhava em minha direção e estava acompanhada de uma garotinha, seus passos ainda eram belos e aquilo me elevou ao céu.
Conversamos muito e ríamos muito, o dia passou e eu nem senti. O difícil foi a despedida. Meu pai me olhou com tristeza e sem dizer uma palavra se quer entrou em sua casa e eu nunca mais o vi. Sadie estava triste, mas sóbria, me deu um beijo e levantou Lena, sua filha para que eu pudesse beija-la... Meus olhos expressavam minha dor e eu apenas acenei um adeus.
Moro na metrópole há 50 anos e vivo recordando meu passado e o que eu poderia ter mudado... É ele poderia ter sido mudado, mas não para melhor.