A VELHA DOS POMBOS

Ruas estreitas, de esquinas assimétricas,

Lá vai a velha andrajosa, catando comida

Do chão que lhe resta; fileiras simétricas,

Dum rosto ainda lindo, inda que sem vida.

E todos os dias a mesma, atroz ladainha;

Fala de um passado já esquecido, senão

Inquietante, burlesco; diz-se aqui rainha,

Joelhos no chão buscando côdea de pão.

As roupas, são puros farrapos de tecidos

E, o suor, é tão horripilante como catinga;

Que lhe importa isso, de pés carcomidos.

Corre Lisboa cá e lá; dá pão aos pombos;

Enquanto aí soletra, antiquíssima, cantiga,

Bem no meio duns quaisquer escombros.

Jorge Humberto

11/01/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 18/01/2008
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