TRAÇO A TRAÇO
Traço a traço me risco e me confisco,
Traço a traço me faço e me refaço,
Mesmo d’ontem, já não sou neste espaço,
Procurando ser melhor neste aprisco.
Sei que nessa construção sofro o risco
De mover inutilmente o meu braço
E fazer, com estrago, um novo traço
E riscar-me das virtudes que persisto.
Assim faço o desenho de mim mesmo,
Buscando não fazê-lo, torto, a esmo,
Procurando a melhor versão de mim...
Sabendo que jamais será completa
A versão rabiscada do poeta,
Perseverante, na vida, até o fim.
— Antonio Costta