AMPULHETA
Um dia, às vezes, tem horas demais
E as noites, se prolongam mais ainda,
A semana parece que não finda
E os meses nunca ficam para trás.
No tempo lento tudo se desfaz
Como se a vida não fosse bem-vinda
A quem a solidão ronda e brinda
Com as recordações de horas más.
Os desenganos todos num punhado
Estão no grão de areia do passado
Solto no ar, e sem cair na âmbula.
E na ampulheta de um amor desfeito
Vão-se as horas, e em ritmo imperfeito
Até o próprio tempo sonambula.