NO DESERTO
Num deserto eu vivia árida vida,
Faminto e sedento, quase à morte,
Mas quando ela surgiu, benzi a sorte
De ter a penitência reduzida.
Encheu-me de carinho, água e comida,
Deixando-me o corpo são e forte
A alma que sem luz, antes perdida,
Clareando a existência, ganhou norte.
Mas de alguns o destino sempre cobra
E a água que me deu era salobra
E a comida, o que de outro restou.
De novo, sob a ardência da areia,
Lamento cair sempre numa teia
De miragens no oásis do amor.