CEGA (gótico)
I
Sendo a minha tensa fraqueza
A falta que me fazes presente
Imagino ser bela a tua frieza
Calor n'um coração dormente
O verde do teu olhar é frio
Reticentes são teus carinhos
Sinto felicidade no parco cio
Sou de ninho e tu de caminhos
Frouxos são os nossos laços
Beijo rápido versus abraço farto
Chão plantado contra largos passos
Os nossos quereres são divergentes
Só que dentro de mim sou cega
Enxergo apenas instantes ardentes
II
O mármore que te reveste
Frustra meu amor maleável
A face umedece em vielas
Tua desfaçatez é tão palpável
Vivo na tumba fria da ilusão
Cega de paixão não percebo nada
A relação se esvai na contramão
Sexo mudo n'alma calada
Dedilho rosários de esperança
Tu desafinas a minha sintonia
Verso em riste d'uma triste poesia
Os amigos alertam sobre os muros
Não vejo nada que me apontam
Sou carne solta sobre ossos duros
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