Soneto da saudade
Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
(Soneto da saudade, Guimarães Rosa, Minas Gerais, 1908-1967)
Se acaso tu sentires algum dia,
Da saudade, os punhais de finos gumes,
As lâminas dentadas, os relumes,
Da mágoa transmudada em nostalgia...
Se acaso eu te encontrasse eu te diria
Que sinto em minha tez os teus perfumes,
E fico feito pássaros implumes,
No ninho solitário da poesia.
Se acaso eu te encontrasse pela rua,
Diria que no sangue meu estua
A tempestade da paixão sem fim.
Se acaso me buscares só, lascivo,
Verás que a cada instante está mais vivo
Aquele antigo amor que habita em mim.